Alerta: não perdoar pode matar
O perdão não faz bem apenas para quem é perdoado. A ciência comprova que esse sentimento traz mais benefícios na vida de quem o pratica. Quem tomou essa decisão, confirma
Literalmente, não perdoar faz mal ao coração. A ciência comprova que essa atitude não só resulta em problemas emocionais como também em males físicos. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em 15 países, entre eles Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Índia, apontou que 20% das pessoas atendidas em serviços de saúde de atenção primária tiveram uma reação negativa no organismo por terem dificuldade em lidar com a mágoa, o ódio, o rancor, os traumas e outros conflitos psíquicos decorrentes de não perdoar.
A pesquisa revelou que não conseguir perdoar – o que inclui aquela bem comum indiferença disfarçada em relação ao ofensor – atrapalha o organismo a produzir substâncias neurotransmissoras que promovem a sensação de bem-estar e de alegria. Além disso, uma pessoa que não consegue perdoar pode ter altos níveis de cortisol no corpo, o que desencadeia o aumento da frequência cardíaca, a constrição dos vasos sanguíneos, a elevação do açúcar no sangue e a redução da insulina. Tudo isso pode levar ao infarto ou ao acidente
vascular cerebral (AVC).
Outros estudos sobre os prejuízos da atitude de não perdoar não faltam, como o apresentado no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). No estudo, 130 pacientes responderam a dois questionários: um para avaliar a disposição para o perdão e outro sobre espiritualidade e religiosidade. O levantamento encontrou mais ocorrência de infarto entre aqueles que têm dificuldade de conceder o perdão. Além disso, mostrou que, entre quem infartou, 31% afirmaram ter tido perda significativa da fé.
Reflexos no corpo
A psicóloga Lêda Milazzo, (foto abaixo) de Goiânia (GO), explica como acontece a relação entre os sentimentos negativos e os problemas no organismo: “quando ocorre a ofensa, se instalam no ofendido sentimentos de raiva, rancor, mágoa e tristeza, mantendo-o preso ao passado, remoendo o acontecido, sem vivenciar o presente de forma leve e serena”. Para ela, esses sentimentos ruins são “como algo que comemos e está estragado, que, enquanto não é colocado para fora, fica ali fazendo mal, até que seja ‘expelido’”.
Lêda concorda com o estudo da OMS e cita vários prejuízos da falta de perdão: “raiva, rancor e obsessão por vingança fazem parte do ‘apego’ ao acontecimento negativo e contribuem para o surgimento de transtornos de ansiedade e depressão. Além disso, tensão muscular, fadiga, dores no peito, na coluna e na cabeça e desregulação de sono e do apetite acontecem em virtude do ato de não perdoar”.
Aprender a perdoar
Por mais que pareça difícil, perdoar é necessário. A psicóloga fala como é o processo: “o primeiro passo é se dispor a perdoar, o que inclui mudar o jeito de olhar a ofensa, e não querer transformar o fato – ele existiu e não tem como passar uma tinta ou borracha para fazê-lo desaparecer. Perdoar é como cuidar de uma ferida aberta: leva algum tempo para curá-la e ela deixa uma cicatriz, mas passa a não doer mais”.
Ela esclarece como podemos adotar essa atitude: “expressar e liberar os sentimentos negativos, olhar para a situação com as lentes do ofensor e indagar a si mesmo o que o levou a ter aquela atitude infeliz”.
Lêda reforça as benesses à vida do praticante do perdão: “quem perdoa tem relações e atitudes sociais mais assertivas, age e reage melhor frente às adversidades e se previne contra danos físicos e psicológicos. Como disse o ativista social Martin Luther King (1929-1968), ‘o perdão é um facilitador que cria o ambiente para uma nova partida, um reinício’”, conclui. Você verá como foi o reinício de Iranilson, Irzabete e Yasmin nos relatos a seguir.
“Não perdoava minha mãe”
O barbeiro Iranilson Oliveira, (foto abaixo) de 18 anos, morador de Ceará-Mirim (RN), conta sua experiência: “por causa de muitas brigas e vícios, meus pais se separaram quando eu tinha 10 anos e isso me entristeceu muito. Eu tinha esperança que eles reatassem, mas minha mãe conheceu outra pessoa e quis se casar de novo”.
