PT ignora a norma culta da língua portuguesa e vai ao STF questionar decreto que proíbe o uso de pronome neutro em Santa Catarina

Na ação, o partido deixa de lado outras necessidades, realmente, importantes à educação brasileira, em nome de uma cartilha ideológica

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Recentemente, o Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, no Supremo Tribunal Federal (STF). A ação é contra o governo do estado de Santa Catarina e o decreto estadual 1.329/2021.

O decreto proíbe instituições de ensino catarinenses, sejam públicas ou privadas, de adotarem o pronome neutro, assim como também veta que órgãos públicos utilizem o pronome neutro em documentos oficiais, pois são contrários às regras gramaticais consolidadas e ensinadas em todo o País.

Contudo, ignorando a língua portuguesa, o PT acredita que a medida adotada pelo governo catarinenses fere princípios da igualdade, não-discriminação, direito à educação e dignidade humana.

Fantasiado de luta contra o preconceito e inclusão, o pronome neutro foi criado por militantes progressistas e tem como objetivo mudar os pronomes para que eles não tenham gênero. Segundo eles, muitas expressões, presentes na norma culta na língua, são machistas e não-inclusivas. 

A sugestão dos esquerdistas é que as letras “a” e “o” sejam substituídas pela letra “e”, ao final de adjetivos. Por isso, segundo o gênero neutro na língua “ele” e “ela” se tornariam “ile”. Portanto, a frase: “Eles são amigos” se tornaria “Iles são amigues”. 

O uso de pronome neutro tem ganhado espaço, principalmente, entre jovens, que têm ignorado a forma culta da língua, para abraçar uma ideologia imposta por movimentos esquerdistas, na tentativa de ter uma sociedade inclusiva, especialmente, nas escolas.

Contudo, em meio à discussão se haverá gênero neutro na língua portuguesa ou não, a inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência, por exemplo, parece não ser importante para essas pessoas. 

De acordo com Censo Escolar, divulgado em 2019, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 38,6% das escolas públicas de ensino fundamental têm banheiros para pessoas com necessidades especiais.

Ainda segundo o Censo, apenas 28% das escolas públicas de ensino fundamental e 44,7% das particulares possuem dependências adequadas para pessoas com necessidades especiais.

Segundo a União Mundial de Cegos, que representa mais de 250 milhões de pessoas com deficiência visual em mais de 190 países, apenas 5% das obras literárias do mundo são transcritas em braille. Nos países pobres a porcentagem é de 1%. 

Um relatório da Unesco também apontou que quase 260 milhões de crianças não tiveram acesso à educação, em 2018. Segundo o relatório, a maior causa é a pobreza.

No Brasil, segundo um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) 1,4 milhão de crianças entre 6 e 17 anos estão fora da escola. A pesquisa ainda estima que 5,5 milhões de crianças e adolescentes ficaram sem acesso às atividades escolares em 2020.

Mas, mesmo diante de um cenário ainda desfavorável aos que, realmente, precisam de inclusão, a esquerda e seus representantes parecem ignorar essa população em nome de uma cartilha ideológica de gênero. 

Isso é visto pelo histórico das pautas que o partido defende pelo Brasil. Este mês, por exemplo, a Câmara Municipal de Olinda (PE) aprovou um projeto de lei de autoria do vereador Vinicius Castello, do PT, em que autoriza o uso de nome social para a população LGBTQIA+.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, a professora de português e colunista da revista Forbes, Cíntia Chagas, esclareceu que a língua portuguesa já contempla o gênero neutro. 

“No latim, nós tínhamos a terminação em ‘U’ que representava o gênero neutro. Quando o latim deu origem ao português, o masculino passou a compreender o gênero neutro. Por isso que, quando eu digo ‘boa noite a todos’ estou me referindo a homens e mulheres. Além disso, substituir as letras ‘a’ e ‘o’ ao final das palavras por ‘e’ com a prentensão de neutralizar o gênero é uma grande bobagem porque é algo totalmente arbitrário. Por exemplo, a palavra ‘pente’ termina em ‘e’ e continua sendo um termo masculino”, concluiu.

Além disso, segundo a professora, “o uso da ‘linguagem neutra’ prejudica o aprendizado nas escolas e não inclui ninguém”. Segundo ela, a utilização de gênero “atrapalha a compreensão das pessoas que têm dislexia, confunde os surdos que se comunicam através da leitura labial e atrapalha os cegos que leem através de softwares, já que os aparelhos precisariam ser reconfigurados para abarcar o dialeto.”

Enquanto alguns representantes no Brasil tentam empurrar essa ideologia, em maio deste ano, o Ministro da Educação da França, Jean-Michel Blanquer, encaminhou um comunicado proibindo a utilização do pronome de gênero neutro no ensino francês. 

Segundo o comunicado, o gênero neutro na língua, “não é apenas contraproducente para este movimento, mas prejudicial à prática e inteligibilidade da língua francesa”.

“A academia francesa concluiu que, esse tipo de linguagem, ‘iles’ ‘ilix’, ‘amigues’, não combate preconceito nenhum, só deixa a coisa ainda mais ridícula e é preciso que o governo, as autoridades, tomem alguma medida”, comentou a deputada estadual por Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo, em vídeo postado em sua rede social. 

A deputada ainda pontuou que “essa é uma questão de cultura e de história”, pois “a formação de um país se dá pelo território, pelo povo, pela religião e pela língua e destruir a língua de um povo é destruir a identidade natural desse povo”, completou.

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Colaborador

Rafaela Dias / Foto: iStock