Três em cada quatro brasileiros têm dívidas

Como resolver essas pendências e ainda pagar as contas que estão chegando?

O ano de 2021 não foi bom financeiramente para muitos brasileiros. Três em cada quatro se endividaram, totalizando 74,6% da população, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Com base nesse levantamento divulgado em setembro do ano passado, a CNC estima que cerca de 12,2 milhões de famílias possuem dívidas a vencer no cheque especial, cartão de crédito, prestações de carro e de casa, cheque pré-datado, carnê de loja, crédito consignado e empréstimo pessoal.

Como se não bastassem essas pendências acumuladas, também durante a pandemia, uma boa parcela da população ainda terá que lidar com as contas que já começam a chegar neste início de ano: a mensalidade da escola dos filhos, uniformes, livros e outros materiais escolares que não são baratos. Somam-se a eles também impostos como IPTU e IPVA. Como pagar tudo isso?

O psicoterapeuta financeiro Pedro Braggio afirma que o primeiro passo é entender quais fatores, além da pandemia, podem ter levado às dívidas. “Um deles é a falta de educação financeira. O brasileiro não teve educação financeira na escola, não sabe lidar com os aspectos econômicos de sua vida e essa desinformação econômica influencia até no ambiente familiar. Muitas vezes, o filho de um casal pede um brinquedo e os pais não conseguem dizer não à criança. Isso, de alguma forma, impacta no orçamento da família também.”

Outro problema é que as pessoas não conhecem o seu orçamento real: “elas não costumam olhar o extrato bancário rotineiramente ou usam de forma errada o cheque especial ou o cartão de crédito, modalidades que costumam dar a ilusão de que tudo é possível. Contudo os limites do cartão e do cheque especial não são os limites econômicos reais. Essas duas ferramentas não deveriam ser usadas nem em emergências”, avisa.

Primeiro passo
O ideal é aproveitar o início do ano e fazer um planejamento financeiro. “Isso vale para quem está empregado ou não. Tenha calma para visualizar quais são as receitas e as despesas. O ideal é reunir a esposa e os filhos, colocar no papel a média dos ganhos e dos gastos nos últimos três meses e verificar o saldo. Também é preciso abrir os armários e roupeiros e ver tudo o que você possui para não gastar repetidamente. Não é hora de comprar por impulso. Você pode ter várias coisas guardadas, não saber e estar pensando em comprá-las porque não se lembra delas”, diz Braggio.

O passo seguinte é checar o que pode ser renegociado e quais são as prioridades de pagamento. “O importante, neste momento, é manter o credor informado da sua situação e do seu interesse de pagar suas dívidas, mesmo que isso não possa ser feito imediatamente. Muitos bancos têm congelado dívidas, mas é preciso ficar atento aos juros que vão incidir sobre os pagamentos quando você voltar a realizá-los”, alerta.

Braggio diz que o ideal é que cada família tenha o que ele chama de colchão financeiro: “uma reserva financeira para lidar com as adversidades econômicas, uma quantia que juntou com os ganhos exatamente para passar por períodos de dificuldade econômica ou para a realização de um sonho. Lembre-se que a sua condição financeira não deve ser vista como algo que afete a sua autoestima. É preciso sempre tentar entender o que está acontecendo nesse campo e tentar melhorar. Liste e organize suas finanças. Pode levar tempo, mas você consegue”, observa.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: Getty images