Oito dicas para fazer um “detox” digital

Uso excessivo da internet pode comprometer a qualidade dos relacionamentos reais ou até substituí-los

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“Às vezes, acho que a internet é um grande plano para manter pessoas como eu longe da sociedade normal.” Essa foi a fala de Dilbert, um personagem de quadrinhos do cartunista norte-americano Scott Williams, numa tirinha que levava seu nome, em 1997. O mais curioso: naquela época não havia ainda a febre das redes sociais.

Claro que a internet pode acrescentar muito à vida do internauta. Mas acréscimo não pode ser o mesmo que substituição. Muitos se fixam tanto nas telas de seus celulares, videogames, tablets, computadores e televisões que, quando percebem, o dia já passou e eles não tiveram interação real com seus semelhantes – nem consigo mesmos. Pior: nem sentem falta disso, pois estão “satisfeitos” demais com a vida virtual. Quando isso acontece, geralmente é necessário um trabalho de “detox” (desintoxicação) digital para combater uma possível dependência do meio eletrônico.

Analfabetos emocionais
Inclusive, já existe um termo atualmente usado por psicólogos para uma das consequências dessa atitude: analfabetismo emocional. Por ficar tão “plugado” quase o tempo todo, o ser humano perde o jeito de se relacionar com seus semelhantes na vida real. Ele perde aos poucos a capacidade de “ler” sinais simples das pessoas, como expressões faciais, tons de voz ou a postura.

Outra dificuldade do analfabeto emocional é se concentrar em uma única atividade. Ele é incapaz de dirigir sem falar ao celular, o que, aliás, é proibido por lei e perigoso), ler um livro ou conversar com alguém sem interrupções a todo momento, por exemplo.

Mas como alguém pode chegar a esse ponto? “A dependência digital não está diretamente relacionada ao tempo de conexão de uma pessoa aos dispositivos eletrônicos, mas ao nível de perda de controle na vida real e aos prejuízos nos campos profissional, familiar, afetivo ou social”, diz Anna Lucia Spear King, psicóloga e doutora em saúde mental, fundadora do Delete – Uso Consciente de Tecnologias, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Falta de educação
Segundo Anna, já há até um nome para essa prática de “colar os olhos na tela”: phubbing, palavra em inglês surgida na Austrália há alguns anos que reúne os termos phone (telefone) e snubbing (desprezando). “Significa o ato de ignorar ou menosprezar as pessoas ao seu lado ou no ambiente para ficar centrado em função de qualquer tipo de tecnologia móvel. Acontece muito entre casais e é motivo de brigas constantes”, explica.

Mas a psicóloga da UFRJ relata outro aspecto interessante: “é mais uma questão de falta de educação mesmo. Ignorar as pessoas e se fixar num celular é uma grosseria que deve ser evitada. É preciso educar o ser humano desde criança quanto a isso como para qualquer outro aspecto do comportamento social. Apesar de que alguns usam os dispositivos eletrônicos de propósito também com o intuito de evitar diálogos mais profundos”.

Os primeiros passos para a desintoxicação

1 – Use o bom senso, para que o uso das tecnologias não se torne abusivo no cotidiano
2 – Fique atento às consequências físicas (privação de sono, dores na coluna, problemas de visão) e psicológicas (depressão, angústia, ansiedade) por causa do uso abusivo das tecnologias
3 – Dose o uso de tecnologias no cotidiano. Verifique se seu desempenho acadêmico, no trabalho, na família ou pessoal está sendo prejudicado pelo uso abusivo das tecnologias
4 – Não troque atividades ou encontros ao ar livre para ficar conectado às tecnologias
5 – Reflita sobre seus hábitos cotidianos e aja diferente
6 – Pratique exercícios físicos regularmente. Crie intervalos regulares durante o uso das tecnologias para fazer alongamentos
7 – Não abale o seu humor com publicações virtuais. Não acredite em tudo o que é postado e cuidado com o
que você publica
na internet
8 – Valorize suas relações pessoais, sociais e familiares reais e não as troque pelas virtuais só para ficar utilizando as tecnologias

Instituto Delete (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

 

Como identificar o problema

Você ou alguém próximo pode estar caindo na armadilha virtual da alienação digital.

Saiba identificar isso e, se for o caso, combater o problema.

  • Excitação e segurança – Tentativa de esquecer os problemas pessoais. Primeiro indício normalmente mascarado com a falsa sensação de satisfação ao utilizar a tecnologia
  • Relevância – Ocorre quando não se consegue desligar o pensamento, de modo que a tecnologia começa a dominar lentamente e a comandar a sua vida
  • Tolerância – Perda de controle e substituição dos programas reais do dia por mais tempo com a tecnologia
  • Abstinência e efeitos – Quando não está conectada a pessoa torna-se irritada, ansiosa e com medo. Podem ocorrer alterações no padrão do sono ou da alimentação e ainda sinais de depressão
  • Evidências de conflitos – Este é o momento em que a pessoa percebe a existência do problema, mas sente-se incapaz de reduzir ou parar, o que pode comprometer a educação, o desempenho profissional e social Instituto Delete (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
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Colaborador

Marcelo Rangel/ Foto: Fotolia