Só mais um na multidão?
Fazer parte da maioria nem sempre é estar certo. É preciso refletir bem antes de aceitar tudo que um grupo diz ou vê como verdade
É natural que todas as pessoas queiram pertencer a um grupo e, caso ele aparente ter opiniões semelhantes às delas, isso torna-se ainda mais atrativo. Todavia nem sempre estar no meio dessa massa é benéfico. Até por isso a Bíblia alerta em Êxodo 23.2: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito”.
Em edição recente do programa Inteligência e Fé, o Bispo Renato Cardoso explicou que essa passagem bíblica nos leva a examinar nossa própria conduta em relação à influência da multidão em nossa vida. Vale lembrar que muitas vezes, na ânsia de pertencer a um grupo, o indivíduo não questiona as ações nem reflete sobre as consequências do que está sendo feito pelos membros da trupe. É por falta dessa crítica que muitos unem-se a grupos e ideologias nocivas e perdem a noção do que realmente estão defendendo. “Normalmente, a pessoa quer fazer parte de uma multidão. Ela quer fazer parte de um grupo que está fazendo algo que está alinhado ao que ela pensa, sente e concorda. Então, ela encontra um determinado grupo que levanta uma certa bandeira, seja de uma ideologia, seja de uma pessoa, e abraça aquele grupo, passa a vestir as cores, a camisa, a repetir as falas dele e a representá-lo – sem nem saber, na maioria das vezes, o que está fazendo ou o que está falando”, afirmou.
Algo que torna grupos particularmente atraentes é seu tamanho. Seja por instinto de sobrevivência, seja por desejo de aceitação, as pessoas gostam quando a maioria concorda com elas. Ter as próprias ideias validadas por um grande grupo alimenta a vaidade e afasta a possibilidade de ser julgado pela sociedade.
No entanto, como o Bispo ressaltou, seguir a multidão nem sempre é sinônimo de estar agindo corretamente. Ele nos lembra do exemplo do Senhor Jesus, que desafiou a maioria e foi crucificado por isso. A história da Igreja Primitiva também é citada como um exemplo de enfrentamento da maioria em prol da verdade. Esses exemplos, porém, estão sendo cada vez mais esquecidos pelas pessoas. “Nós estamos na era da suspensão do raciocínio. As pessoas suspendem o raciocínio com o intuito apenas de pertencerem a um grupo e a uma multidão. E então seguem os sentimentos, muito mais do que a inteligência”, argumenta o Bispo.
Consequências
Muitas vezes a pessoa, para se enturmar, faz algo avesso aos seus hábitos. Por exemplo: o adolescente, para pertencer a um grupo de amigos, passa a beber. Esse é um dos motivos pelos quais os brasileiros começam a consumir bebidas alcoólicas, em média, com apenas 12,5 anos de idade, segundo o Censo de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). O resultado dessa atitude é que o País tem uma enorme quantidade de alcoólatras.
Outro exemplo é o do homem que, por estar entre outros, fala pejorativamente de mulheres, mesmo sabendo que é algo errado. Depois de ter esse comportamento por um tempo, ele começa a pensar nelas daquela forma e logo as estará tratando desrespeitosamente – tudo porque quis pertencer a um grupo inconsequente.
Assim, é fundamental que todas as pessoas, em quaisquer situações, reflitam sobre as posturas que adotam e suas consequências.
Verdade contra a corrente
É importante entender que a verdade, muitas vezes, vai contra a corrente popular. O Bispo nos adverte sobre os perigos de aceitar cegamente o que a maioria diz, especialmente quando essa maioria é influenciada por agendas de poder ou manipuladas. Ele nos recorda da propaganda nazista, que deixou marcado na História como uma mentira repetida muitas vezes pode ser entendida como verdade.
Assim como ocorreu naquela ocasião, em muitas outras a política foi um bom exemplo de como as pessoas podem agir sem pensar nas consequências apenas para seguir um grupo, uma ideologia ou um líder popular. Muitas pessoas encontram em determinados movimentos políticos similaridade com um ou outro pensamento seu e passam a aceitar tudo o que aquele movimento diz como verdade absoluta. Por ter uma opinião sua ecoada em um grande grupo, a pessoa deixa de raciocinar e passa a seguir outras cegamente. Mas, como a Bíblia ensina, isso é um grande erro.
O Bispo ressalta a necessidade de alinhar nosso pensamento com os ensinamentos bíblicos, que superam as opiniões e ideologias passageiras:“Deus é a Verdade. Então, quando alinhamos os nossos pensamentos ao raciocínio dEle, não temos nenhum risco de errar. Por isso, é importante você ter muito cuidado se está seguindo alguma multidão ou ideologia e também se você preencheu um espaço no seu coração que já deveria estar preenchido pela Presença de Deus”.
Ao seguir a multidão sem questionar, até o cristão corre o risco de se desviar do caminho da Verdade e da Justiça. Por isso, o Bispo reitera a necessidade de resistir à pressão social e buscar discernimento espiritual para não se tornar cúmplice do mal. Ele lembra que a verdadeira convicção está enraizada na Fé inabalável e na busca pela Vontade de Deus. A Palavra de Deus nos ensina a agir racionalmente, a superar emoções e a ser sempre justo e guiado pelo amor, mesmo que isso signifique enfrentar a multidão.