A fome ainda é uma realidade para milhões de pessoas no mundo
Conheça a história de quem superou a adversidade com a ajuda de voluntários
Conseguir erradicar a fome no mundo. Esse é um dos principais objetivos da “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, da Organização das Nações Unidas (ONU). Contudo, os últimos dados do relatório “A Segurança Alimentar e a Nutrição no Mundo”, divulgado recentemente, não são animadores e indicam que a fome tem aumentado nos últimos três anos.
De acordo com o estudo da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2017, 821 milhões de pessoas no mundo, o que corresponde a uma a cada nove, não ingeriram as calorias mínimas para suas atividades diárias. No geral, são 15 milhões a mais de pessoas subnutridas em todo o mundo, do que no ano anterior (2016) e 44 milhões a mais do que em 2015.
Os conflitos, os eventos climáticos extremos e as crises econômicas são apontados pela organização como os principais causadores deste crescimento. Mas, a marginalização, a desigualdade e a pobreza também são aspectos muito relevantes quanto à falta de acesso a uma alimentação satisfatória.
O avanço se deve à redução de investimentos
A professora doutora do Instituto de Biociências da Unesp em Botucatu, no interior de São Paulo, Maria Rita Marques de Oliveira, que atua na articulação da Rede Americana de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, explica que o avanço do índice da fome no mundo se deve à redução dos investimentos nas políticas sociais dos atuais governos.
“As crises do modelo capitalista são cíclicas e sempre refletem nos índices de fome e desemprego. Em tempo de crise, teria que haver políticas emergenciais de proteção social. Bastaria vontade política”, afirma.
Acolhida por voluntários
Diante dessa fragilidade das políticas públicas, a sociedade se organiza e une voluntários em projetos que auxiliem a demanda de pessoas que vivem, por exemplo, em situação de rua, e enfrentam a escassez não só de comida, mas de moradia, de roupa, de cuidados médicos, de higiene, educação, qualificação profissional e tantas outras questões relevantes para o protagonismo social.
A cuidadora de idosos Tatiane Cristina conhece bem o que é sofrer na pele a carência de assistência social e, principalmente, de comida e abrigo. Há 4 anos, quando ela vivia nas ruas da “cracolândia” – local situado no centro da capital de São Paulo onde se reúnem usuários de drogas -, passou fome e chegou a pesar cerca de 40 quilos.
Numa noite, Tatiane foi abordada por voluntários de um grupo social que a acolheram. “Eu sabia que, ao menos uma vez por semana, eles estavam ali trazendo comida e uma palavra de esperança para nós, mas eu achava tudo muito chato. Apenas as doações me interessavam”, conta. Mas, naquele momento, ela parou para prestar atenção ao que eles falavam. “Foi diferente. As palavras ficaram martelando na minha mente”, lembra.
Grupo “Anjos da Madrugada”
Os voluntários que atenderam Tatiane fazem parte do grupo “Anjos da Madrugada”, da Universal. O projeto existe desde 2011 e atua com base em atender as necessidades essenciais de pessoas que vivem em situação de rua e auxiliá-las a superarem as condições em que vivem.
Hoje, com a vida reconstruída, Tatiane (foto a dir.) sente-se orgulhosa em poder prestar solidariedade aos que vivem na mesma situação de rua na qual viveu outrora. Ela é uma das mais de 25 mil pessoas voluntárias que os “Anjos da Madrugada” têm ao redor do mundo, inclusive em regiões onde a fome é avassaladora, como na África e Ásia, afetando centenas de milhões de pessoas.
Ainda segundo o relatório da FAO, na América Latina e no Caribe, a fome também apresentou aumento e afeta cerca de 39 milhões. No Brasil, mais de 5,2 milhões de pessoas passaram um dia ou mais sem comer em 2017.
O grupo “Anjos da Madrugada”, além de estar presente em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, beneficiando diretamente milhares de pessoas, também está em mais 20 países de todos os continentes. Entre eles, África do Sul, Argentina, Austrália, Belize, Estados Unidos, Espanha, Turquia e Zâmbia.