O estado é laico, o voto não
Desde 3 de agosto, estamos em período eleitoral e os candidatos ao Executivo vêm participando de entrevistas e debates, além de comícios quando expõem seus projetos e ideologias. Além deles, temos visto ditos jornalistas manchar a imagem dos profissionais de comunicação ao revelar suas preferências políticas escrachadamente e militar, enquanto deveriam exercer sua função com imparcialidade e respeito à população. E, claro, como nas últimas eleições, os cristãos tornaram-se alvos e vilões.
Enquanto a maioria é encorajada a defender suas causas, ideologias e princípios, os mesmos encorajadores querem tachar os cristãos de errados ao fazerem o mesmo, alegando que o Brasil é um Estado laico. A laicidade do País está prevista na Constituição Federal e, em resumo, caracteriza-se tanto pela liberdade de crença e proteção desse direito quanto pela separação administrativa entre Estado e Igreja.
Mesmo que o Brasil não seja um Estado teocrático (governado pela religião), como é o caso do Vaticano e dos países islâmicos como Arábia Saudita e Irã, isso não significa que o País seja um Estado ateu, como os países socialistas e comunistas (a exemplo de Camboja, China, Coreia do Norte e Cuba), muito pelo contrário. Cada um dos 215 milhões de brasileiros é livre para escolher seu dogma e tem esse direito garantido por lei.
Enquanto militam por suas causas e atacam a fé, jornalistas, pessoas públicas e candidatos cometem o triste equívoco de confundir a laicidade do Estado com o impedimento de que o cidadão-eleitor que se professa cristão tenha o direito de ter sua ideologia de vida como bússola moral para suas escolhas. Nas entrelinhas, o que alegam é que todos podem votar em seus semelhantes para que esses lhes representem e defendam seus ideais no governo, desde que não sejam cristãos – ou seja, 86,6% da população brasileira, que se declara seguidora do cristianismo, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010.
Em outras palavras, a partir do momento que o cidadão decide ter sua crença não pode mais exercer seu dever para com a sociedade. Assim, ao ganharem as eleições, tais candidatos poderão intrometer-se à vontade na fé alheia, determinando o que as instituições religiosas e os cristãos podem ou não fazer. Isso, quando lhes convém, porque se tivessem o apoio político da “frente evangélica”, como chamam, o discurso seria totalmente contrário.
O questionamento que fica é: por que julgam ser inadmissível que cristãos votem em candidatos com os mesmos princípios e valores? O ato de professar uma fé é justificativa para invalidar nossa voz? Ou seria essa a forma de revelarem o desespero que sentem ao notaram a força que o cristão tem ao enxergar quão importante a política é e se posicionar conforme os princípios estabelecidos na Bíblia?
Temos o privilégio de viver em um Estado laico, mas nosso voto reflete nossos ideais, valores e princípios. Não é uma questão de direita, centro ou esquerda e, sim, de escolher se posicionar e, consequentemente, defender os ideais, a fé e a família. No entanto, manejando as Escrituras Sagradas, sabemos que não poderemos fazer isso por muito tempo, então não podemos deixar para depois o que deve ser feito agora.
O fato de um cristão votar em um cristão não é uma tentativa de transformar o Brasil em um Estado teocrático. Cristão votar em cristão é garantir o direito de continuar vivendo nesse Estado laico, com o livre direito de manifestar sua fé sem restrições de horários na rádio ou televisão, sem impedimentos para cumprir o “ide e pregai o Evangelho a toda criatura”, com a certeza de que a sua igreja – seja ela qual for – estará sempre de portas abertas realizando tanto o trabalho espiritual quanto o social e sabendo que os demais ambientes da sociedade, a exemplo da escola, também respeitarão esse direito.
Então, cristão, não se deixe enganar pelos argumentos infundados que querem calar sua voz para, futuramente, neutralizar sua fé. Esteja consciente de seus direitos e deveres como cidadão. Escolha bem os seus representantes políticos, pois serão eles os responsáveis por garantir que você continue exercendo sua fé livremente ou, como muitos já deram a entender em seus discursos preconceituosos, impedir que a Carta Magna do Brasil seja respeitada em sua plenitude ao proibir que venhamos continuar vivendo em um Estado laico por nos tirar o prazer de desfrutar do direito de ir e vir com nossa fé, sem retaliações.