Mágoa: a doença que você não quer encarar
Camuflado por desprezo, rancor, ressentimento e inveja, esse sentimento tem roubado a possibilidade de muitas pessoas terem um futuro repleto de paz
Viver é um grande desafio. As experiências de cada indivíduo são peculiares, mas existe uma certeza: todos, em alguma etapa da vida, passam por episódios que contrariam suas expectativas. Por exemplo: o filho que espera o apoio do pai e não o recebe, a mulher que se envolve em um relacionamento e não é correspondida, a amiga que confia na outra e é apunhalada pelas costas e tantas outras situações que abalam nossos sentimentos e abrem caminho para a mágoa.
Na prática, esse sentimento é decorrente de um ato de indelicadeza, de algo que nos decepcionou ou de uma ofensa por parte de terceiros. O grande problema é que a mágoa tende a se instalar em nosso coração, criar raízes profundas e bagunçar tudo, tanto interna quanto externamente. “A maioria das pessoas que tem mágoa no coração não sabe que a tem. A mágoa é uma doença silenciosa que muitas vezes toma outras formas, como indiferença, desprezo, desejo de vingança ou até de felicidade pela infelicidade da pessoa que lhe causou algum dano”, citou o Bispo Renato Cardoso no programa Entrelinhas, disponível na plataforma Univer Vídeo.
São sentimentos ruins que podem se esconder no dia a dia atrás de frases muito comuns como “essa pessoa morreu para mim”, “para mim, é como se ela não existisse mais”, “não quero vê-la nem pintada de ouro” ou ainda “não é mágoa, é só chateação”. Elas funcionam como uma camuflagem para esconder uma condição real de mágoa. Mas a verdade é que, se a pessoa que fez mal a você “não importasse tanto para você, você não gastaria tanto tempo pensando nela. Ela não mexeria tanto com os seus sentimentos quando você se lembra dela”, argumentou o Bispo Renato.
As marcas da prisão
Como a mágoa costuma ser justificada que ocorreu uma situação de injustiça, quem a sofreu se vê no direito de guardá-la dentro de si, mas não percebe que o único a colher as consequências negativas dela é ele mesmo. A Palavra de Deus alerta para os riscos de se apegar ao que lhe fizeram: “o ressentimento mata o insensato, e a inveja destrói o tolo” (Jó 5.2 NVI). Ou seja, é possível entender que guardar esse sentimento impacta o nosso presente e o nosso futuro.
Quem guarda mágoa tende a desenvolver outros problemas internos, como nervosismo, estresse, ansiedade e depressão, que afetam a mente e também o corpo, como, por exemplo, com o surgimento de diversas doenças, inclusive as cardiovasculares, o que é comprovado pelas pesquisas. Pelo fato de carregarem um verdadeiro barril de pólvora pronto para explodir dentro de si, é comum que as pessoas magoadas tenham dificuldade de cultivar bons relacionamentos e fiquem com a vida pessoal e a profissional estagnadas, assim como a espiritual.
“Quando você não perdoa quem o magoou, você também não é perdoado. Como Deus vai atender você, quando você mesmo tem suas culpas e não recebe o perdão de Deus porque não dá o seu perdão a outras pessoas?”, questionou o Bispo Renato no programa Inteligência e Fé, transmitido pela Rede Aleluia de rádio.
Tirando as algemas da mágoa
Perdoar é um ato que se opõe à vontade humana, mas que deve ser considerado de forma racional. É preciso lembrar que liberar o perdão é uma necessidade humana para que a pessoa possa colocar um ponto final no passado de uma vez por todas, olhar para o futuro e seguir em frente.
Trata-se de uma decisão individual que provoca uma mudança interior e permite que a pessoa passe a enxergar as situações não mais com o olhar de vítima, mas com o olhar da fé.
“A Bíblia não ensina que temos que conviver com o nosso inimigo, mas temos que amá-lo. Amar o inimigo segundo a Palavra de Deus é você fazer o que é certo diante dEle. Mesmo que façam mal a você, que tentem prejudicá-lo, você não vai retribuir o mal com o mal. Você vai fazer o que é certo e vai pagar o mal com o bem”, disse o Bispo Renato.
