A empatia estranha da esquerda
O povo brasileiro está perplexo com a reação dos partidos de esquerda no Congresso Nacional que sinalizaram que pretendem derrubar a medida provisória do governo federal que aumenta o valor médio do Bolsa Família. O projeto do governo é aumentar o auxílio para as pessoas de baixa renda – dos atuais R$ 196 para um mínimo de R$ 300 – e renomeá-lo de Auxílio Brasil. Nos bastidores, a oposição se movimenta sorrateiramente para impedir que o benefício chegue às mãos da camada mais pobre da população brasileira.
A estranheza reside no fato de que essa pauta sempre foi defendida a ferro e fogo pela esquerda e se imaginava que a razão para isso fosse sua empatia, a capacidade de compreender a condição real dos menos desfavorecidos. Assim sendo, esses partidos deveriam estar unidos para que a medida fosse aprovada o quanto antes. Só que não! Ao que parece, existe uma preocupação perturbadora capaz de remover qualquer resquício de sensibilidade humana: o receio da referida medida contribuir para a melhoria da avaliação do governo por parte dessa camada da população, muito explorada para esse fim pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).
Para disfarçar a atitude insana, a oposição pretende usar como cortina de fumaça o discurso de que será uma irresponsabilidade fiscal ajudar os mais necessitados. Além disso, pretende criar a narrativa de que esse projeto do governo federal irá furar o teto dos gastos públicos. Se não obtiver êxito em sua empreitada no Congresso Nacional contra a parcela mais carente do povo brasileiro, a estratégia dos líderes da oposição será levar a discussão para a arena do Supremo Tribunal Federal (STF), o que tem sido comum, já que no Plenário da Câmara eles não têm conseguido reunir votos suficientes para avançar com suas ideias que mais atrapalham do que ajudam o Brasil.
O que causa espécie nesse famigerado comportamento é que o Bolsa Família foi criado na época em que a esquerda brasileira estava no poder. Esse programa de transferência de renda teve início em 2003, durante o primeiro mandato do presidente Lula (PT), a partir da unificação e da ampliação de outros programas de transferência de renda existentes à época. O programa, hoje batizado de Auxílio Brasil, já foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um importante e eficiente mecanismo de redução da pobreza e uma forma eficaz de melhorar os indicadores de desenvolvimento humano. Desde sua implantação, a pobreza multidimensional caiu consideravelmente, sobretudo entre os brasileiros sem acesso aos itens básicos de assistência social. Será que o objetivo sempre foi se manter no poder e se aproveitar das regalias palacianas e dos cofres públicos, usando a bandeira de ajuda aos pobres como pano de fundo?
O consenso sobre a importância do Auxílio Brasil como via de acesso a outros direitos e políticas sociais, especialmente saúde e educação, é notório entre os partidos da base do governo e o chamado “Centrão”. No entanto, os partidos de esquerda, visando tão-somente seu projeto político de voltar ao poder, se colocam agora na posição de desafetos das famílias que serão beneficiadas pelo aumento desse auxílio social.
A verdade é que o Auxílio Brasil, da forma como foi repaginado pelo governo federal, contribui para o desenvolvimento uniforme do País, ajudando no desenvolvimento humano de regiões que antes eram negligenciadas pelos governos petistas. Os pobres foram sim usados como massa de manobra para perpetuar a esquerda na cadeira presidencial. Os problemas sociais do Nordeste eram tratados com paliativos para manter os miseráveis na mão do governo da época, para serem usados como moeda de troca por votos e para sempre. O acesso aos benefícios do programa aumentou ainda a capacidade de tomada de decisão das mulheres em relação às questões domésticas e impulsionou a força delas na sociedade, pois são elas as titulares preferenciais do benefício e que recebem o cartão e o pagamento.
A postura dos partidos de esquerda de obstruir e impedir o aumento e o aperfeiçoamento desse programa social faz cair a máscara que usam como defensores dos mais pobres e menos favorecidos. Essa atitude política e socialmente irresponsável pode prejudicar quem mais precisa do benefício: as pessoas de baixa renda. Contudo essa atitude demonstra uma radiografia que comprova o que estava por trás do discurso demagogo de defensor dos menos contemplados. O povo, porém, não está deixando isso passar despercebido. Nas eleições gerais do ano vindouro, especialmente as pessoas mais carentes saberão identificar quem realmente zela pela dignidade do povo brasileiro.
Denis Farias é professor e consultor jurídico.