“O ateísmo é inconsistente com o método científico”, afirma cientista brasileiro premiado
Físico e astrônomo, Marcelo Gleiser defende que a Ciência é incapaz de matar Deus
“O ateísmo é inconsistente com o método científico”. A afirmação é do físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, primeiro sul-americano a receber a importante honraria científica “Prêmio Templeton”.
Gleiser foi premiado na edição de 2019, cuja cerimônia oficial acontecerá em maio. Além da honraria e do destaque mundial do prêmio, o físico também receberá 1,1 milhão de libras esterlinas (o equivalente a 5,6 milhões de reais).
De acordo com Heather Templeton Dill, presidente da fundação John Templeton que concede a honraria desde 1972, a escolha pelo brasileiro foi feita por ele ser “um dos principais proponentes da visão que ciência, filosofia e espiritualidade são expressões complementares que a humanidade precisa para abraçar o mistério e explorar o desconhecido”.
O cientista brasileiro tem 60 anos e é professor da Dartmouth College (EUA).
Porque o ateísmo é anticientífico
Para Marcelo Gleiser, “a Ciência não mata Deus”.
Em entrevista à revista Scientific American, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, ele explicou que muitas pessoas vêm a Ciência como opositora a Deus. Todavia, isso não deve acontecer.
“A ausência de evidências não é evidência de ausência”, explicou Gleiser. Ou seja: fato de a Ciência não ser capaz de provar a existência de Deus não significa que Deus não existe. Ao contrário, apenas demonstra como a Ciência é limitada.
“Acredito que devemos adotar uma abordagem muito mais humilde do conhecimento, no sentido de que, se você analisar cuidadosamente a maneira como a Ciência funciona, verá que, sim, é maravilhoso, magnífico, mas tem limites. E nós temos que entender e respeitar esses limites. E, ao fazer isso, ao entender como a Ciência avança, a Ciência se torna uma conversa profundamente espiritual com o misterioso, sobre todas as coisas que não sabemos”, afirmou. “E isso não tem nada a ver com religião organizada, obviamente, mas informa minha posição contra o ateísmo”, completou o cientista.
Em resumo: aceitar que a Ciência não é capaz de oferecer todas as respostas é agir racionalmente.
Gleiser é reconhecido internacionalmente por seu trabalho, estudando desde as propriedades do universo primitivo até o comportamento das partículas fundamentais e as origens da vida. Agora, foi premiado por defender que o ateísmo não condiz com o método científico.
“Eu sinceramente acho que o ateísmo é inconsistente com o método científico. O que é ateísmo? É uma declaração, uma afirmação categórica que expressa a crença na descrença. Mas, na Ciência, não fazemos declarações. Nós dizemos: Ok, você pode ter uma hipótese. Você precisa ter alguma evidência a favor ou contra isso”, concluiu Gleiser.
Ou seja: rejeitar Deus apenas por não poder comprovar Sua existência é, no mínimo, anticientífico.