Você sofre de “dezembrite”?
Veja como lidar com o estresse, a ansiedade e a depressão que podem surgir e se agravar nesta época do ano
Muitas pessoas sofrem com a chegada do fim do ano por nem sempre conseguirem lidar com a correria que esse período envolve. Encerramento de ciclos, prazos de trabalho que estão findando, encontros familiares indesejados ou até a falta de reuniões em família ou com amigos podem provocar reações emocionais nada benéficas que desencadeiam a síndrome do fim do ano, popularmente chamada de “dezembrite”. Mesmo não sendo um conceito oficialmente reconhecido pela medicina, é muito fácil notar sua incidência em nosso dia a dia.
Um estudo da International Stress Management Association (Isma), por exemplo, aponta que 80% das pessoas economicamente ativas apresentam níveis maiores de ansiedade, estresse e depressão nesta época do ano. Outro dado importante: o Centro de Valorização da Vida (CVV), organização não governamental que oferece apoio emocional e preventivo ao suicídio 24 horas por dia, registra um aumento médio de 15% nas ligações neste período de festas.
Para Renata Lima, psicóloga, especialista em terapia cognitivo-comportamental, mestre em psicologia do desenvolvimento humano e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) em Minas Gerais, é muito comum que as pessoas se sintam mais sensíveis neste período do ano. “As pessoas têm muitas coisas para organizar na agenda, são muitos eventos e encontros, amigo oculto, festas de encerramento do ano na empresa e na escola dos filhos, o que também pode trazer uma sobrecarga mesmo em termos de quantidade de informação, excesso de eventos e de coisas para gerenciar”, pondera.
Segundo a especialista, as pessoas começam a avaliar seu próprio ano negativamente: “pensamentos como ‘estou em dezembro e não consegui cumprir as metas que coloquei para mim’, ‘não consegui alcançar tudo que eu desejava’ e ‘meu ano não foi tão bom quanto eu esperava’ também podem acarretar em sensibilidade neste final de ano. Algumas pessoas podem se sentir sozinhas, isoladas, porque veem, por exemplo, na mídia e nas redes sociais, as pessoas se encontrando com os entes queridos, se reunindo, e não vão conseguir se reunir com entes queridos pelos motivos mais diversos, sejam financeiros ou não”, observa.
Contudo ela avalia que estar sozinho talvez não seja a melhor opção. “Os relacionamentos sociais, os momentos de socialização e de lazer são muito importantes para a saúde mental. A gente até entende que muitas pessoas precisam de momentos de solitude, não de solidão, para conseguir se recarregar, mas se a pessoa se sente sozinha, ela precisa da companhia de outras pessoas. É importante que ela busque fazer atividades que incluam grupos, fazer exercício físico compartilhado ou chamar um amigo para fazer uma caminhada no parque porque consegue socializar com outras pessoas”, sugere.
Renata explica que participar de uma terapia cognitivo-comportamental também ajuda. “Nós ensinamos os pacientes a entender que as emoções são excelentes termômetros e quando se quer identificar se há algo de errado acontecendo ou algo naquele ambiente em que se está inserido, deve-se olhar primeiro para mudanças emocionais. Se a pessoa está se sentindo bem, vai para uma confraternização de final de ano com amigos e sai desse encontro irritada, chateada, triste, com baixa energia e passa os dias assim, isso significa que a emoção dela se alterou e está sinalizando que aconteceu algo ali”, diz.
Procurar redes de apoio que possam ajudar a evitar a síndrome de final de ano também é uma boa alternativa. “É preciso lembrar que existem canais, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), [veja outras dicas no quadro acima], para os quais as pessoas que sentem solidão, com pensamentos depressivos e, muitas vezes, até de suicídio, podem ligar 24 horas por dia ao se sentirem deprimidas, quando sentirem que a vida não está valendo a pena, que elas estão excessivamente sozinhas e que não têm com quem conversar”, conclui.