Quando eles apareciam, Deus tinha algo a falar
A volta dos profetas na série Reis levanta a discussão em relação ao que se esperava deles
É impossível desassociar a presença dos profetas da história de Israel. “Os profetas representavam a Voz de Deus. Quando eles apareciam em uma cidade diferente da que viviam, todos temiam porque sabiam que eles tinham uma mensagem de Deus para passar”, explica Cristiane Cardoso, autora da série Reis, em entrevista à Folha Universal. Foi isso que aconteceu no final da décima temporada da produção com a chegada do profeta Aías (Paulo Gabriel), que, quando apareceu, causou desconforto no rei Salomão quando declarou que o reino seria dividido.
Na 11ª temporada de Reis, além de Aías, que confronta Jeroboão (Vitor Novello), conforme está escrito em 1 Reis 14.1-20, o profeta Semaías (William Mello) leva um alerta a Roboão (Henrique Camargo).
Profetas conhecidos
A atual temporada de Reis retrata um trecho bíblico que conta a história de dois homens e destaca a fidelidade exigida de um profeta no cumprimento do seu chamado, além de mostrar o que acontece quando não se cumpre o papel esperado. A Bíblia se refere a um deles como “um homem de Deus vindo de Judá” e ao outro como um “profeta velho”.
Na série, o profeta velho foi chamado de Avner (Joelson Medeiros). Cristiane afirma que ele “foi um profeta que se tornou inútil por conta de algum serviço a Deus em que ele deixou a desejar”. Por isso, na trama, optou-se por colocá-lo como alguém que não confrontou o rei Salomão (Guilherme Dellorto) em relação à sua idolatria. Isso explicaria por que, estranhamente, a Bíblia não relata a presença de nenhum profeta naquele período: ele teria existido, mas não fez o que tinha que fazer.
Por outro lado, a Bíblia menciona um profeta proveniente de Judá que clama contra o altar erguido por Jeroboão (1 Reis 13.1-10), que tinha decidido promover a idolatria em Israel por medo de perder a simpatia do povo (1 Reis 12.27). Na série, este profeta se chama Ido (Thiago Piacentini). Como esclarece o texto bíblico, Deus tinha dado uma ordem a esse profeta antes dele sair de Judá: ele deveria confrontar Jeroboão e voltar para Judá sem parar em nenhum lugar. Ele cumpriu a primeira parte fielmente, mas, durante o retorno, a história dele se cruza com a do profeta velho e revela a ingenuidade de um e a malícia de outro.
Ingenuidade de um, malícia de outro
Para explicar por que os dois tomaram as atitudes relatadas na Bíblia, Cristiane esclarece que o jovem profeta foi retratado na série como alguém intenso e muito animado para fazer a Obra de Deus, mas que não levava a missão com toda a seriedade necessária. Afinal, a tarefa de levar a mensagem Divina a uma nação exigia foco e disposição para cumprir o que Deus ordenara, sem ter o desejo de ser reconhecido por isso.
Já o profeta velho, segundo a autora, foi apresentado como um homem que perdeu a comunhão com Deus e, então, movido pela ambição, decidiu levar o jovem a errar com Deus, tal como ele fez um dia.
Alertas espirituais
Cristiane ressalta que a principal lição contida na história desses dois homens é o fato de o jovem profeta ter sido encontrado descansando sob um carvalho, quando a ordem de Deus era que ele voltasse imediatamente depois de falar com o rei. “Ele não ficou atento à Voz de Deus nem às circunstâncias e, quando o profeta velho apareceu, ele foi facilmente enganado”, destaca.
O mesmo ocorre atualmente, diz Cristiane, pois muitos cristãos são enganados porque não estão atentos para perceber as segundas intenções em muitas coisas que hoje viraram “modinha”. “É fácil julgar o profeta velho por ter enganado e mentido, mas, antes que isso acontecesse, aquele jovem homem de Deus não estava atento e em contato com Deus, mas fazendo algo que não deveria. Ele obedeceu 99% do que Deus tinha pedido a ele, mas deixou 1% de fora e isso foi suficiente para abrir uma brecha mortal para ele”, diz.
Outro alerta deixado pela história, segundo Cristiane, é que “nem todo mundo que afirma que Deus falou com ele para dar um recado é realmente um mensageiro de Deus”. Ela enfatiza que hoje as pessoas devem ter mais cuidado e que Deus não precisa de interlocutores para falar diretamente com alguém, pois Ele usa o Seu próprio Espírito. Cristiane acrescenta que, se o jovem profeta tivesse crido no que Deus falou a ele e questionasse o velho profeta, a vida dele teria sido poupada. Entretanto, em vez disso, ele preferiu acreditar no que o outro disse que ouviu de Deus e não no que ele mesmo ouviu. Esse tipo de atitude é mais comum do que se imagina. “Muitas pessoas acreditam em gurus e em gente que se diz homem ou mulher de Deus e tomam decisões baseadas no que eles estão falando e não vão a Deus. Elas estão terceirizando a fé”, ressalta.
Em meio a essas tristes lições, há esperança. Logo após a morte do jovem, o profeta velho reconhece o quanto foi mau para aquele homem de Deus e a Bíblia mostra que ele se arrependeu. A passagem mostra que se uma pessoa reconhece seu estado espiritual depois de errar e se arrepende, ela pode se reconectar com o Criador.
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