A inveja destrói o presente e limita o futuro de quem a alimenta

Ao desejar o que o outro tem, a pessoa invejosa fica com a vida paralisada e ainda abre caminho para a depressão e a ansiedade

Sentir-se mal pela conquista dos outros, querer o que outra pessoa tem, comemorar o fracasso de terceiros e desdenhar deles sem motivo. Essas são algumas características de quem alimenta um dos sentimentos mais prejudiciais para o ser humano: a inveja. “É como se fosse uma angústia alimentada por maus pensamentos e quando o invejoso acha que a vida do outro é melhor que a dele, que o outro tem uma condição melhor ou que é mais capaz”, explica a psicóloga Camila Galhego.

Além de ser um sentimento negativo, a inveja é muito malvista pela sociedade, afinal, quem quer estar perto de uma pessoa invejosa? Porém, antes de apontar o dedo para o próximo, é preciso entender o que está por trás dela e fazer uma autoanálise. Isso porque muitas vezes a inveja surge de forma discreta, quase imperceptível, vai ganhando contornos mais robustos com o passar do tempo e trazendo uma série de danos para quem a alimenta.

A inveja tem diversas origens, entre elas a baixa autoestima e a dificuldade de reconhecer o próprio valor. “Quem tem uma percepção muito negativa de si é muito mais vulnerável a se comparar e, nesse processo, exalta a vida do outro à medida que se inferioriza”, detalha Camila.

Ela ressalta que outro grupo de pessoas que também pode ser sutilmente atingido pela inveja é aquele formado por quem “não está em um bom momento da vida, como alguém que não está em uma boa fase profissional, por exemplo. Se ele vir outra pessoa no patamar que ele gostaria de estar, é possível que surja o sentimento de inveja”, salienta.

É importante destacar que, independentemente do caso, esse processo começa com o foco que é dado: “quem alimenta a inveja costuma ficar muito focado na vida do outro e não olha para a sua vida”. Ela explica ainda que esse sentimento destrutivo é comum, mas não pode ser considerado normal.

O preço da inveja
Ficar atento à vida do outro e desejar o que ele tem não é nada produtivo, pois abre espaço para o surgimento de outros sentimentos negativos, como a tristeza. “Um dos maiores problemas que vemos é que o invejoso acaba paralisado e, por não se achar capaz, não foca em melhorar sua vida”, avalia. Nesse sentido, o indivíduo acaba se afastando de si mesmo para dedicar mais tempo a buscar informações sobre os outros, se comparar, se autodepreciar e se achar injustiçado. Aí que podem surgir questionamentos como “por que as coisas são mais fáceis para ele?” e “por que ele tem mais chances do que eu?”

A repetição constante desse ciclo “pode desencadear depressão, crises de ansiedade, amargura e pensamentos muito pessimistas. Então essa pessoa não vai ter felicidade nem vai ter paz”, ressalta Camila.

Cortando os laços
Como a inveja é um sentimento, o ser humano tem total capacidade de dominá-la por meio da razão. O primeiro passo para se livrar dela é se autoconhecer, encarar a si mesmo e sem nenhum tipo de vergonha vasculhar seu interior em busca de qualquer sinal dessa “erva daninha”. Identificar a forma que esse sentimento se camufla por trás de comentários e de maus olhos é essencial para conseguir tirá-lo dali.

Se a pessoa identifica a inveja como uma consequência do complexo de inferioridade, Camila explica que é preciso mudar a imagem que ela tem de si mesma. “Ela precisa trabalhar mais para desenvolver a autoestima”, comenta. “Hoje em dia acreditamos que existam dois pilares que são muito importantes para reverter esse quadro. O primeiro é a ajuda profissional, porque a pessoa com baixa autoestima tem todo um histórico negativo que ela precisa identificar e ressignificar. E o segundo é a espiritualidade. Sabemos que quando a pessoa se conecta com Deus ela começa a ter um novo olhar para si e para a sua vida”.

O que Deus ensina sobre a inveja?

A Palavra de Deus traz inúmeros exemplos da inveja. Já no primeiro livro da Bíblia, Gênesis, a história de Caim e Abel revela o potencial destruidor desse sentimento.

Outro caso bíblico que por pouco não terminou em tragédia foi o do profeta Asafe, descrito em Salmos 73.2-3: “… os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios”. Em um vídeo publicado em suas redes sociais o Bispo Edir Macedo comenta essa história e chama a atenção para os riscos de escolher a direção errada: “Asafe ficava observando a vida alheia, em vez de cuidar da própria vida, então ele passou a ter inveja e quase se desviou”.

Atualmente, o problema também é comum entre aqueles que conhecem a Fé. “Existem pessoas que são fiéis na igreja, oram, jejuam e fazem isso e aquilo, mas elas mesmas não estão vendo os frutos da sua vida dedicada a Deus. Em vez disso, estão vendo os frutos daqueles que não estão dando a mínima para o Senhor, que parecem pessoas bem-sucedidas e parecem realmente muito felizes e isso lhes causa inveja e é aí que está o problema”, diz o Bispo Macedo.

A comparação faz com que o ser humano olhe apenas para a parte boa do outro e a deseje de tal forma que “acaba se desviando dos seus princípios, dos seus valores morais, espirituais e da sua Fé para ficar observando a vida dos outros”. Essa tem sido a ruína de muitos. Para não cair nessa cilada do mal é preciso estar blindado: “com o Espírito Santo temos o discernimento para virar as costas para o brilho desse mundo, (…) mas, para recebê-Lo, a pessoa precisa andar na justiça, que é olhar para a sua própria vida e viver dentro do padrão da Fé sem ficar olhando para os outros”, conclui o Bispo Macedo.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Arte: Eder Santos e Foto: Alberto L. Pomares / getty images