Na época, ele se revoltou: “nasceu um grande rancor dentro de mim. Comecei a tratar minha mãe mal ou com indiferença. Decidi morar com meu pai e levei comigo meus dois irmãos e os coloquei contra ela”.
O pai de Iranilson, sem condições de cuidar dos filhos, mandou-os para a casa de uma tia. “Me tornei muito rebelde e abandonei a escola. Durante quatro anos, saía todas as noites e me tornei dependente químico, a ponto de consumir até três maços de cigarro por dia. Também cheirava muito ‘loló’ (entorpecente à base de clorofórmio e éter), bebia muito e era promíscuo.”
Ele afirma que aquele comportamento só piorou a situação: “ele só me trazia dor e tristeza. Sentia dores e nem procurava saber o que era. Tive uma depressão muito forte e não queria mais sair de casa. Foram dois meses assim até que me lembrei da minha mãe.” Então, Iranilson refez o contato com ela. “Pouco depois, perguntei se poderia passar as festas de fim de ano com ela. Ela disse que sim, mas com uma condição: que eu fosse com ela aonde ela fosse, até mesmo em uma Igreja. Eu concordei na hora.”
O Réveillon de Iranilson e sua mãe, Mikarla, foi na Universal. Lá, aconteceu a mudança. Ele relata como foi: “comecei a participar das reuniões e deixei a mágoa e os vícios. Decidi entregar a minha vida ao Senhor Jesus, me batizei nas águas e recebi o Espírito Santo. Percebi o tempo que tinha perdido. Tive uma conversa muito marcante com minha mãe e pedi perdão a ela por tudo. Não havia mais dor psicológica ou física. Desenvolvemos uma forte união, uma grande amizade, o verdadeiro laço materno”, finaliza.
“Deus usou a Folha Universal”
Irzabete Raimundo, (foto abaixo) de 51 anos, de Curitiba (PR), passou pela situação mais traumática que uma mãe pode passar. “Em um relacionamento abusivo de sete anos, tive dois filhos. Eu era muito dependente de meu marido e, por isso, aceitava as agressões dele. Sob efeito de drogas e álcool, ele ficava muito violento. Cansada, resolvi morar com uma tia e levei meus filhos comigo.”
Em um fim de semana em que as crianças estavam com o pai ele bebeu muito. “Ele me telefonou o dia todo e na última ligação disse que eu deveria ir buscar um ‘presente’. Chegando lá, vi a pior cena da minha vida: ele tinha matado nosso filho de 5 anos na frente do irmão, só para me ferir”, lembra.
Irzabete conta que perdeu o chão: “eu não acreditava mais em Deus nem em nada. Me mutilava, andava sem rumo e me envolvia com qualquer um. Praticamente abandonei meu outro filho, que foi acolhido por um tio. Comecei a consumir maconha, crack, cocaína e álcool. Eu só queria esquecer tudo e sobreviver mais um dia”.
No fundo do poço Irzabete tentou suicídio três vezes. “Cheguei a passar 21 dias em uma UTI. Meu coração parecia que ia parar de bater. Tive depressão profunda e vivia trancada no quarto sem tomar banho e sem comer. Eu era uma morta-viva. Quando saía, era para usar drogas. Eu falava que mataria meu ex, que o esquartejaria e mandaria os pedaços para a mãe dele para que ela sentisse a mesma dor que eu sentia.”
Irzabete reconhece que estava se destruindo mais a cada dia, mas algo inesperado aconteceu. “Perdi o emprego e engravidei de uma relação sem compromisso. Cheguei a dormir na rua, mas foi lá que um evangelista me mostrou a Folha Universal com uma matéria que falava justamente sobre o grande poder do perdão.”
O evangelista a desafiou: “ele disse que se eu fosse à Universal e me entregasse a Deus me libertaria totalmente do ódio, da mágoa e do rancor. Eu aceitei. Havia perdido uma criança, mas não queria perder a que estava esperando”, diz.
