Beleza a qualquer custo?

Saiba o que a busca desenfreada por procedimentos estéticos pode camuflar

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A busca incessante pela adequação a padrões estéticos irreais leva cada vez mais pessoas a fazerem procedimentos arriscados e que, às vezes, terminam mal. Foi o caso de uma esteticista goiana de 27 anos que recentemente compartilhou nas redes sociais o resultado trágico de uma alectomia, um procedimento para afinar o nariz que resultou em necrose e perda de parte do órgão. A cirurgia foi feita por um dentista, mas ela só pode ser realizada por médicos especializados, caso contrário, é considerada lesão corporal gravíssima e exercício ilegal da medicina.

Assim como a jovem esteticista, milhões de pessoas se submetem ao bisturi anualmente. Em todo o mundo, os procedimentos estéticos cirúrgicos e não cirúrgicos tiveram um aumento de 19,3% em 2021 em relação a 2020, conforme divulgou a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) em sua Pesquisa Global Anual sobre Procedimentos Estéticos/Cosméticos.

A lipoaspiração se tornou o procedimento cirúrgico mais procurado ao ultrapassar a cirurgia de aumento dos seios. Mais de 1,9 milhão de lipoaspirações foram registradas em 2021, um salto de 24,8%. Em seguida, os quatro procedimentos cirúrgicos mais populares são o aumento dos seios, a cirurgia de pálpebras, a rinoplastia e a abdominoplastia. O Brasil ficou em segundo lugar no ranking mundial de procedimentos realizados no mundo, com 8,9% do total, atrás dos Estados Unidos, com 24,1%. O mais curioso é que depois desses procedimentos muitas pessoas continuam insatisfeitas e decidem reverter o processo quando é possível, a exemplo da extração de próteses de silicone.

Além das cirurgias, há quem busque procedimentos menos invasivos, mas igualmente perigosos, como é o caso de alisamento de cabelo com cosméticos que contêm formol (formaldeído), um produto considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A legislação sanitária permite que os produtos capilares contenham uma concentração de apenas 0,2% de formol na fabricação.

Não figuram nas contas os inúmeros lançamentos da moda que ainda não têm estudos científicos sobre os riscos que podem causar. Há algumas semanas, por exemplo, uma pesquisa publicada na revista Nature Communications mostrou que o uso de lâmpadas (cabines ultravioleta UV) para secagem de esmalte de unhas pode levar a morte celular, a alterações no DNA e a mutações causadoras de câncer. O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos.

Além da estética
Afinal, o que leva uma pessoa a se submeter a procedimentos estéticos perigosos em nome da “beleza”? Qual é a origem da busca por aceitação e por uma imagem fundamentada em padrões estabelecidos? Por que tantas pessoas não estão satisfeitas com o corpo que têm?

À Folha Universal, a psicoterapeuta Myriam Durante afirma que vivemos na era da superficialidade em todos os sentidos. Para ela, esse é o fator que explica a importância dada à aparência. “Preferimos o exterior e o material ao profundo e etéreo. Somos condicionados a dar valor aos bens materiais, por exemplo, em detrimento do espiritual. É por isso que preferimos filmes rasos, relações rasas, enfim, tudo o que é mais parte do exterior, e o corpo é a nossa superfície”, diz.

Ela aponta que a carência, o desejo de pertencimento e a baixa autoestima podem fazer parte do cotidiano de quem se submete a procedimentos em prol da beleza. “Por conta dessa valorização ao corpo perfeito, temos visto cada vez mais pessoas doentes, pois perdemos o aspecto natural. O natural é envelhecermos e sabermos transitar por tudo que é passageiro. A necessidade de aceitação é maior especialmente entre mulheres e adolescentes. Todos nós queremos nos sentir pertencentes a um grupo e muitas pessoas acabam se sentindo inadequadas e buscam procedimentos estéticos para se ‘encaixar’. Por trás disso está uma forte carência emocional e uma baixa autoestima, síndromes que podem ser tratadas com terapia”, alerta.

Myriam analisa ainda a origem dessa busca por aceitação e por uma imagem fundamentada em padrões irreais. “As imagens que vemos nos filmes, na propaganda e nas redes sociais impõem seres fora dos padrões humanos.

Todos se mostram bonitos, fortes e o mais perfeitos possível. Ninguém mais aparece sem filtros nas redes sociais e, com isso, internamente, vamos desconstruindo a nossa psique e passamos a aceitar esse padrão exterior em detrimento do que realmente somos. As pessoas querem uma vida perfeita e um corpo perfeito. Querem ser aceitas e isso gera ansiedade e transtornos de depressão. É por isso que o autoconhecimento é tão importante, pois com ele nos valorizamos e conseguimos nos libertar da imagem do que deveríamos ser e não somos”, conclui .

Você não é só um corpo
A Bíblia afirma que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26) e constituídos de corpo (que veio do pó e a ele voltará), alma (que é eterna e representa ainda o coração/sentimentos) e espírito. “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (Eclesiastes 12.7).

Assim, toda essa insatisfação que o ser humano nutre está em sua alma, que, por não ser vista ou tocada, acaba sendo negligenciada, embora seja a base de todas as áreas da vida. Enquanto a pessoa não tratar a alma, nada a deixará realizada, tampouco um corpo perfeito.

Só Deus conhece a alma do ser humano e tem o poder de dar a ela a verdadeira alegria e plenitude. Para que isso aconteça, porém, é preciso que a pessoa se entregue a Deus e permita que Ele aja em sua vida: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mateus 16.26). E você, leitor, qual é a origem da sua insatisfação?

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Colaborador

Kelly Lopes / Foto: Getty Images