Por que controlar o uso de telas pelos filhos?
Veja quais problemas você pode evitar e em que momento deve agir
Estamos o tempo todo rodeados por telas. Isso ocorre em casa, na rua, no trabalho e na escola. Usar o celular e o computador em atividades triviais se tornou algo comum e até indispensável. Além de facilitarem o consumo de informação e de entretenimento, as grandes empresas de tecnologia já perceberam, há bastante tempo, que o uso dessas ferramentas representa um potencial infinito de mercado relacionado para o comércio de produtos e serviços e esse processo parece que não tem mais volta.
E se os algoritmos capturam dados de usuários adultos para estabelecer perfis, de olho nesse mercado infindável, também fazem o mesmo com crianças que estão usando as redes cada vez mais em busca de jogos e lazer, ou que, muitas vezes, são empurrados pelos pais para usá-las, pois, eles não encontram tempo para passar com os filhos. Contudo o uso exagerado das telas pode gerar efeitos colaterais como desatenção e problemas de memória.
Outro agravante para as crianças é que muitas delas não conseguem largar as redes e se envolver com outras atividades, o que acaba afetando inclusive sua saúde mental e física. Não é por acaso que a Meta, o TikTok, o Google e o Snap, algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, estão sendo processadas por centenas de famílias que as acusam de expor e causar, consciente e intencionalmente, vício e depressão em adultos e crianças.
Segundo Claudia Brazil, psicanalista e diretora do Instituto Amas de Psicanálise e Terapias, também há outros fatores que podem contribuir para o adoecimento das crianças. “Existem pais que acham que é correto esconder as coisas dos filhos e criá-los na alienação. Despertar os filhos para a realidade talvez seja o melhor caminho para que, ao se depararem com certas notícias e acontecimentos inclusive violentos, consigam lidar com eles. A comunicação entre pais e filhos é o principal ingrediente para lidar com essas situações”, analisa.
Ela avalia que, além da depressão e da ansiedade, outros transtornos podem atingir as crianças. “Um deles é a síndrome de borderline ou síndrome limítrofe: a pessoa vive na borda, no limite, e a qualquer emoção um pouco mais forte, por exemplo, ela tenta se automutilar porque sente um alívio, como se a dor física ao se cortar superasse a dor emocional. Porém é uma válvula de escape falha, porque ela acha que terá um alívio, mas, na verdade, está piorando”, esclarece.
Claudia explica que o vício é um sentimento que pode nascer no ser humano quando ele se vê em situações nas quais sente prazer. “Quando a gente está ali na internet, é um momento em que nos desligamos do mundo ao nosso redor e entramos em um mundo que desejamos cada vez mais. Por que vou estudar matemática se eu detesto? O grande problema é que estamos criando uma geração que só quer fazer ou ter o que gosta, mas a vida não é só prazer. A frustração faz parte da vida”, dispara.
Ela afirma que a melhor forma de evitar o vício das telas é os pais limitarem o uso do celular na primeira infância, enquanto ainda conseguem. “Para os adolescentes, mostre que existe um mundo fora do celular. Você pode, por exemplo, questionar qual é o esporte que ele gosta de praticar. Ele gosta de dança? Procure alguma atividade exterior que traga prazer para a vida desse adolescente. Também pode ser de cunho religioso, cultural, mas que o adolescente goste de fazer, e não que os pais queiram que ele faça. Isso já é uma boa opção para que o adolescente saia daquele mundo virtual e passe a viver o mundo real”, sugere.
Na opinião de Claudia, as crianças não deveriam ter acesso ao aparelho celular na primeira infância. “Não é para a criança estar com um celular. Ela deve fazer atividades recreativas e criativas para que desenvolva sua parte mental neurológica. Talvez lá para os 12 anos, quando se tornar adolescente, a criança possa começar a utilizar celular, com os pais sempre as conscientizando que o uso do celular é um processo que vai acontecer quando ela se tornar responsável. Na primeira infância, o celular é muito nocivo”, afirma.
Claudia sugere ainda que as pessoas comecem a buscar o que está dentro delas e não o que está fora. “Recomendo qualquer tipo de atividade que busque o autoconhecimento, o processo terapêutico ou práticas de cunho religioso e terapias que possam levá-las para dentro de si mesmas, porque muitas pessoas buscam o que está fora e acabam ficando 24 horas nesse mundo virtual. O conselho que eu dou aos pais é que comecem a ser pais de verdade, que comecem a colocar na prática o que tanto desejaram, que foi ter um filho, e cuidem desse filho”, conclui.