Você sabia que está à altura para enfrentar qualquer desafio?
O complexo de inferioridade lidera o ranking dos comportamentos que impossibilitam e destroem sonhos. Saiba como identificar e vencer o problema
Todos os dias que acorda, o ser humano recebe a oportunidade de recomeçar e de ser melhor. E, no fundo, todos querem escrever uma história de superação. Contudo poucos pensam que, antes de superar algo, é preciso enfrentar um desafio. E é nesse ponto que muitos ficam paralisados. Não porque sejam incapazes de vencer, mas porque são dominados pelo complexo de inferioridade.
Para a psicologia, o termo complexo refere-se a um padrão de emoções, memórias e percepções que estão enraizadas no inconsciente humano. “A pessoa com complexo de inferioridade funciona amparada por uma dúvida constante se vai conseguir ou não realizar algo. Ela tem uma incerteza profunda em relação a si mesma e isso paralisa seu comportamento de enfrentamento, gerando um efeito de autossabotagem”, explica a psicóloga Fabiana Todeschini, que ainda completa: “nesses casos, os pensamentos validados pela mente fazem com que o indivíduo acredite que tudo que ele produz não tem valor ou não está à altura do que a sociedade espera”.
Se preocupar exageradamente com a opinião dos outros é uma das características de quem sofre com o complexo de inferioridade. De acordo com Fabiana, a baixa autoestima, a fuga da responsabilidade, a ausência de amor-próprio e a busca desequilibrada pelo reconhecimento também são aspectos que descrevem uma pessoa que sofre com esse comportamento destrutivo.
Vale ressaltar que esses traços não surgem da noite para o dia, mas fazem parte de uma construção baseada em estímulos, explica a psicóloga: “em qualquer fase da vida, podemos ser levados a crer ou descrer a respeito de algum assunto. Dessa forma, o complexo é resultado de um estímulo que foi gerado para que a pessoa passe a validar apenas o que o outro faz e pense que seu empenho não produz o que é adequado”.
Esse conjunto de emoções cria uma barreira que impede que o indivíduo enxergue que a limitação está apenas na sua mente. Assim, ele acaba perdendo oportunidades. Para lidar com isso, a psicóloga dá a seguinte orientação: “precisamos compreender que nossa condição humana nos impede de alcançar a perfeição, mas que somos seres em treinamento constante”.
A guerra dos pensamentos
Não é possível impedir que um estímulo negativo surja ao longo de nossa vida. É compreensível que na infância, por exemplo, a criança não tenha discernimento para entender que algo seja ruim para ela e evitá-lo antes que crie raízes em seu interior, mas quantos adultos se deixam dominar pelos maus pensamentos a respeito de si mesmos?
Para o Bispo Guaracy Santos, diferentemente do que muitos pensam, o complexo de inferioridade não está relacionado à capacidade de uma pessoa. “A raiz desse comportamento é o ‘bendito’ vazio do coração, pois, quando ele está oco, tudo que não presta se instala ali, principalmente os complexos. Veja que isso é tão verdadeiro que há quem sofra com o problema mesmo tendo capacidade intelectual reconhecida”, afirma.
De forma enganosa, os maus pensamentos distorcem a realidade e fazem com que o indivíduo se veja menor do que o outro. “É preciso entender que o ponto de partida é sempre a cabeça, pois nenhum sentimento, desejo ou reação emocional vem antes de um pensamento. A única forma de combater esse mal é não deixando que ele se instale na sua mente. É como a história da lagarta e da borboleta: se você elimina a lagarta – que representa o pensamento – a borboleta, ou seja, os sentimentos, não nasce”, exemplifica o Bispo.
Esse processo não acontece automaticamente. É preciso esforço para vigiar o que passa pela nossa cabeça e agir quando algo incoerente é encontrado. O Bispo Guaracy alerta que esse deve ser um exercício diário: “ele está completamente ligado à Fé, afinal os maus pensamentos vêm para todos, mas fica mais fácil vencê-los quando o interior de uma pessoa está ocupado pela Presença de Deus”. Ele aponta qual é a solução: “o Espírito Santo torna o ser humano invencível a qualquer transtorno e complexo”.
