Você sabe como reduzir o risco de demência?

Um novo estudo global da revista The Lancet aponta 14 fatores modificáveis associados à condição

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Durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC) na Filadélfia, nos Estados Unidos, em 31 de julho de 2024, o periódico britânico The Lancet, uma das revistas mais respeitadas no meio acadêmico, divulgou o aguardado relatório sobre prevenção, intervenção e cuidados em demência. A publicação, que identifica “novas evidências esperançosas”, dá sequência a outra de 2020, que já tinha enumerado 12 fatores associados a demências: menor educação, perda auditiva, hipertensão, tabagismo, obesidade, depressão, inatividade física, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, poluição do ar e isolamento social. Além desses, agora, juntam- se duas novas evidências: a perda de visão não tratada e o colesterol LDL alto.

Graças a essa atualização, a Alzheimer’s Disease International (organização que apoia pessoas com demência e suas famílias em diversos países) destacou um dos pontos altos do estudo ao mencionar que “45% dos casos de demência podem ser potencialmente adiados ou reduzidos, marcando um aumento de 5% em relação às descobertas de 2020”.

Prevenir ou atrasar quase metade dos casos de demência não é uma colocação qualquer: em 2019, o número de pessoas que conviviam com demência em todo o mundo chegou a 57 milhões, “e a projeção é que aumente para 153 milhões até 2050”, como aponta a publicação.

À Folha Universal, o médico Raphael Ribeiro Spera, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), destaca que as medidas de prevenção têm sido cada vez mais estudadas, uma vez que tendem a ser uma medida básica em saúde primária. “Isso é importante do ponto de vista individual, uma vez que é melhor evitar uma doença do que tratá-la e, também, do ponto de vista de custo-eficácia. Esse trabalho do The Lancet é muito importante, pois é um consórcio que avalia vários estudos para ver o que tem de mais relevante nesse aspecto”, diz.

Do moderado ao avançado

A demência “é uma condição clínica acompanhada de um declínio cognitivo, ou seja, das funções intelectuais; é uma doença normalmente progressiva e que acaba gerando dificuldade no raciocínio, na memória, na atenção, no julgamento, no planejamento, na organização, na habilidade visuoespacial e na linguagem”, diz Spera. Para a medicina, a condição não tem cura.

Na verdade, o termo demência se refere a um grupo de doenças cognitivas, sendo que a mais conhecida é o Alzheimer, cujo principal sintoma é a falha na memória de curto prazo. Embora as demências não sejam iguais, todas afetam a saúde e a funcionalidade do indivíduo. “A pessoa com demência, muitas vezes, pode ter dificuldade no autocuidado. Então, quando a doença avança para fases moderadas e avançadas, perde-se a qualidade de vida adequada ao se alimentar, fazer uma atividade física e desenvolver atividades de estímulo cognitivo e intelectual. Já em casos muito avançados, a pessoa pode apresentar dificuldade de deglutição, quadros de pneumonia de repetição e infecção urinária. Doenças muito avançadas podem acabar levando a óbito”, afirma.

O melhor remédio

Com base nas últimas evidências, o LDL aumentado – sigla para uma lipoproteína responsável pelo transporte do colesterol – entra na mira. Outro aspecto curioso é o cuidado com a visão na prevenção da demência: isso porque a relação com o ambiente melhora com uma visão favorável, algo que influencia o cérebro positivamente.

Quanto às atividades que têm mais impacto no sentido de prevenir as demências na população estão a escolaridade, os estímulos intelectuais e a atividade física. “O ideal é que a atividade seja de 150 minutos por semana, divididas entre três a cinco sessões, sendo duas delas atividades resistivas, como musculação, funcional ou mesmo pilates. Essa é uma recomendação mínima; quanto mais ativa a pessoa, melhor”, diz Spera.

Já para Renato Andrade Chaves, neurocirurgião especialista em cérebro e coluna, “manter uma dieta saudável, controlar doenças crônicas e manter uma vida social ativa” também são medidas importantes. “Hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, exercício físico e sono adequado, podem proteger contra o declínio cognitivo e reduzir o risco de demência”, continua.

A saúde mental também deve ser contemplada; a depressão, por exemplo, pode ser precursora ou sintoma de demência. Já o “isolamento social agrava o risco de demência, reduz a estimulação cognitiva e aumenta a vulnerabilidade emocional”, diz Chaves. Embora a demência seja mais comum em pessoas acima de 65 anos, Chaves lembra que ela pode afetar “indivíduos mais jovens, em casos conhecidos como demência de início precoce”.

O hábito de se cuidar, portanto, deve começar o quanto antes. Como bem destacou Gill Livingston, autora principal do estudo da The Lancet, “nunca é muito cedo ou muito tarde para agir”.

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Colaborador

Flavia Francellino / Foto: SeventyFour/GettyImages