A cada 50 mortes por raios, uma é no Brasil

Mais de 78 milhões de descargas atmosféricas atingem o território brasileiro por ano. Saiba como não se tornar vítima delas

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O Brasil é campeão mundial em incidência de raios elétricos. Mais de 78 milhões de descargas atmosféricas atingem o solo brasileiro anualmente, de acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe).

Elas matam, em média, 110 pessoas por ano e colocam o Brasil como o segundo país com maior registro de vítimas fatais na América Latina, atrás apenas do México, e o sétimo colocado no ranking mundial.

Embora a quantidade de mortes por raios tenha diminuído na última década, ela ainda é considerada alta: a cada 50 mortes, uma é no Brasil. A posição geográfica do País e até o aumento do aquecimento global registrado nos últimos anos, que gerou temperaturas extremas e tempestades cada vez mais fortes, podem ser fatores que elevaram o número de raios.

E há outro detalhe importante: 43% das mortes registradas em território brasileiro, entre 2000 e 2019, ocorreram no verão, estação em que as altas temperaturas e a umidade favorecem a formação de tempestades e também de raios. O fenômeno é causado pelo movimento de elétrons dentro das nuvens, o que faz o ar ao seu redor se iluminar, resultando em um clarão e um aquecimento que geram um som: o trovão. A chegada da estação em que os raios têm grande prevalência é sinal de alerta para que as pessoas saibam se prevenir de descargas elétricas que podem ser fatais.

Para Osmar Pinto Junior, coordenador do Elat/Inpe, o grau elevado das descargas elétricas aumenta o risco de morte. “A intensidade média de um raio é de 20 mil ampères, equivalente a mil vezes a intensidade da corrente de um chuveiro elétrico. A voltagem pode chegar a 100 milhões de volts. Comparando com uma tomada caseira, ela é praticamente 1 milhão de vezes maior. Ela dura cerca de meio segundo e sua trajetória varia de 5 km a 10 km”, esclarece.

Pinto Junior recomenda que, ao ver a formação de nuvens de tempestade, deve-se procurar um local seguro até que a tormenta passe. “A maioria dos óbitos ocorre ao ar livre e a maior parte deles (80%) tem como focos áreas abertas no meio rural. Por isso, buscar abrigo dentro de um imóvel ou de um veículo é uma medida de segurança. Mas nem todo veículo é seguro para se proteger de raios. As motos são muito perigosas, pois são abertas. Muitas pessoas pensam que estão seguras por causa dos pneus de borracha, mas não”, alerta.

Ele ainda destaca certos cuidados que devem ser tomados dentro de casa durante tempestades com raios: “não fique encostado na geladeira e não tome banho no chuveiro elétrico. A maior parte das mortes dentro de casa ocorre porque as pessoas usam celulares conectados à rede elétrica e, por isso, se deve evitar o contato com aparelhos elétricos conectados à tomada”, aconselha.

Ele também desfaz alguns mitos em relação à queda de raios: “um raio cai sim duas vezes no mesmo lugar. A prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ), que é atingido por até seis raios por ano. Esconder espelhos também é uma crendice popular inócua para se proteger porque o utensílio não atrai descargas elétricas. A crença surgiu na época em que os espelhos tinham grandes molduras metálicas, essas, sim, um grande atrativo para os raios”.

Ele esclarece ainda que existem diferenças entre raios e relâmpagos, embora sejam usados como sinônimos. “Os relâmpagos são descargas elétricas que ocorrem dentro das nuvens de tempestade, já os raios são as descargas que atingem o solo. Tecnicamente, os raios são de dois tipos principais: ascendentes, quando começam no solo e sobem em direção à tempestade, e descendentes, quando saem da nuvem em direção ao solo”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: getty images