Quais os riscos da superexposição de crianças nas redes sociais?
O avanço da tecnologia permite a manipulação e o uso indevido de imagens
Compartilhar a rotina se transformou em uma prática usual nas redes sociais. Várias plataformas permitem que o usuário publique textos, fotos e vídeos. Esses conteúdos entretêm e atualizam familiares e amigos, mas também dão oportunidade para a atuação de pessoas mal-intencionadas.
De forma geral, a superexposição coloca os usuários em risco, mas muitos não se dão conta da dimensão que a rede social tem e compartilham não apenas seu dia a dia como também o dos filhos, que, muitas vezes, ainda são pequenos. Inclusive, se tornou habitual que mães criem perfis desde o começo da gravidez. Apesar de toda a alegria e do desejo de compartilhar a felicidade da família com todos, essa atitude pode impactar negativamente no desenvolvimento infantil.
Esse tipo de conduta se tornou tão frequente que ganhou até um nome: shareting. O termo em inglês associa as palavras “share” (compartilhar) e “parenting” (paternidade) e é usado para denominar o compartilhamento exagerado de fotos, vídeos e informações dos filhos. Em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu um alerta quanto aos perigos e efeitos de longo prazo desse hábito na vida das crianças.
“Utilizar a internet, especialmente as redes sociais, para documentar aspectos da vida dos filhos, experiências da maternidade ou paternidade é uma prática cada vez mais comum. No entanto, ao exercerem essa liberdade, os pais ou responsáveis legais podem expor indevidamente informações pessoais de menores de idade e colocá-los em situação de vulnerabilidade”, destacou a SBP em nota.
PERIGOS
Hoje, por meio de alguns cliques em um perfil na rede social, é possível ter as mais diversas informações sobre a vida de alguém. Esse volume elevado de dados nas mãos de criminosos pode se transfomar em armadilhas.
No caso das crianças, o que os pais precisam ter em mente, em primeiro lugar, é que as plataformas só permitem a criação de um perfil a partir dos 13 anos. Assim, burlar essa informação é violar os termos de uso das redes sociais e começar errado. Além de atender a esse princípio, é preciso visar a proteção dos filhos e ter cuidado com o que é postado.
“Muitos pais não conhecem as ferramentas de que as redes sociais dispõem ou não gastam tempo mudando as configurações de privacidade e deixam todo o conteúdo postado como público. Um perfil aberto aumenta o risco para as crianças”, explica Gracielle Torres, (foto abaixo) consultora, palestrante especialista em segurança digital corporativa e infantil e idealizadora do Projeto Proteja.
Esse cenário ganhou outra proporção com o avanço da inteligência artificial. “Ela pode ser usada de várias formas como, por exemplo, projeção de idade, adulteração do corpo, clonagem de voz e deep fakes. Geralmente, o objetivo é aplicar golpes, sendo que o principal é a sextorção, quando o criminoso possui uma foto íntima de uma pessoa, real ou criada por inteligência artificial, e começa a chantageá-la pedindo dinheiro”, alerta.
Além disso, o risco de pedofilia está em todas as redes sociais. “Até as fotos de bebês podem ser capturadas para alimentar o banco de dados de pedofilia. Então, é importante ficar atento em todos os ambientes”, diz Gracielle.
Os pais também precisam considerar outras formas de uso das imagens que não são crime, mas que afetam as crianças e principalmente os adolescentes, como o bullying. Assim, as imagens que para os pais são apenas memórias podem se transformar em um pesadelo no futuro da criança, afinal, depois de cair na rede é muito difícil manter o controle do conteúdo.
Atenção às postagens
De forma geral, é preciso ter atenção a alguns detalhes nas redes sociais, como o tipo de foto que está sendo exposta, pois até colocar imagens de um bebê tomando banho ou na praia se tornou um grande risco. O mesmo vale para crianças maiores e até adolescentes. “As meninas começam a descobrir o corpo, gostam muito de tirar fotos sensuais e colocam nas redes sociais imagens mais íntimas. Não é interessante postar esse tipo de foto e cabe aos pais orientá-las para que não publiquem esse tipo de conteúdo”, sugere.
Revelar dados de localização, o nome completo da criança, informações sobre a escola que ela estuda ou fotos do uniforme ou do interior da casa são ações que devem ser evitadas. “Esses dados fornecem a uma pessoa mal-intencionada informações de como é a rotina da criança, onde ela vai e onde estuda, o que pode colocar em risco até a integridade física dela”, diz Gracielle.
Proteja seus filhos
Gracielle dá algumas orientações para proteger os pequenos: não criar perfis de crianças menores de 13 anos, manter o perfil pessoal privado e criar um controle de audiência, direcionando as fotos da criança só para pessoas próximas.
Já com relação aos adolescentes é importante que os pais acompanhem suas atividades on-line. Usar filtro de controle parental também é importante para saber quais são os sites que eles acessam e com quem têm contato. “Gaste um tempinho para conversar com o seu filho, porque, à medida que a criança cresce, ela já vai amadurecendo com esses valores. Ela vai compreendendo com o passar do tempo o que pode e o que não pode. Aí o pai não precisa mais proibir, porque o pai está educando. É trocar o proibir pelo educar”, conclui.