A boa intenção justifica o uso de vídeos falsos?
Apesar de muitas funcionalidades positivas, a inteligência artificial também pode ser usada de forma irregular, principalmente em relação à manipulação da imagem
A inteligência artificial (IA) já está presente no cotidiano da população e não é preciso muito esforço para identificá-la. Os exemplos mais comuns são as assistentes virtuais que utilizam essa tecnologia para reconhecer comandos de voz. A IA também está por trás do atendimento via chat realizado por empresas, dos relógios inteligentes, que analisam atividades físicas e sono, e das plataformas de streaming, que indicam aos usuários conteúdos com base na preferência de cada um deles.
Apesar de muitas funcionalidades positivas, a IA também pode ser usada de forma irregular, principalmente no tocante à manipulação de imagem. Recentemente, circulou pelas redes sociais um vídeo no qual várias celebridades, como Scarlett Johansson e Adam Sandler, usaram uma camiseta branca com o desenho de uma mão em um gesto rude enquanto seguravam uma Estrela de Davi. O vídeo foi uma resposta às constantes declarações antissemitas do rapper norte-americano Kanye West de apoio ao nazismo.
O conteúdo teve um engajamento impressionante, mas foi fruto da IA, ou seja, é falso e usou indevidamente a imagem de pessoas famosas para chamar a atenção para a luta contra o antissemitismo. Esse cenário levanta um questionamento: será que o uso de vídeos falsos pode ser justificado quando a intenção é supostamente boa? Antes de responder a esse questionamento, vale saber mais detalhes sobre a IA.
Inteligência Artificial e IA Generativa
De forma geral, a inteligência artificial pode ser resumida como um algoritmo e essa ferramenta está presente há décadas nos computadores. A tecnologia, contudo, se aperfeiçoou com o passar do tempo até chegar à versão que encontramos hoje: a inteligência artificial generativa. “A grande diferença é que ela tem uma rede neural, ou seja, ela tem a capacidade de ser treinada e depois disso ela pode criar em cima de todo o conteúdo que recebeu”, explica Thiago Capatto, especialista em realidade virtual e em inteligência artificial.
Através de prompts – comandos que solicitam uma ação –, um usuário pode criar textos, imagens, planilhas, vídeos e muitos outros formatos de conteúdo. “Atualmente, as empresas conseguem, por exemplo, enviar mensagens personalizadas para mil clientes presentes em um banco de dados”, afirma Capatto. Na prática, essa funcionalidade é capaz de gerar muita economia para as empresas e aumentar o engajamento dos clientes. “À medida que o tempo vai passando, os prompts vão ficando menos complexos e com um resultado melhor”, acrescenta.
Essa facilidade acaba popularizando o uso da inteligência artificial e, infelizmente, incentivando a criação de conteúdos falsos, chamados de deepfake, como o caso do vídeo mencionado no início do texto. “Hoje, em alguns casos, ainda é possível identificar a diferença de um vídeo verdadeiro e um vídeo feito por IA, principalmente quando se trata dos detalhes de pessoas, como o formato das mãos. Mesmo assim, uma pessoa que não é habituada com tecnologia pode cair facilmente no golpe do deepfake”, explica.
Existe mentira do bem?
O termo deepfake vem do inglês e resulta da junção das palavras deep (profundo) e fake (falso). Não é um termo que se traduza em uma palavra para o português, mas se refere a algo que é totalmente mentiroso, embora isso seja difícil de perceber à primeira vista. A técnica utiliza IA para manipular fotos, áudios e vídeos, criando conteúdos que parecem reais, mas que, na verdade, distorcem a realidade.
Para Capatto, é impossível que uma mentira seja algo positivo, especialmente quando envolve o uso indevido da imagem de uma pessoa para propagar desinformação. Essa ação traz riscos éticos e sociais.
Apesar disso, ele ressalta que a tecnologia em si não deve ser vista como vilã, pois errados estão os que recorrem ao seu uso de maneira maliciosa para prejudicar ou enganar outras pessoas. Ele destaca, no entanto, que as plataformas digitais também têm um papel crucial nesse cenário e não podem se eximir da responsabilidade: “É essencial que essas plataformas monitorem, sinalizem e alertem os usuários sobre materiais produzidos por IA, promovendo mais transparência e segurança digital”.
Por conta do avanço dessas tecnologias, a recomendação é redobrar a atenção ao consumir informações on-line. “É preciso desconfiar”, alerta Capatto. Sinais como vozes robóticas, movimentos faciais estranhos ou situações absurdas podem indicar manipulação. “Ao perceber algo suspeito, o primeiro passo é buscar a fonte original, checar a referência e confirmar a informação em canais oficiais”, orienta.
Ainda não é o fim
É importante lembrar que a Palavra de Deus condena qualquer forma de mentira, independentemente da justificativa que seu autor apresente. Na Bíblia está claro que o diabo é o pai da mentira e, portanto, não pode haver verdade alguma nele (João 8.44). Assim, o cristão não deve criar nem disseminar conteúdos falsos, mesmo que em seu autojulgamento o esteja fazendo por uma “boa causa”. Mentira é mentira.
Essa dificuldade para entender o que é bom ou não está descrita na Bíblia como sinal de aproximação do Fim dos Tempos: “Porque haverá homens (…) Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela” (2 Timóteo 3.2-5). O rápido avanço tecnológico que presenciamos hoje e seu mau uso ilustram com clareza essa profecia.
“Há especialistas que falam que em cinco anos teremos um avanço tecnológico de mil anos ou até mais. Isso porque atualmente em uma semana alcançamos cerca de um ano. O entendimento é de que isso está numa crescente e não conseguimos mais voltar atrás. As empresas e as pessoas vão precisar se posicionar nesse mundo”, conclui o especialista.
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