Leia a seguir os relatos de Thaís, Mariana e José. Eles tinham complexo de inferioridade e, ao tentarem resolver o problema com as próprias forças, encontraram mais obstáculos. Contudo, quando usaram a Fé, mudaram o rumo de suas vidas.
Do complexo aos distúrbios alimentares
“Desde criança eu não gostava de mim.” Essa era a realidade da auxiliar de tráfego Thaís Esmeraldo, (foto abaixo) de 30 anos, desde a infância. Os comentários da família em relação ao seu jeito a fizeram se enxergar com desprezo. “Eu era muito tímida, retraída e não conseguia mudar. Isso gerou tristeza e depois depressão. Eu não queria ficar perto das pessoas e alimentava complexos dentro de mim. Eu me achava feia e gorda”, relembra.
Os anos passaram, mas o amadurecimento não lhe trouxe a cura dos complexos. Na adolescência, ela foi em busca de uma solução e encontrou um caminho que parecia ser o certo, mas que escondia ainda mais sofrimento. “Com 16 anos, eu foquei no emagrecimento, porque achava que assim seria uma pessoa extrovertida e querida pelos outros. Então, eu parei de comer e ficava sem almoçar e sem jantar.”
Por meio da internet, Thaís encontrou um grupo de meninas que passavam pelo mesmo problema e que pareciam se apoiar, mas que, na verdade, estavam sangrando por dentro. “No grupo, eu descobri a Ana e a Mia, que são nomes fantasia das doenças anorexia e a bulimia. Os distúrbios alimentares foram passados para mim como se fossem um estilo de vida, algo normal, e foi quando eu afundei mais ainda.”
Ela conta que chegava a ficar três dias sem comer e sem beber nada. Contudo, depois desse período, a fome surgia e era seguida pela compulsão. “Quando eu tinha essas crises, eu comia e vomitava. Então, eu desenvolvi bulimia. Nesse grupo em que eu participava havia uma regra: quem comesse mais do que o que foi determinado tinha que fazer um corte no braço como punição.
Então, eu estava sempre me cortando. Só que isso se tornou um vício. Eu sentia alívio na hora do corte, mas depois vinha o sofrimento”, explica.
Ela fazia cortes nos pulsos escondido e tentava se encaixar de alguma forma no mundo. “Eu me tornei ‘emo’ [estilo derivado de um gênero musical caracterizado por letras com ênfase na expressão emocional] para me sentir aceita. Eu criei um personagem para conseguir me expressar, mas na realidade eu me retraía ainda mais. Eu não me aceitava, não conseguia ser o que eu queria nem me concentrar ou pensar direito. Eu vivia uma confusão mental muito grande e me odiava.” Ela destaca que o problema não era consequência da falta de apoio médico, pois ela se consultava regularmente com psiquiatras e psicólogos.
A anorexia, a bulimia e a automutilação foram caminhos que Thaís seguiu achando que a levariam a uma solução, mas que ampliaram os sentimentos ruins e a depressão, a ponto de ela desistir da própria vida. “Primeiro, eu tentei o suicídio cortando o pulso esquerdo e não deu certo e, uma semana depois, eu cortei o pulso direito e também tomei muitos remédios. No final eu passei mal e acabei vomitando todos eles”, diz.
A paz que ela tanto buscava veio em uma madrugada por meio de um programa na TV. “No programa, eu ouvi o Bispo Guaracy Santos falando dos sintomas da possessão demoníaca e eu tinha quase todos, como dormir muito, sentir dores nas articulações, ouvir vozes, ter complexos e pensar em suicídio. Então, eu entendi que meu problema era espiritual. No primeiro dia que pisei na Universal já saí diferente”, descreve.
Thaís demonstrou sua decisão em suas atitudes assim que voltou para casa: “joguei fora tudo que me lembrava meu passado, como roupas pretas, arquivos de músicas pesadas, livros, colares, pulseiras. Me batizei nas águas e, alguns meses depois, recebi o Espírito Santo”.
