30% dos apostadores de bets deixam de comprar itens essenciais e medicamentos para jogar
Um levantamento realizado em 2024 pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e pela AGP Pesquisas aponta que 63% dos brasileiros que apostam em jogos on-line comprometem uma parte significativa do salário e 30% deixam de comprar itens essenciais (19%) e medicamentos (11%) para usar o dinheiro em apostas.
Embora, no final do ano passado, o governo tenha sinalizado “preocupação com o endividamento da população” e anunciado a criação de um grupo para “estabelecer ações e enfrentar problemas de saúde relacionados às plataformas de bets”, nada efetivamente foi feito até o momento.
Segundo a Agência Brasil, em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o uso de recursos de programas sociais, como o Bolsa Família, em apostas eletrônicas.
Porém, o secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, disse que existem dificuldades na fiscalização por falta de esclarecimentos do próprio STF.
A Advocacia-Geral da União (AGU) informou ao Supremo quais são as dificuldades para impedir o uso de recursos do Bolsa Família nas apostas e o governo federal sinalizou não que não existem dispositivos suficientes para identificar a origem do dinheiro usado nas apostas.
Enquanto parece que ninguém sabe o que fazer, dados disponibilizados pelo Banco Central revelam que os brasileiros gastaram cerca de R$ 240 bilhões em apostas somente em 2024. Para se ter uma ideia da grandeza desse montante, é como se cada um dos 220 milhões de habitantes do país tivesse apostado R$ 1.091.
Em razão do total desconhecimento financeiro, uma parcela significativa dos brasileiros acredita que as bets são um “investimento” e uma espécie de solução para a falta de dinheiro (quando, na verdade, elas fazem a grande maioria das pessoas
perderem dinheiro).
Segundo uma pesquisa da Creditas, Wellhub e Opinion Box com profissionais de recursos humanos e pessoas em cargos de liderança, 53% disseram que os funcionários estão passando por dificuldades financeiras por causa das apostas e que 54% jogam em horários de descanso, como nos intervalos para o almoço e o café.
Bruno Carone, CEO da Férias & Co., aponta outro comportamento preocupante: muitos trabalhadores estão vendendo as férias para apostar nas plataformas. Obviamente, além das perdas financeiras, abrir mão dos dias de descanso pode prejudicar a saúde mental dos colaboradores, a produtividade e até mesmo colocar seu emprego em risco.
Em meio a isso tudo, o Estado brasileiro – sempre tão patriarcal – parece que não tem pressa em combater essa epidemia de vício, dependência emocional e prejuízos financeiros. Até o momento, é cada um por si e as plataformas
contra todos.
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