Por que um pesquisador francês chamou os jovens de “cretinos digitais”

O analfabetismo funcional é um problema crescente no Brasil. Pesquisas têm alertado que as novas gerações estão com níveis de inteligência menores que as anteriores

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Uma geração que gosta de dar opiniões, que parece estar sempre na moda, antenada com as novidades do mundo digital e novas redes sociais. Mas, modernidade e acesso não garantem inteligência. Quem afirmou isso foi o neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França. Segundo sua análise, pela primeira vez, os filhos têm um quociente de inteligência (QI), que é medido a partir de testes específicos, inferior ao dos pais.

Pesquisadores observaram que durante muitos anos, em muitas partes do mundo, o QI aumentou de geração em geração. Mas, recentemente, essa tendência começou a se reverter em vários países.

Em seu livro, “La fabrique du crétin digital” (“A Fábrica de Cretinos Digitais”, em tradução livre), Michel Desmurget apresenta dados que mostram o quanto os dispositivos digitais prejudicam o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Porém, eles não são os únicos culpados, há outras causas, por exemplo, o sedentarismo, a ausência de interações familiares e a diminuição do tempo dedicado a atividades que envolvam leitura, música, lição de casa.

Segundo o neurocientista, todas essas ausências levam a distúrbios de concentração e aprendizagem, o que impede o desenvolvimento.

Em entrevista à BBC, Desmurget afirmou que “simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento”.

Muita opinião, pouco conteúdo

As novas gerações podem parecer mais antenadas, questionadoras, argumentativas e cheias de opinião sobre tudo, mas, ao mesmo tempo, se mostram carentes de conteúdo, diálogo e atenção. Há muitas doenças emocionais que estão crescendo entre os jovens, sobretudo neste período de pandemia, como a depressão, a automutilação, a dependência em telas, ansiedade, falta de atenção, irritabilidade, entre outras.

Para mudar essa realidade é preciso que haja consciência dos responsáveis, porque muitos de nós fomos criados em um modelo totalmente diferente do atual, afinal, eram outros tempos e a tecnologia da forma como é hoje, sequer existia. Então, se passamos por tantas evoluções, não podemos manter a educação num padrão que não existe mais, porém, ao mesmo tempo, os bons valores devem permanecer.

O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) revelou que cerca de 30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais, ou seja, são incapazes de interpretar e compreender textos simples e resolver operações básicas que envolvam, por exemplo, o total de uma compra ou o cálculo de um troco, por exemplo.

Se nada for feito, esse número só vai continuar aumentando. Por isso, é preciso que haja um esforço para ensinar o equilíbrio aos jovens de hoje, para que eles não se tornem adultos alienados, amanhã.

As pesquisas comprovam que ser imediatista, multitarefas, viciado em telas e não ter bons hábitos como ler, interagir com a família etc não apenas emburrece como também prejudica a saúde como um todo.

Então, que sejamos exemplo para que a nova geração entenda que nem sempre novas tecnologias significam crescimento pessoal. Erradicar esse tipo de analfabetismo e melhorar a educação também são responsabilidades nossas.

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Colaborador

Refletindo sobre a notícia por Ana Carolina Cury | Do R7 / Foto: Getty Images