Thaís afirma que sua vida antes era marcada pela confusão de pensamentos, mas logo que recebeu o Espírito Santo foi como se a sua mente se abrisse. “Eu entendi que se Deus me ama e Ele me aceitou, não tem por que eu me rejeitar ou me menosprezar. Depois disso, o que me importa é o que Deus pensa de mim e não mais a opinião das pessoas. Não tenho mais depressão nem distúrbio alimentar, pois fui curada de dentro para fora. Hoje, há uma força dentro de mim e não tenho medo de nada porque sei que é o Espírito Santo Quem me guia”, conclui.
A luta para se sentir adequada
Mariana Faria de Oliveira, (foto abaixo) de 25 anos, nasceu com uma deformidade no pé e foi submetida a uma cirurgia ainda na infância. O tratamento continuou com o uso de bota ortopédica, elástico e outras ferramentas que chamavam a atenção das crianças na escola. “Eu percebi que era diferente quando os outros alunos começaram a rir de mim e a fazer brincadeiras maldosas. Eles chegavam até a me bater. Tudo isso fez com que eu me sentisse inferior a todos”, comenta.
Essa fase escolar passou e a esperança era que o complexo de inferioridade também fosse eliminado, mas não foi o que aconteceu. “Eu entrei na faculdade e sentia que ali não era o lugar que eu deveria estar. Eu me sentia fora do padrão, mas dessa vez não era só pelo meu pé, mas por acreditar que tudo em mim era inadequado e eu me sentia feia. Em qualquer ambiente, eu me sentia inapropriada.”
Mariana reconhece que nesse período ninguém a destratava, mas era como se sua mente estivesse programada para que ela se sentisse inferior. “Qualquer um que olhasse para mim eu já achava que era porque me via diferente e, por isso, eu me excluía dos demais”.
Quando o ser humano identifica um problema, naturalmente, ele busca soluções e nesse caso não foi diferente. “Eu tentava me adequar chamando a atenção das pessoas e investia no meu exterior.
Eu mudava o cabelo, usava roupas parecidas com as de outras meninas e fazia tudo para me sentir como elas”, cita.
Enquanto isso, o interior de Mariana se mantinha vazio e cheio de tristeza. “Era como se no mundo não houvesse um lugar para mim. Existia uma pressão muito grande de sentimentos e uma mistura de tristeza e muita raiva por eu ser quem era. Parecia que a qualquer momento eu explodiria”, detalha.
Quando estava em seu pior momento, Mariana lembrou do que foi plantado em sua mente quando ainda era criança e participava das reuniões com sua família na Universal. “Senti saudade, me lembrei como me sentia bem na igreja e que eu era aceita e que ninguém me discriminava ou me olhava de modo diferente. Então, eu fui em busca dessa ajuda”.
Ela conta que no primeiro dia já aconteceu sua entrega. “Eu sabia que se saísse com aquilo dentro de mim nunca seria feliz. Então, coloquei tudo para fora e saí da reunião diferente. Parei de dar ouvidos aos meus sentimentos, vi que eu era importante para Deus e, assim, fui mudando gradativamente.”
Para vencer nesse processo, Mariana contou com a perseverança, uma vez que era preciso uma verdadeira desconstrução de si mesma. “Não foi fácil, mas parei de focar no meu exterior, na minha aparência, e comecei a investir no meu interior. Quando eu olhei para dentro de mim, passei a aceitar a minha imagem e quem eu era”, enfatiza.
Essa atitude a aproximou de Deus e do Espírito Santo, que foi o responsável pela conclusão de sua mudança. “Hoje eu sou totalmente diferente e não me sinto mais inferior a ninguém porque o que eu carrego no meu interior é muito precioso: o Espírito do Próprio Deus. Todo o vazio foi preenchido e hoje eu vejo o meu valor. Eu não preciso mais ficar preocupada com a opinião dos outros, pois o que Deus acha de mim me basta”, finaliza.
