Uso de remédios é a 3ª maior causa de morte do mundo

Médico desmascara a máfia da indústria farmacêutica

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“Metade das pessoas que morrem estão fazendo o que seus médicos disseram para elas fazerem”. A afirmação é do médico Peter C. Gotzche, professor da Universidade de Copenhagen e diretor do Centro Cochrane Dinamarquês*.

De acordo com Gotzche, os remédios indicados aos pacientes, em vez de curá-los, estão matando eles:

“As pessoas morrem por efeitos colaterais. A outra metade morre por erros. E, frequentemente, são os médicos quem cometem os erros. Porque qualquer droga vem com 20, 30 ou 40 alertas, contraindicações, precauções e assim por diante. Nenhum médico do mundo sabe sobre tudo isso. Então, eles receitam aos pacientes drogas que não deveriam receitar. Remédios que interagem perigosamente com outros remédios ou com nutrientes da alimentação e assim por diante.”

O resultado é que o uso de remédios é a 3ª maior causa de morte do mundo, atrás apenas de ataques cardíacos e câncer. Somente nos Estados Unidos, mais de 200.000 pessoas morrem por ano pela utilização de remédios que não deveriam estar usando.

“O que precisamos nos próximos anos é tomar muito menos remédios do que tomamos atualmente. Se fizermos isso e formos mais cuidadosos, então poderemos viver mais e viver vidas melhores. Porque remédios têm muitos efeitos colaterais! E pacientes, frequentemente, não percebem que, quando eles pioram, pode ser efeito colateral da droga. E eles continuam tomando porque foi o que os médicos falaram para eles”.

Se é verdade, por que ninguém fala sobre isso?

O motivo pelo qual o assunto é tão pouco comentado é explicado no livro “Medicamentos Mortais e Crime Organizado – Como a indústria farmacêutica corrompeu o Sistema de Saúde”, do próprio Peter C. Gotzche.

Na obra, o especialista reproduz provas de que a indústria farmacêutica, produtora de remédios, comete fraudes, extorsões e corrupção em busca de aumentar seus próprios lucros.

“A maioria da indústria farmacêutica preenche todos os critérios de crime organizado de acordo com as leis dos Estados Unidos”, afirma ele. “Essa indústria se comporta como a máfia se comporta. Eles corrompem todos que podem corromper. Eles compram todos os tipos de pessoa, incluindo até mesmo os ministros da saúde em alguns países. Existe uma quantidade enorme de corrupção”.

Gotzche relata que até mesmo na Dinamarca – país considerado exemplar em níveis de corrupção – existem milhares de médicos na lista de pagamento das indústrias.

Ninguém fala sobre isso, justamente porque é um mercado bilionário, que gera muito dinheiro para muitas pessoas:

“Não é popular você dizer a verdade sobre o sistema de saúde. Você ganhará muitos inimigos, porque muitas pessoas estão lucrando com falsas promessas. Médicos e a indústria são parecidos. E nossas agências reguladoras e nossos políticos estão todos no mesmo barco.”

Você mesmo pode ver a corrupção

Você já flagrou um “representante” visitando um médico em seu consultório? Já percebeu que, quem te atende, frequentemente tem um armário cheio de “amostras grátis”, cartazes nas paredes com marcas de remédios e aparelhos com a logo das indústrias farmacêuticas?

Essas empresas estão influenciando o médico – ou, muitas vezes, literalmente pagando – para que ele lhe receite determinado remédio. É assim que as empresas lucram. E é isso o que garante Gotzche.

“A indústria farmacêutica compra os professores primeiro. Depois chefes de departamentos. Depois outras pessoas em posições de liderança e assim por diante”, afirma o médico. “Então, quando milhares de médicos estão na folha de pagamento da indústria, isso é muito, muito ruim”.

O médico ressalta que, evidentemente, existem casos em que os pacientes precisam ser medicados. Mas ele precisa entender todos os efeitos colaterais. E, o número de remédios que devem ser utilizados não é nem de perto tão grande quanto o número de remédios que são receitados.

“Eu espero convencer os pacientes a não tomarem tantos remédios. Porque muitos morrem em decorrência dos remédios que eles tomam”, conclui Gotzche. “Eu demonstrei que o que as 10 maiores companhias fazem é crime organizado. Esses exemplos eram dos últimos 10, 15 anos. Não eram exemplos velhos. E o crime tem aumentado, porque, quando o crime paga, você tem mais crimes. Isso é como o capitalismo funciona”.

 

* O Centro Cochrane é uma organização não governamental com várias sedes pelo mundo. A entidade é sem fins lucrativos e sem fontes de financiamento internacionais. E o objetivo é contribuir para o aprimoramento da tomada de decisões em Saúde, com base nas melhores informações disponíveis.

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Colaborador

Andre Batista / Foto: Getty Images