O que é e como lidar com a síndrome do Pequeno Poder?
Ao conquistar algum tipo de poder, algumas pessoas acabam adotando atitudes opressoras com amigos e colegas de trabalho. Aprenda a identificar os sinais
A frase “se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”, de Abraham Lincoln, explica bem o quanto é perigoso quando o poder cai nas mãos da pessoa errada. Em alguns casos, essa conquista pode gerar a “Síndrome do Pequeno Poder”, que ocorre em diversos ambientes: familiar, escolar, profissional, entre outros. Muitos pensam que esse tipo de comportamento traz resultados negativos apenas para quem é “vítima” dele, mas a pessoa que a pratica também sofre consequências negativas.
A psicóloga clínica e especialista em medicina comportamental Sandra Almeida explica que essa síndrome se caracteriza pelo uso abusivo da posição já ocupada ou adquirida de maior hierarquia de uma pessoa sobre as outras. Ela pode acontecer , por exemplo, depois de uma promoção ou em qualquer círculo de convívio em grupo. Nesse momento, então, é comum alguém usar a expressão: fulano deixou “o poder lhe subir à cabeça”.
É o clássico exemplo daquele que era apenas um colega de trabalho, mas que bastou ter recebido uma pequena promoção – mesmo sem ser de chefia – para que passasse a pedir tarefas que não são de sua obrigação, tratar com arrogância os outros e se vangloriar do seu novo cargo, por mais simbólico que seja.
Por conta disso, essa pessoa acaba exercendo autoritarismo, que é diferente de autoridade, como explica a psicóloga: “o autoritarismo privilegia o poder sobre a outra pessoa para impor e dominar; a autoridade existe para quem tem razão e conhecimento e respeita as leis”, ressalta.
Causas e consequências
Sandra esclarece que essa síndrome não é uma patologia. Apesar disso, pode levar a pessoa a sofrer. “O poder fascina, mas poucas pessoas possuem estrutura emocional para lidar com ele. Quando o caráter da pessoa não é saudável, o uso do poder toma um rumo diferente, mais em prol da satisfação individual do que do bem coletivo”, destaca.
A especialista ainda detalha que a razão de uma pessoa desenvolver esse perfil é a baixa autoestima. “A maioria das pessoas que apresentam essa síndrome são arrogantes, impulsivas, inquietas e exibem um excesso de confiança em si próprias, mas que no fundo revela enorme insegurança.”
Como lidar
A empresária Cristiane Ribeiro, de 33 anos (foto a esq.), conviveu de perto com essa situação. Ela começou a ter problemas com uma amiga na igreja que frequenta. “Eu tinha uma amiga autoritária ao extremo e tudo tinha que ser do jeito dela. Senão, nada feito.”
Elas conviviam em um ambiente cristão e tinham líderes em comum que deveriam ser respeitados. Cristiane passou a notar que a referida amiga queria mandar até no líder da igreja. “Ele estava acima dela, mas isso não a intimidava. Ela usava o poder que tinha para mandar e desmandar, mas ele não se deixou levar por ela e isso a chateou a ponto dela mudar de igreja.”
Cristiane ressalta que aquela situação lhe fazia muito mal, porque era impossível conviver com uma pessoa que não aceitava o que ela dizia e pensava que podia mandar na vida alheia. “A gente acaba se sentindo coagido e oprimido. Isso não é bom para nenhum tipo de relação. Eu tentei ajudar, mas não consegui, então pela minha saúde mental decide me afastar dela.”
Para a pisicóloga Sandra, o ideal é não alimentar essa opressão, mas “bater de frente” também não é a solução. A melhor saída, então, é se afastar da pessoa para evitar conflitos. Afinal, elas costumam aproveitar o autoritarismo para humilhar os outros, mesmo inconscientemente. Sandra dá a dica: “é preciso ter cuidado para não ser permissivo com essas pessoas. Elas maltratam emocionalmente alguém porque não têm empatia com o sofrimento alheio. São verdadeiras tiranas”, finaliza.