O destruidor de sonhos
Na vida de José Gomes das Neves, (foto abaixo) de 64 anos, o complexo de inferioridade também teve início cedo e impactou sua vida durante muitos anos. “Esse sentimento começou de forma inconsciente. Na escola, eu achava que todo mundo era melhor do que eu. Assim eu desistia dos meus sonhos, subia um, dois, três degraus e depois desistia. Eu tinha mesmo falta de autoestima.”
Seus dias eram marcados pela comparação: “eu olhava para colegas que tinham uma condição melhor do que a minha e eu achava que não podíamos ser amigos porque eu era pior. Era como se eu não me encaixasse nos padrões estabelecidos pelo mundo. Até desisti de entrar na faculdade, quando era jovem, porque não me achava suficientemente capaz. Hoje eu tenho clareza de que o complexo de inferioridade foi a raiz de diversos problemas”, analisa.
Um desses problemas foi o divórcio da primeira esposa: “fui traído depois de 12 anos de relacionamento. A minha ex-mulher saiu do País com outra pessoa e eu fiquei com mais
complexos ainda”.
José conta que seus medos e dúvidas a respeito de si mesmo o levaram à depressão e ao vício. “Um dia uma pessoa usada pelo mal, me vendo passar por toda essa situação difícil, falou que era para eu cheirar um pó e que ficaria bem. Era cocaína. Eu usava a droga e achava que o fazia socialmente, mas perdi o controle e cheguei no fundo do poço. Cheguei a gastar todo o meu salário em uma noite em drogas e também com bebidas e farra”, revela.
A história de José tomou um rumo ainda pior quando ele foi exonerado de seu cargo no funcionalismo público federal. Essa situação mexeu até com a sua vontade de viver e, então, ele tentou o suicídio duas vezes. “Eu fui morar nas ruas e passei um ano sem ter minha própria casa. Vivi a maior parte desse tempo na rodoviária do Rio de Janeiro e outras vezes ficava na casa de um amigo, mas, em geral, a rodoviária virou a minha casa. Contudo consegui ir para Brasília e ali encontrei a saída”.
Na capital do País, José foi em busca de sustento. “Eu vendia bala no farol e fiz diversas coisas para me sustentar. Até que eu lembrei da Universal. Eu conheci a Igreja anos antes, por meio de uma prima que tinha me levado a uma reunião, mas na época eu não tinha entendido sobre as coisas de Deus e nunca mais voltei. Então, quando estava em Brasília, lembrei daqueles momentos e dei uma chance a Deus e a mim mesmo.”
A decisão de ir à igreja foi acompanhada das atitudes necessárias para que a mudança acontecesse: “eu abandonei os vícios, abri mão da vida errada e parei de me comparar. Agora, eu não vivo com base nos padrões deste mundo porque entendi que o padrão de Deus é totalmente diferente. Eu tomei o antídoto que acabou com aquele complexo, que é a fé racional, me batizei nas águas, recebi o Espírito Santo e hoje vivo para servir a Deus”.
A depressão e os vícios ficaram no passado e, segundo José, deram lugar ao desejo de levar a outras pessoas a vida que ele recebeu por meio da fé. “Hoje, aquele que um dia foi abandonado casou com uma mulher de Deus e juntos fazemos parte do trabalho social nos presídios. Não tenho mais prazer em nada deste mundo, pois minha vida é do Senhor Jesus. Não tenho preocupação com nada, mas só com a minha Salvação”, finaliza.
Como se superar
Esses relatos deixam claro que é possível vencer o complexo de inferioridade, mas, para que isso aconteça, é preciso escolher em que você vai depositar sua confiança: no que os maus pensamentos afirmam ou no que a Palavra de Deus diz em relação a você.
O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26), um pouco menor do que os anjos (Hebreus 2.7) e é tão amado que o Altíssimo abriu mão de seu Único Filho para que todos pudessem ter a oportunidade da Salvação (João 3.16). Nesse contexto, a fé na Palavra de Deus é a arma eficaz para vencer os maus pensamentos e os medos.
Essa mudança é concretizada quando o indivíduo passa a carregar em si o Espírito de Deus. Assim, mesmo quando o obstáculo parece ser grande demais e até intransponível, aqueles que têm a vida apoiada nEle podem afirmar: “Tudo posso nAquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).