É claro que essa mudança não é fácil e você pode não obter imediatamente uma resposta positiva daqueles a quem você perdoou. Mas a verdade é que, ao liberar o perdão, sua consciência fica limpa diante de Deus, assim como o seu interior, e isso é o que realmente importa. Afinal, como foi observado aqui anteriormente, apenas os que perdoam podem ser perdoados pelo Criador. O Próprio Senhor Jesus reforçou essa necessidade, como descrito em Mateus 6.14-15: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”.
A seguir, os entrevistados contam o papel que a mágoa desempenhou na vida deles e como se posicionaram para se livrar dela.
A lista da vingança
O empresário Douglas Almeida, (foto abaixo) de 29 anos, experimentou durante a adolescência, pela primeira vez, o efeito da mágoa, por conta das memórias tristes dos pais viciados, dos maus-tratos, da separação e da notícia do assassinato do pai. “Vivi um vazio profundo e obscuro que não conseguia assimilar e tive acesso a conteúdos e jogos sombrios. Em razão do meu comportamento e da minha maneira de me vestir, eu sofria bullying. E então, magoado, comecei a sentir cada vez mais ódio. Reuni 25 pessoas que eu conhecia, que eram mais fortes do que eu, para me ajudarem a me vingar de quem me ofendia”, diz. Segundo ele, inicialmente, a sensação que teve foi de poder, mas, em seguida, sentiu um peso na consciência.
Essa espécie de remorso, no entanto, não resolveu o sentimentalismo que envolvia a vida dele. “Eu tinha uma lista com o nome de todas as pessoas das quais eu queria me vingar. Além disso, eu planejei como seria a vingança e comecei a me preparar para colocá-la em ação. Eu colecionava facas e passei a fazer aulas de artes marciais para me preparar fisicamente para o confronto com quem eu não gostava.”
Com o passar dos anos, a mágoa o transformou em uma pessoa nervosa e explosiva e afetou a sua vida completamente. “A mágoa foi um grilhão do inferno que me prendia e me impedia de avançar. Eu não conseguia me relacionar com ninguém. Pelo meu estereótipo até no meio dos colegas e de parentes, eu era criticado. Pelo fato de não ter uma namorada, desenvolvi baixa autoestima, insegurança e sentimento de rejeição”, explica.
A situação dele no convívio familiar também era difícil, pois ele atribuía a culpa pelo seu sofrimento aos outros. “Eu não conseguia conviver com eles e era egoísta, pois tanto minha mãe como meus irmãos também sofriam com tudo isso, mas eu não os perdoava. O peso de um passado ruim era forte na minha mente, o que me fazia ser guiado pelo ódio. Nada nem ninguém conseguia me convencer do contrário. Eu, porém, já estava cansado de viver assim, queria uma chance, mas não sabia onde e nem como me livrar desse peso e dessa mágoa que me faziam ser tão infeliz”, diz.
Aos 25 anos, ele, no entanto, recebeu um convite para participar de uma reunião na Universal. “Lá, eu vi vidas sendo transformadas no Altar. Naquele ambiente diferente, algo mudou na minha mente, acendeu uma esperança, a chave virou e percebi que tinha jeito pra mim”, diz. O processo de transformação, no entanto, precisava começar pelo perdão. “Decidi quebrar meu ego, sair do meu mundo sombrio e perdoar não só meus irmãos e minha mãe, mas a mim mesmo e a todos que eu tinha excluído da minha vida. Ao fazer isso, um peso enorme saiu das minhas costas e me libertei totalmente do cativeiro”, esclarece.
Abrir mão da mágoa o fez sentir como se alguém tivesse feito uma limpeza por dentro e por fora dele, como relata: “eu me libertei dos pensamentos negativos e do desejo de dar o troco. Passei a dormir, a trabalhar e a viver melhor”, salienta. Em resumo, depois dessa decisão, a vida dele começou a caminhar. Ele se casou, abriu o seu próprio negócio e recebeu o Espírito Santo. “Hoje, o perdão faz parte de mim e é algo natural. Mesmo que as pessoas me contrariem, não levo esse sentimento para o meu coração. Eu não guardo nada dentro de mim e vejo que o poder de Deus me dá essa condição de ser uma pessoa melhor a cada dia por meio do Espírito Santo”, conclui.
