Autismo: só consegue ajudar quem entende
No mês em que se celebra o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a informação é uma arma poderosa para toda a sociedade
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi celebrado em 2 de abril. A data, criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem o objetivo de dar mais visibilidade para o tema e combater o preconceito e a discriminação contra indivíduos com transtorno do espectro autista (TEA).
No País, ainda não há números oficiais sobre o TEA. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) estima que uma a cada 36 pessoas esteja no espectro autista. Se o cálculo fosse usado aqui, teríamos quase 6 milhões de autistas.
Em entrevista à Folha Universal, a psicanalista e psicóloga Patrícia Stankowich explica que o autismo é uma condição neurobiológica e pode se manifestar de forma diferente em cada indivíduo. Por isso, o transtorno é colocado em um espectro, já que a pessoa que é diagnosticada com autismo pode apresentar condições clínicas e comorbidades completamente diferentes umas das outras. Há desde pessoas “superdotadas a pessoas com severo comprometimento intelectual, além de vários comprometimentos, principalmente no relacionamento social dessas pessoas”, destaca. Por essa razão, o transtorno é classificado por níveis de suporte, sendo eles 1, 2 ou 3, que revelam a gravidade do comprometimento da cognição, da autonomia e da construção de vínculos do indivíduo. Quanto maior o nível, maior o comprometimento cognitivo e intelectual.
Patrícia reforça que “quanto mais cedo a criança for diagnosticada e receber as intervenções necessárias, melhor será o prognóstico do seu desenvolvimento”. Nesse sentido, a observação dos marcos de desenvolvimento na primeira infância, que compreende a faixa etária de zero a 3 anos, é crucial. “Se os pais estão observando que a criança tem atraso na função psicomotora, para caminhar, pegar objetos, atrasos na fala e na compreensão das mensagens, se ela não consegue assimilar um comando e responder a ele, se ela tem dificuldade na interação, tudo isso sinaliza que ela pode estar com comprometimento no seu desenvolvimento. Não se trata necessariamente de TEA, mas é preciso avaliar”, diz. O diagnóstico deve ser feito por neuropediatras ou psicólogos e, quanto mais multidisciplinar for a equipe, mais assertiva será a avaliação.
Apesar de existirem alguns comportamentos característicos de uma pessoa com TEA, Patrícia enfatiza que é preciso ter muito cuidado, respeito e postura ética para avaliar e diagnosticar o autismo, pois o diagnóstico traz grandes implicações para o indivíduo e sua família.
Apesar da importância dos tratamentos, Patrícia ressalta que a família cumpre um papel fundamental na vida desse indivíduo e por isso deve ser amparada e fortalecida emocionalmente para que possa lidar com todas as demandas que ele vai exigir. “Isso demanda que os pais trabalhem suas emoções e expectativas frustradas, para que possam lidar com o filho real que têm. Cuidando de si, eles poderão cuidar do outro com mais leveza, menos sofrimento e mais saúde mental”, diz.
Suporte espiritual
Consciente da necessidade de inclusão para garantir a igualdade de oportunidades e a dignidade de todas as pessoas, a Escola Bíblica Infantil (EBI) da Universal tem aplicado seus esforços para aprimorar seus conhecimentos e promover capacitação para as educadoras. A coordenadora do projeto, Viviane Mello, conta que aos poucos a capacitação tem avançado e a meta é incluir todas a unidades onde o trabalho da EBI é realizado. Como parte do material usado na capacitação consta um livro para educação bíblica infantil inclusiva elaborado por profissionais da Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (Abads) e o livro Autismo, Entender é a Chave para Amar e Ajudar, de autoria de Josi Boccoli. “Nosso objetivo, além de proporcionar um ambiente em que as crianças se sintam confortáveis, é que seus responsáveis estejam bem espiritualmente e ativos em sua fé, pois, se eles estiverem bem, com certeza saberão ajudar seus filhos a se desenvolverem melhor”, enfatiza Viviane.
O apoio espiritual foi fundamental para a secretária Elisangela Gomes Gonçalves de Oliveira, (foto abaixo) de 45 anos, e fez a diferença no desenvolvimento de sua filha Natâny Cristini Gonçalves de Oliveira, de 16 anos, diagnosticada com TEA há cerca de dois anos. Elisangela conta que, por causa de sua rotina de trabalho, sua filha ficava aos cuidados da avó. Então, quando a menina começou a apresentar dificuldade para se alimentar e interagir com outras crianças, Elisangela achava que era em decorrência dos mimos que recebia da avó.
No início da adolescência, porém, Natâny começou a ter crises, que foram potencializadas pela perda do avô. Ela não conseguia interagir com outras pessoas, se incomodava muito com barulhos, chorava, ficava nervosa, quebrava tudo no quarto e chegava a se machucar.
Natâny passou por duas psicólogas e foi acompanhada por uma profissional durante um ano até que recebeu o diagnóstico de autismo quando estava prestes a completar 15 anos. “Foi muito difícil, é uma mistura de sentimentos. Meus primeiros pensamentos foram: ‘como será o futuro da minha filha?’ Comecei a entender e a colocar a minha fé em prática. Ganhei o livro da Josi e realmente o caminho é entender o autismo. Eu vi que não estava sozinha. Entendi que eu precisava mudar. Comecei a me dedicar à minha filha, a me aproximar e a entender o que ela precisava”, relata. Além de levar Natâny para as terapias, Elisangela conta que passou a ensinar sobre sua fé para a filha. Com o tempo, Natâny conseguiu participar das reuniões na Universal e hoje deu um salto no seu desenvolvimento, principalmente na interação social. No mês passado, ela teve uma vitória: recebeu alta da psicóloga. “Deus fortaleceu a mim e a minha filha”, diz Elisangela.