Nossas folhas de figueira
Adão e Eva lançaram mão de folhas de figueira para cobrir a nudez de seus corpos, quando, na verdade, era a alma que havia sido completamente despojada da santidade
Após o pecado, Adão e Eva lançaram mão de folhas de figueira para cobrir a nudez de seus corpos, quando, na verdade, era a alma que havia sido completamente despojada da santidade na qual foram criados. Além disso, eles acobertaram-se entre as plantas, a fim de se esconderem de Deus (como se isso fosse possível!).
Só havia os dois no paraíso, e eles sempre estiveram sem roupas, mas nunca viram problemas nisso. Contudo, vergonha e culpa passaram a ocupar a alma, que antes era possuída por paz e pureza.
Num certo sentido, penso que eles nunca estiveram nus, porque na Criação receberam vestes divinas feitas com excelência e perfeição pelo Criador. Eram vestes de luz para proteger corpo e alma ao mesmo tempo, e de maneira absoluta, ou seja, era impossível que algum mal lhes tocasse.
Mas, o pecado deixou o ser humano fraco, confuso, vulnerável. Por isso, ele refugia-se, desde então, atrás das muitas folhas de figueira para sentir-se um pouco melhor consigo mesmo.
Não deu certo a tentativa do primeiro casal do mundo e continua não dando para nós hoje, porque significa lançar mão de um recurso terreno para substituir o espiritual. No fundo, achamos louca a atitude de Adão e Eva de esconder o que tinham feito atrás de folhas, mas podemos nos surpreender fazendo o mesmo que eles.
Queremos encobrir que somos vaidosos e que desejamos sempre ter razão. Assim como ansiamos sair perfeitos nas fotos, sermos bem-sucedidos em tudo (e até usamos a Bíblia para justificar nosso pecado). Também queremos encobrir que gostamos que as pessoas nos aprovem, aplaudam, curtam nossas fotos, nos sigam, digam que somos inteligentes, legais, demais…
Tem gente que me lê agora, que até já ficou chateado, porque alguém deixou de segui-lo ou não curtiu a sua foto. Eles dão o troco, vão e deixam de seguir também, apagam fotos marcadas, “descurtem”…
Aliás, as redes sociais são ringues para disputa de quem é mais vaidoso, só que ninguém admite isso, claro! O troféu dessa luta: um maço de folhas bem graúdas.
As folhas de figueira servem para disfarçar o maldito orgulho. Isso mesmo, somos a geração que se acha tão humilde, mas a maioria está pronta só para ensinar, nunca para aprender. São ótimos para repreender e apontar erros, nunca para admitir os seus, nem mesmo ficar em silêncio.
Poderia ficar aqui escrevendo um livro sobre isso, mas quero frisar que usar folhas de figueira, no sentido espiritual, é deixar de ser transparente para usar uma fachada. É aparentar algo externamente, que não condiz com o seu interior, pelo simples desejo de ser amado, aceito ou reconhecido.
Idealize comigo agora uma bela viagem, mas com um destino um pouco diferente. Imagine deixar que uma pessoa viajasse dentro de você e passeasse pelo seu coração e pela sua mente por um dia. Será que depois desse tour na sua alma, essa pessoa continuaria a ter o mesmo conceito sobre você?
Imagine ela ver os pensamentos que você tem sobre as pessoas à sua volta, os desejos de ver o outro se dar mal, a inveja enrustida, a maneira como trata bem alguns que interessa e mal outros que não acha conveniente, comentários sobre seu chefe, pastor, professor, etc.
Esse viajante da sua alma mudaria o que pensa a seu respeito? Sua reputação continuaria a mesma diante dos homens?
Mas, não podemos nos esquecer que temos um Público (Deus), que jamais pode ser enganado, pois Ele faz essa viagem dentro de nós a cada segundo.
O que o Altíssimo vê é o mesmo que nossos maridos, esposas, amigos, companheiras de trabalho, obreiras ou o povo da Igreja veem?
O Eterno vê a nudez da nossa alma, contempla a feiura do pecado oculto, da culpa e da dissimulação. Mas, não fica passivo perante o que vê. Hoje, Ele chama quem está vestido com folhas de figueira, porque, como a igreja de Laodiceia, esses estão “pobres, cegos e nus” (Apocalipse 3.17).
Portanto, se você está assim, não fuja da presença de Deus como Adão e Eva, mas corra para Ele e receba o perdão e as vestes brancas que lhe darão direito à vida eterna. Pois, o preço do disfarce espiritual jamais valerá a pena.