Honra entre adversários

Homem que é homem sabe respeitar o outro mesmo nos maiores embates

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O americano Robert “Bob” Van Osdel e o canadense Duncan “Dunc” McNaughton eram colegas do time de salto com vara da universidade em que estudavam. Dunc tinha dificuldades no salto lateral, em que o atleta pula de lado com um chute no ar, o corpo “segue” o pé e passa sobre a barra. Bob o ajudava a aperfeiçoar a técnica. A cada quatro vezes que os dois competiam, o americano vencia três.

Ambos foram convocados para a Olimpíada de 1932, em Los Angeles (EUA), cada um por seu país. E os dois se encontraram nas finais.

Nesse esporte, o atleta tem mais de uma chance de saltar, caso toque ou derrube a barra. Ao tentar um salto lateral, Dunc derrubou a barra. Quando ele se preparava para a segunda chance, Bob foi até ele e o aconselhou sobre como melhorar o movimento. Só então Dunc percebeu onde estava errando, muito por cansaço e tensão. Ele se concentrou, seguiu a orientação do colega e passou. Bob, então, lhe lançou um franco sorriso, orgulhoso do amigo.

Era a vez de Bob. O rapaz falhou em suas tentativas e derrubou a barra. Então, a medalha de ouro era de Duncan McNaughton. Bob poderia ter se valido do erro do colega para ter o primeiro lugar, mas, em vez de ficar quieto, deu-lhe a dica que valeu o ouro. Dunc, por sua vez, poderia ter deixado a emoção da disputa cegá-lo, deixando de confiar na dica, mas foi humilde.

De fato, “o orgulho do homem o humilha, mas o de espírito humilde obtém honra”, como está em Provérbios 29.23, e aqueles atletas seguiram na prática esse conselho bíblico. Mesmo em guerras, alguns exemplos de respeito pelo outro lado aconteceram, como atesta a História. Então, por que o mesmo não pode acontecer nos dias atuais? É comum vermos pessoas irem “às vias de fato” por terem ideias diferentes. E o que ganham com isso? Nada. A violência sempre destrói qualquer chance de entendimento. Em conversas, vemos homens querendo “vencer” o argumento do outro, quando, na verdade, eles deveriam estar buscando compreender a razão pela qual o outro pensa assim. E, se discordarem, tudo bem.

Portanto, mesmo em ambientes competitivos, como o trabalho, a política ou os esportes, o verdadeiro homem respeita o adversário e não faz dele um inimigo a ser abatido.

Bob e Dunc tornaram-se grandes amigos. Serviram na Segunda Guerra e voltaram vivos. Certa vez, roubaram a medalha de Dunc e Bob mandou fazer outra usando a sua, de prata, como molde. Bem mais tarde, em uma entrevista, Dunc resumiu essa história: “Posso ter conquistado o ouro naquele dia, mas Bob provou do que são feitos os campeões”. É desse verdadeiro “espírito esportivo” que são feitos os homens. Quem “leva para o lado pessoal” a disputa já a perdeu, porque o verdadeiro homem respeita seu adversário e dá o melhor de si em busca da vitória.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty images