thumb do blog Cláudio Soares – Empresário
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Cláudio Soares – Empresário

 

 

 

Sou o Cláudio Soares. De morador de rua, tornei-me um empresário de sucesso. Eu sou a Universal!

 

Como pode alguém, acostumado a ser tratado como bicho, voltar a ser gente?

 

Minha mãe me jogou fora

 

Foi logo após meu nascimento. Minha mãe, que já era casada, teve um caso extraconjugal e engravidou. Foi assim que eu nasci. Encarado como um problema, ela decidiu se livrar de mim de uma vez por todas, e, por isso, desde cedo precisei morar nas ruas.

 

À medida que fui crescendo, por muitas vezes busquei abrigo na casa dela, mas em todas fui enxotado. Quando estava com oito anos, em mais uma das minhas tentativas, ela me agarrou pelos braços com uma fúria inexplicável, lançando-me porta afora. Quando me levantei do chão, cambaleando, mal conseguia entender o que estava acontecendo. Ainda muito inocente, alimentava em mim a certeza de que tudo não passava de um castigo, e que um dia seria aceito, entretanto, isso nunca aconteceu!

 

 

 

 

A noite na rua era assustadora. Um frio intenso, mas ele não chegava a me incomodar tanto, afinal, o medo era maior. Eu chorava sem parar, pois começava a entender que estava sozinho no mundo. Nas ruas, muitas pessoas passavam por mim, apressadas, comendo, conversando… Mas ninguém enxergava aquele garoto negro, magro, amedrontado e faminto. Era como seu eu estivesse invisível.

 

A única alternativa foi me unir a um grupo de mendigos. O cenário era sempre o mesmo: sujeira, comida estragada matando a fome de muitos, vícios, briga por qualquer coisa, cheiro forte e desagradável. Cada segundo de vida para mim era um verdadeiro tormento: chutes, pontapés, socos… Minha rotina era apanhar todos os dias.

 

 

 

 

Porém, pior do que apanhar de estranhos, era sofrer na mão de gente da família… Lembro de uma vez que um tio me pegou vendendo picolé na rua. Ele me levou na fábrica para devolvê-los. O dono me pagou um pequeno valor pelas vendas e esse tio tomou tudo… Com o dinheiro, comprou um cinto, um aparelho de barbear e uma garrafa de álcool. Ele me deu uma surra com o lado da fivela. Meu sangue descia sem parar… Depois raspou minha cabeça, jogou álcool e saiu… Foi aí que uma senhora me socorreu, horrorizada com a cena, pensando que eu fosse morrer. Eu também pensei que aquele seria o último dia da minha vida.

 

 

Quando me entreguei ao crime

 

Não queria mais ser um saco de pancadas. Depois do que sofri nas mãos do meu tio, revoltado, resolvi me lançar à vida do crime. Passei a viver como um cachorro que cai de um caminhão de mudança, perdido, totalmente sem direção. Como ainda era muito jovem, algumas pessoas, penalizadas, me ofereciam abrigo. Mas, não havia conserto para mim e, poucos dias depois, acabava roubando coisas de valor de suas casas e voltava para a rua – meu tenebroso lar.

 

 

 

Vivia como um animal. Não chegava a passar fome, porque tirava comida do lixo. Também tinha estratégias para não morrer de fome: durante dois anos morei em uma lixeira de hospital e um dos faxineiros me dava o resto da comida dos doentes. Porém, não era só isso. Já na criminalidade, passei a praticar assaltos com arma de fogo e cheguei a participar de um sequestro. Com a arma na mão me mostrava valente, mas no fundo vivia com medo. A esta altura, já estava viciado em drogas e em jogos.

 

 

Memórias de adolescente

 

Este foi o pior período da minha vida! Certa ocasião, quando novamente iria apanhar de policiais e ser levado preso, jurei que tinha mãe e que não estava na rua por vontade própria. Assim, a polícia me deu uma chance: “Se for verdade, você não será detido; só precisa ser reconhecido por sua mãe”.  Isso é mole, seu guarda! Respondi decidido. Ela me conhece, só não me aceita em sua casa, mas não sei a razão. Porém, quando chegamos à sua porta, ela logo apareceu, xingando sem parar. O policial perguntou: “Esse sujeito é seu filho, dona?” – “Não faço ideia de quem ele seja; não o conheço, não o quero em minha calçada” – respondeu.

 

 

 

Nesse dia passei a odiá-la e prometi que voltaria para matar a família toda: ela, o marido e meus irmãos. O ódio me dominou e desde então me sentia a pessoa mais insignificante do mundo. Todo dia indagava a Deus o porquê de ter nascido e de sofrer tanto. Quando voltei às ruas, providenciei um revólver e 26 balas. Eu estava decidido a me vingar de todos. Foi aí que, inesperadamente, um tio apareceu me oferecendo ajuda. “Vou te levar a um lugar onde voltará a ser gente”.

 

Como pode alguém, acostumado a ser tratado como bicho, voltar a ser gente? Mas, mesmo surpreso com a oferta, o acompanhei… E que surpresa! Pela primeira vez na vida recebi carinho e atenção – justamente onde jamais havia entrado antes… Depois de assistir a uma reunião, logo fui atendido. Ninguém se importou com o meu cheiro, com minha aparência. Tampouco passaram a mão em minha cabeça. Mas afirmaram que para minha vida tinha jeito e que eu poderia mudar o rumo das coisas. Isso era tudo o que eu queria e precisava ouvir.

 

 

Uma força se apoderou de mim

 

Saí dali decidido a lutar por uma transformação. Nada aconteceu da noite para o dia, nem vou dizer que tudo foi fácil ou no estralar dos dedos. Precisei trabalhar muito, como ainda o faço. Porém isso só surtiu efeito porque me entreguei à fé viva que havia sido despertada em mim. Por ela já não media esforços, e assim, fui realizando sonhos.

 

 

A maior realização

 

Pouco tempo depois consegui regularizar minha situação com a Eliane – com quem já estava morando de favor. Para a família dela nossa união era sinônimo de degradação: um mendigo com uma alcoólatra. Realmente, qual seria o nosso futuro? Mas, a tese do “impossível dar certo” não nos influenciou, e nossa história passou a surpreender.

 

 

 

 

Você dever estar se perguntando: quem sou eu hoje? Sou um empresário respeitado, perito em trânsito, que dá emprego para dezenas de famílias. Sou patrão e amigo. Tenho um lar, um casamento de muita alegria, sou pai. Sou um vencedor. Não apenas pela estabilidade financeira, mas pela paz, a alegria e a dignidade que conquistei.

 

 

 

Não tenho vergonha em dizer que fui um morador de rua, jogado fora quando ainda era um bebê e que vivia sendo espancado. Mas prazer em confessar que passei por tudo isso e consegui renascer das cinzas. Alcancei também poder para perdoar a todos que me fizeram mal, principalmente a minha mãe, ainda em seu leito de morte.

Eu sou o Cláudio Soares, mineiro, de Belo Horizonte. Um homem que tem orgulho em dizer: eu também sou a Universal!