Análise: Comportamento financeiro se aprende desde cedo
A forma como lidamos com as situações na infância será reproduzida na vida adulta, provavelmente. Por isso, é preciso educar financeiramente as crianças
Os brasileiros estão mais endividados do que nunca e grande parte da população reconhece que, se tivesse aprendido educação financeira desde cedo, não teria cometido tantos erros. Para que essa estatística não se repita no futuro é preciso, desde já, mudar alguns comportamentos em relação ao dinheiro. Até porque, finanças não é uma ciência exata, mas sim, humana.
Se as pessoas se baseassem apenas na matemática, não gastariam além do que sua capacidade financeira permite. Por influência de fatores externos, principalmente para serem aceitos em sociedade, muitos gastam mais do que podem e, quando o resultado desastroso não produz nada além do remorso – que é totalmente diferente de arrependimento – o ciclo se repete e a pessoa se vê numa roda de rato.
Esse comportamento tem sido transmitido às crianças desde muito cedo, sem que os pais digam uma palavra e até mesmo sem perceberem. Com o objetivo de que seus filhos sejam aceitos, muitos gastam o que não podem para vesti-los igual a “todo mundo” ou para que tenham o material escolar do personagem da moda e não sofram bullying, ainda que a conta fique quatro vezes mais cara.
Em uma mentoria pro bono, atendi uma jovem mãe que, mesmo com o marido desempregado, dava 20% de seu salário todos os meses para a filha comprar fritura e refrigerante na cantina da escola. Apesar desse valor corresponder a metade da despesa mensal do supermercado, ela não concordou em cortar, pois precisava “calar a boca” de um grupo de meninas “detestáveis” que chamava sua filha de “pobre”.
É exatamente o que afirmou o ator americano Will Smith: “As pessoas gastam o dinheiro que não têm, para comprar coisas que não precisam e impressionar pessoas que não gostam.”
Por mais que eu tenha mostrado na ponta do lápis que aquele gasto era absurdo para a sua realidade e que sua filha ficaria muito mais saudável levando lanche de casa, não houve acordo. E como o “grupinho das detestáveis” continuou chamando a menina pobre, a mãe tomou uma atitude que aumentou ainda mais o rombo no orçamento: comprou um celular “top” para “provar” que a filha não é uma “pobre qualquer”.
A mensagem transmitida para essa criança é que vale tudo para ser aceita e que o ter está acima do ser. No afã de poupar a filha, os pais se deixaram levar pelo sentimento e não aproveitaram o ocorrido para ensinar como vencer situações adversas com o uso da razão. Em vez disso, tentaram “comprar” a solução que, diga-se de passagem, não funcionou.
Filhos de pais endividados serão futuros endividados, por isso, empenhe-se em mudar o seu comportamento financeiro para transmitir uma mensagem positiva e racional aos seus filhos. Certamente eles serão mais centrados, esclarecidos e, em consequência disso, prósperos.