Você percebeu que está tendo problemas de memória?

Veja como a pandemia impactou as conexões cerebrais até mesmo de quem não teve Covid-19

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Uma pesquisa divulgada em fevereiro deste ano pelo Instituto do Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), aponta que oito em cada dez pessoas que tiveram Covid-19 apresentaram algum tipo de alteração de memória, na capacidade de atenção e na percepção do mundo depois da cura da doença. Contudo alguns pesquisadores verificaram que o mesmo aconteceu também com pessoas que não tiveram Covid-19 e que isso foi consequência do isolamento social.

Para Cássio Batista Lacerda, médico do sono e neurologista do Hospital Moriah, em São Paulo, para tentar entender o que está acontecendo é preciso antes saber que a memória se forma a partir de conexões entre os neurônios: “são as chamadas sinapses e ela depende das experiências do indivíduo com o meio externo a partir de diversos estímulos, como os visuais, auditivos, gustativos, olfativos, táteis ou sensitivos, ou de experiências que envolvam a emoção, que podem ter sido agradáveis ou não”, explica.

Segundo Lacerda, as pessoas que não tiveram Covid-19 podem estar com problemas de esquecimento por causa de dificuldades de concentração e perda de habilidades que eram influenciadas pela rotina. “As pessoas ficaram em distanciamento social e surgiram dificuldades para se comunicar e até para reconhecer os rostos das pessoas. Elas perderam o estímulo que recebiam de diferentes ambientes e isso trouxe modificações em áreas do cérebro.”

Para a médica Ana Vicenzi, CEO & Founder da Telehybrida, sequelas neurocognitivas estão sendo muito frequentes. “Elas se manifestam na perda de memória, falta de clareza mental, distração fácil, diminuição da capacidade de concentração, fadiga, nos distúrbios do sono, transtornos ansiosos e depressivos. Estudos mostram que o Sars-CoV2 e outros coronavírus podem se alojar no tecido nervoso e ficar ali em estado latente. Essa capacidade somada à inflamação que ocorre no sistema nervoso central pela presença do vírus pode ser uma das causas dos distúrbios de memória”.

Ela acrescenta que o estresse e a ansiedade também geram problemas de esquecimento: “o estresse provoca a liberação de cortisol de forma excessiva, o que pode causar alteração em algumas regiões do cérebro onde são armazenadas as memórias. A ansiedade, por sua vez, leva a um estado de ativação de áreas do cérebro que provoca falta de atenção e problemas de concentração”.

Lacerda cita alguns cuidados que podem ser adotados: “para todas as pessoas, é indicado manter atividade física aeróbica regular, principalmente ao ar livre, além de alimentação equilibrada, pois ela evita que o problema surja ou piore e é uma das bases do tratamento.

Não se isolar do mundo pode ser uma chave para reverter o problema”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes - Arte: Edi Edson