Expulsa de casa e da vida do pai
A mágoa também roubou a paz da fisioterapeuta Juliana Sena, (foto abaixo) de 36 anos. Na fase da adolescência, seus pais se separaram e ela optou por morar com o pai. “Nós éramos muito próximos e tínhamos um relacionamento harmonioso, até que eu engravidei, aos 23 anos”, conta. Como o relacionamento amoroso não era sério, ela precisou de apoio físico e emocional, mas sua expectativa foi contrariada. “Quando meu pai soube da gravidez, ele não a aceitou e me rejeitou”, diz.
Essa situação lhe trouxe uma tristeza muito intensa, provocada pela mágoa que passou a guardar. “Eu alimentei esse sentimento e passei a pensar: ‘se ele não me quer, então assim será’. Quando tinha algum encontro de família, eu não ficava próxima dele e tinha um desejo muito grande que ele sofresse da mesma forma que eu estava sofrendo”, diz.
No ponto de vista dela, guardar esses sentimentos torturava seu pai, mas, na verdade, quem mais sofria era ela. “Eu tinha raiva dele e fazia questão de demonstrar o meu desprezo por ele. Eu não falava com ele, não deixava que ele me visse e me afastei totalmente”, lembra. Mesmo quando o pai tentava se aproximar, Juliana o rejeitava. Essa situação durou mais de um ano, assim como o sofrimento dela.
Além dessa tristeza profunda, a mágoa lhe trouxe outras consequências: “ela me afastou do meu pai, mas também de outras pessoas de que eu gostava e de mim mesma”. Passando por dificuldades em todas as áreas, ela se lembrou da paz que sentia quando frequentava as reuniões da Universal na adolescência. “Eu decidi buscar uma transformação porque a minha vida não seguia adiante e eu sabia que tinha que abrir mão da mágoa e essa foi minha primeira atitude. Procurei meu pai, mostrei meu filho para ele e quebrei a barreira que nos separava. Pedi perdão e pus um fim naquele distanciamento”, destaca.
Hoje, ao contar essa história, Juliana observa que parece que a situação foi fácil, mas, na verdade, ela foi repleta de conflitos. “Não foi algo que ocorreu de uma hora para outra. Eu relutei por muito tempo, mas, quando tomei a decisão de perdoar, senti uma paz e um alívio muito grandes.
A tristeza e a sede de vingança foram embora”, ressalta. Ao liberar o perdão, também houve uma aproximação de Deus e o desenvolvimento natural de todas as áreas de sua vida. “Eu passei a crescer profissionalmente, depois de quatro anos me casei com um homem de Deus e tudo que antes dava errado passou a dar certo”, finaliza.
Decisão particular
Todos nós estamos sujeitos a viver experiências que nos desagradam, mas é preciso que fiquemos atentos a sentimentos que podem surgir nessas ocasiões, como a mágoa e outros que a camuflam. Não basta saber que a mágoa é prejudicial, mas como vasculhar todos os dias o próprio coração para arrancar pela raiz qualquer sinal dela, que nos apodrece por dentro.
Em uma transmissão em suas redes sociais, o Bispo Edir Macedo explicou que, independentemente do seu nível de conhecimento ou da sua posição na igreja, “se você conserva dentro de si uma mágoa, um ressentimento contra qualquer pessoa, a sua vida vai ficar travada e não vai sair disso. Até o momento que você decidir perdoar”.
O Senhor Jesus é nossa maior inspiração e referência, inclusive quando o assunto é perdão. Ele veio para conceder a Salvação da alma, aproveitou o tempo que viveu na Terra para libertar, curar, transformar e ensinar e, mesmo assim, foi julgado e crucificado. Ainda hoje, Ele é rejeitado por muitos. Imagine, então, se Deus não fosse misericordioso para perdoar?
“Então, se você quer o perdão de Deus, perdoe todos os que falharam com você. Quando você perdoar, vai estar fazendo um bem maior a si mesmo do que à pessoa que foi perdoada. Aprenda essa lição prática da vida cristã. Obedeça essa Palavra”, orientou o Bispo Macedo. Já que à sua maneira não está dando certo, que tal fazer do jeito de Deus?
Embora o dia 21 de abril tenha sido o “Domingo do Perdão” em todas as Universal, este assunto não se esgota. Se você esteve presente, pratique os ensinamentos recebidos e desfrute de uma vida sem as algemas da mágoa.