Remédio para artrite reumatoide se mostra eficaz contra COVID-19

Droga tocilizumabe em única dose foi usada em pacientes que precisavam de respirador em estudo feito por pesquisadores norte-americanos

Imagem de capa - Remédio para artrite reumatoide se mostra eficaz contra COVID-19

Um dos grandes desafios dos médicos ao tratar pacientes com COVID-19 em estado grave é conter a resposta imunológica exagerada que ocorre em alguns casos. O próprio organismo danifica tecidos e órgãos ao tentar combater a infecção, podendo levar à morte.

Neste contexto, um medicamento desenvolvido contra artrite reumatoide se mostrou promissor para pacientes que dependiam de ventilação mecânica, concluiu um estudo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, publicado na segunda-feira (13) no periódico científico Clinical Infectious Diseases.

O estudo avaliou minuciosamente 154 pacientes em estado crítico tratados no centro médico acadêmico Michigan Medicine entre março e maio. Cerca de metade dos pacientes estudados recebeu o tocilizumabe nas primeiras 24 horas após a intubação. A outra metade teve tratamento convencional, sem o medicamento.

Chance 45% menor de morte

Os pesquisadores concluíram que os que receberam o medicamento tiveram chance 45% menor de morte na comparação com os que não receberam, além de possibilidade de sair mais rapidamente do respirador ou do hospital.

Ao lutar contra o novo coronavírus, o organismo de algumas pessoas pode desencadear uma reação imunológica hiperativa. Determinados pacientes morrem não por causa do vírus. Mas, por causa dos danos causados por esse “excesso de defesa”, chamado pelos médicos de “tempestade de citocinas”.

O estudo sugere que o tocilizumabe tem potencial de acalmar essa tempestade. A droga já se mostrou eficaz em pacientes com câncer submetidos ao tratamento de imunoterapia, que também pode causar uma resposta imunológica exacerbada. Os autores da pesquisa também desenvolveram diretrizes para o uso do tocilizumabe em casos críticos de COVID-19. A dose padrão recomendada é de 8 mg por kg.

No Brasil, os estudos com esse medicamento tiveram início em maio, como parte da iniciativa Coalizão Covid Brasil. Ainda não foram divulgados resultados.

Dexametasona

O anti-inflamatório dexametasona foi apontado como o medicamento de primeira escolha para tratar quadros graves de COVID-19, após um estudo robusto feito por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido. O remédio tem grande potencial de diminuir as inflamações causadas pela resposta imunológica.

A pesquisa de Michigan não teve a dimensão da realizada por Oxford. O que impõe limitações aos resultados, conforme explica um dos autores, o professor Jason Pogue.

“Para um estudo retrospectivo de centro único, nossos dados são robustos. Mas, devido à falta de dados de ensaios clínicos randomizados e ao custo muito mais alto, recomendamos a reserva de tocilizumabe para o tratamento de pacientes selecionados que descompensam enquanto estão recebendo ou depois de receber dexametasona. Ou, em pacientes em que os riscos de eventos adversos da terapia com esteroides superam os benefícios potenciais.”

Pogue observa que uma dose única de tocilizumabe é aproximadamente cem vezes mais cara do que um curso de dexametasona.

imagem do author
Colaborador

R7 / Foto: Getty Images