Antissemitismo: um crime crescente

O preconceito contra os judeus tem nome e, lamentavelmente, tem sido uma prática diária em todo o mundo. Essa realidade precisa ser reconhecida e combatida por todos

Imagem de capa - Antissemitismo:  um crime crescente

O ódio contra os judeus não é algo recente, pelo contrário: infelizmente, ele reverbera há séculos, mas foi por volta de 1870 que essa aversão, somada ao preconceito, foi chamada pela primeira vez de antissemitismo pelo jornalista alemão Wilhelm Marr. “Ele criou o termo porque naquele momento a Europa vivia um movimento de transformação científica e ele quis transformar um termo que já existia na língua alemã, que era o ‘ódio aos judeus’ (judenhass), num termo mais palatável e científico: ‘antissemitismo’, mas o semitismo, por si só, não existe. O povo semita, como povo, também não existe. A origem do termo ocorre porque, no tronco linguístico, estão as línguas semitas, dentre elas o hebraico”, diz Hana Nusbaum, coordenadora do Centro de Educação e Memória do Holocausto da StandWithUs Brasil.

Hoje, a Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA) faz uma definição prática do que é antissemitismo: “determinada percepção dos judeus, que pode se exprimir como ódio em relação aos judeus. Manifestações retóricas e físicas de antissemitismo são orientadas contra indivíduos judeus e não judeus e/ou contra os seus bens, contra as instituições comunitárias e as instalações judaicas”. Essa definição não vinculativa é adotada pelos 35 países-membros da IHRA, na qual o Brasil é um país observador, ou seja, não é membro, mas contribui para o trabalho de forma limitada, e é usada especificamente para falar do preconceito direcionado aos judeus e ao Estado de Israel.

Crescimento Exponencial
Alguns exemplos contemporâneos que caracterizam o antissemitismo no dia a dia são fazer alegações enganosas ou estereotipadas sobre judeus, como dizer que eles controlam os meios de comunicação ou a economia; negar o genocídio que o povo judeu sofreu durante a Segunda Guerra Mundial; comparar os judeus ou o Estado de Israel com o nazismo, principalmente porque esse é um dos maiores traumas vividos pelos judeus; negar o direito de o Estado de Israel existir ou se situar no local em que está; pichar ou destruir locais porque pertencem a um judeu; e usar expressões racistas, como “judiar”.

Historicamente, sempre que o Estado de Israel está envolvido em algum conflito, como a guerra desencadeada depois do ataque terrorista do Hamas no sul de Israel, observamos um aumento dos incidentes antissemitas em todo o mundo. No Brasil, essa questão é monitorada pela Confederação Israelita no Brasil (Conib) e os dados são alarmantes. Nos últimos meses, segundo as denúncias registradas, o antissemitismo cresceu exponencialmente.

Hana comenta que isso é corriqueiro: “observamos esse aumento das situações de antissemitismo porque a temática está em alta e as pessoas estão vendo a mídia falar constantemente do conflito. Só que vivemos em um mundo em que existe muita desinformação. Então, não é necessariamente porque as pessoas sabem que algo está acontecendo com Israel que significa que estão bem informadas sobre isso. Como a temática está presente na mídia, as pessoas contrárias aproveitam a oportunidade para expressar suas opiniões, mesmo se forem preconceituosas”.

O ataque terrorista do Hamas que matou mais de mil pessoas aconteceu em outubro de 2023, quando os registros de antissemitismo no Brasil aumentaram 961% em relação a outubro de 2022, segundo relatório da Conib. Os dados ainda revelam que, “em 2023, as ocorrências on-line aumentaram 419% em relação a 2022, saltando de 202 para 1.048 registros. Já as agressões off-line aumentaram 85% na comparação entre 2023 e 2022, passando de 195 para 362 registros”. Este ano a tendência é de repetição desta realidade. No painel de monitoramento de Combate ao Antissemitismo e ao Discurso de Ódio da Conib, de janeiro a abril as denúncias de antissemitismo cresceram 642% em relação ao mesmo período de 2023. Foram 119 em 2023 e 764 em 2024.

Como mudar o cenário?
“Como qualquer tipo de preconceito, as consequências do antissemitismo são a evolução para um ambiente cada vez mais hostil e o crescimento dessa sensação de hostilidade e insegurança”, declara Hana. Ela destaca ainda que “para combater o antissemitismo e qualquer outro tipo de preconceito, é preciso estar bem informado, se educar em fontes confiáveis. Se entendermos que o antissemitismo é um tipo de racismo, entenderemos que é preciso ter empatia pelo outro antes de emitir uma opinião que pode ser problemática e negativa. Para combater o antissemitismo, precisamos de três coisas: nos educarmos, pensarmos e exercermos nossa cidadania”.

Então, respeite os direitos dos demais e cumpra seu dever, como denunciar sempre que presenciar ou for vítima de tal crime e informe-se em fontes confiáveis. Muitas pessoas, especialmente na internet, ganham dinheiro se aproveitando de discursos de ódio. Saiba diferenciar fatos de opiniões e, entre elas, quais são bem fundamentadas e quais são apenas conteúdos agressivos e alarmistas. E passe o conhecimento adiante, pois, quando transmitimos conhecimento, também transmitimos segurança e todos merecemos viver em um ambiente seguro, independentemente de etnia.

imagem do author
Colaborador

Lais Klaiber / Foto: nito100/getty images