Quem pediu sua opinião?

Está na ponta da língua (e na ponta dedos, graças às redes sociais) a louca vontade de emitir um ponto de vista não solicitado

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O livro de Jó é riquíssimo e, além de aprendermos muito com a postura dele, conseguimos aprender igualmente com seus “amigos”. Houve uma época em que Jó estava “na pior”. Ele, que chegou a ser considerado o maior do que todos os homens do Oriente, perdeu bens, servos e filhos, como descrito no primeiro capítulo do livro bíblico que leva seu nome. Depois de toda essa tragédia, “ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, e Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram condoer-se dele, para o consolarem” (Jó 2.11).

A princípio, eles começaram bem: se compadeceram e permaneceram ao lado dele e em silêncio. “E assentaramse com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande” (Jó 2.13). Mas, depois disso, Elifaz questionou: “Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras?” (Jó 4.2). Depois, em seu discurso, entre outras acusações, Elifaz afirmou que Jó estava colhendo o que plantou (Jó 4), enquanto Bildade disse que ele tinha se esquecido de Deus (Jó 8) e Zofar que ele era falador e falto de entendimento (Jó 11).

O sofredor, então, respondeu: “Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura não terão fim essas palavras de vento? (…) Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós (…)? Antes vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor. (…) Os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus. (…) Até quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras?” (Jó 16).

PALPITERIOS NATOS

Essa passagem da vida de Jó foi tema de uma edição recente do programa Inteligência e Fé, conduzido pelo Bispo Renato Cardoso. “Os amigos de Jó estavam declarando sua opinião sobre o que estava acontecendo com ele, mas nenhum deles, de fato, conseguiu ajudá-lo. Pelo contrário: eles pecaram nas suas palavras de forma que, no final do livro, Deus fala para Jó orar por seus amigos. Foi nesta oração que Deus mudou a sorte de Jó”, observa o Bispo.

Embora essa história tenha acontecido há milênios, ainda hoje existem muitos “Elifazes”, “Bildades” e “Zofares”, pessoas que necessitam expor seus pontos de vista a qualquer custo ou que se acham capazes de entender tudo o que aconteceu mesmo sem nem sequer estarem envolvidas com o assunto. Ocorre que a opinião de cada um forma juízes e carrascos e qualquer um é capaz de falar de acontecimentos globais a trivialidades da vida alheia, mesmo que não entenda nada a respeito do que está sendo tratado.

Estar pronto para dar uma opinião sobre tudo e mais um pouco, mesmo que desnecessariamente, contudo, é algo inerente ao ser humano. “Todos nós temos essa inclinação. Às vezes, pensamos que somos críticos em um programa de resenhas e que estamos ali para avaliar, criticar e opinar sobre tudo e todos que vêm à nossa cabeça. Isso é uma tendência humana”, diz o Bispo. Por isso, observa ele, há “um vomitório de palavras opinativas de pessoas que, às vezes, só querem se sentir importantes e, por isso, ficam falando e achando que têm que dar opinião sobre tudo.”

Em tempos de redes sociais, então, esse hábito se tornou uma prática fácil. Está na ponta da língua (e na ponta dos dedos, graças aos smartphones) o desejo incontrolável de dar um palpite ou um “conselho” não solicitado. E, como há bilhões de usuários, há o mesmo volume de opiniões voluntárias distribuídas ali.

É válido lembrar, porém, de um ditado que diz que opinião não se dá, se pede. “Se alguém pedir sua opinião, você dá. Mas se ninguém a pediu, por que você está opinando? Por que está falando da roupa da fulana ou da vida do beltrano? Não seja essa pessoa que está a ponto de explodir se não abrir a boca para dar opinião sobre um assunto no qual não foi chamado”, aconselhou o Bispo.

MAIS UM PROBLEMA

Há outro ponto a considerar: que muitos se tornam reféns e sujeitos às opiniões de terceiros, pois procuram saber o que um ou outro pensa com o intuito de encontrar um pouco de afirmação e respaldo para a sua vida. “A pessoa vai casar e pergunta para a amiga: ‘e aí, o que você acha dele?’ A pessoa está insegura quanto à sua escolha e quer um reforço. Em um negócio, claro, é preciso buscar conselho – não digo opiniões, mas conselhos. Conselho você busca de quem sabe, com quem realmente tem experiência para falar do assunto. Você, jovem, que está começando a vida, tem pai e mãe e eles dão conselhos a você e não opiniões. É inteligente você ouvir seus pais, pois, assim, você estará aprendendo algo com alguém mais maduro e mais capaz. Você tem que ouvir, sim, pessoas que o amam, que não têm um interesse escuso ou incerto em relação a você. Seus pais vão falar, normalmente, aquilo que querem de melhor para você. Então, é sábio você buscar orientação de pessoas que o amam de verdade.”

O QUE FAZER
Em Provérbios 29.20 lemos: “Vês um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o tolo do que para ele”. Por esse motivo é preciso vigiar a si mesmo e as próprias palavras, saber se controlar e entender que nem sempre nossa opinião é necessária. Ou seja, saber a hora de calar, em vez de dizer tudo o que pensa a qualquer momento, tendo ou não conhecimento sobre o assunto, se torna uma virtude.

Quem tem entendimento espiritual sabe que o homem pode colecionar opiniões, mas apenas Deus tem a direção e a palavra certa. É por isso que especialistas do mundo todo divergem no tocante a condutas e opiniões, ainda que estejam estudando o mesmo tema, enquanto, apesar de ter escritores diferentes, a Palavra de Deus se mantém única. “A Palavra de Deus permanece a mesma desde sempre. Então, se você quer certeza na sua vida, não procure opiniões de outras pessoas, busque a Palavra de Deus. Ela orienta sobre o cuidado com a sua vida, seu corpo, sua alma e seu espírito. Busque a direção do Espírito Santo”, diz o Bispo.

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Colaborador

Flavia Francellino / Foto: lvcandy/getty images