Diante do Altar, Irzabete conversou com Deus. “Eu falei: ‘meu Pai, se o Senhor realmente existe, se aqueles testemunhos no jornal forem mesmo verdade, mude minha vida como mudou a daquelas pessoas’. A transformação começou ali. Com o passar do tempo, me esforcei e recebi o Espírito Santo.”
A reação de Irzabete foi surpreendente: “procurei meu ex-marido na prisão e, olhando em seus olhos, pedi que me perdoasse por eu não ter conhecido Deus antes daquela situação ter acontecido. A partir daquele momento, me senti livre e capaz de também perdoá-lo. E assim fiz”.
Ela conta que parece que um peso saiu de suas costas. “A partir dali, percebi mais o trabalhar de Deus. Tive minha filha completamente saudável três semanas depois e, apesar de tudo que fiz na gravidez, hoje ela é uma adolescente de Deus.”
Irzabete diz que agora sua dependência é de Deus. “Hoje conto minha história no mesmo jornal que me revelou a possibilidade de uma nova vida por meio do perdão. Espero que ela abra os olhos de muita gente, como fez comigo”, declara.
“A raiva trouxe a epilepsia’’
A jornalista Yasmin Caetano, (foto abaixo) de 25 anos, que também é de Curitiba (PR), nutria muitos sentimentos ruins. “Eu era uma criança muito elogiada por todos, mas isso mudou quando a pureza e a inocência me foram tiradas por ter sofrido abuso sexual por cinco anos de um parente próximo. Eu não conseguia fazer nada nem contar a ninguém. Eu estava sob chantagem emocional.”
Ela revela quais eram seus traumas: “na adolescência passei a ter complexos e me tornei amarga e agressiva, a ponto de agredir minha mãe em público. Eu tinha tanta mágoa e raiva das pessoas – e também de mim mesma – que planejava e desejava a morte delas”.
A saúde de Yasmin sofreu prejuízos: “desenvolvi epilepsia e tinha crises no colégio. Comecei a ter pânico e crises de ansiedade e entrei em depressão profunda. A tristeza e a raiva eram tão grandes que eu passava dias no quarto chorando e sem tomar banho. Minha mãe não entendia o motivo. Eu me mutilava à procura de alívio, mas não adiantava. Então tentei me suicidar aos 17 anos”. Yasmin começou a ser acompanhada por psicólogos. “Dei entrada em um hospital psiquiátrico e percebi que precisava de ajuda para não tentar me matar de novo.”
Vendo aquele sofrimento, a mãe de Yasmin lhe fez um convite: “ela me disse para ir à Universal e que lá tudo seria resolvido. Eu tinha muito receio e não acreditava, mas fui com ela. Lá, ouvi sobre o Espírito Santo, que poderia aliviar minhas dores e apagar todo o passado. Ouvi que sem Ele eu não conseguiria nada. Apesar de muita resistência e vergonha, comecei a buscar a minha libertação. Passei um bom tempo tentando eliminar pensamentos e sentimentos negativos, principalmente o orgulho, pois me achava melhor do que quem tentava me ajudar”.
Yasmin entendeu o propósito de Deus: “para que eu realmente me arrependesse e perdoasse, tive que entender que antes quem precisava do perdão de Deus (e o meu) era eu mesma e que era preciso tomar uma atitude para mudar. Depois, entendi que o tempo era muito curto para eu não perdoar quem errou comigo e para fingir que eu não precisava de Deus. Então, pedi perdão a todos que fiz mal e disse que os amava – algo que eu não conseguia antes por conta da mágoa. Naquela mesma semana me batizei nas águas, tive meu Novo Nascimento e tomei novas decisões”.
Ela sabia que precisava do Espírito Santo. “Passei a buscá-Lo incessantemente e, durante uma vigília, Ele desceu sobre mim. Ele me deu a certeza de que eu não estava sozinha, me perdoou e me consolou de todas as dores.”
Yasmin perdoou seu ofensor e convive pacificamente com ele, ainda que não tão próximos, mas sem dor. “O Espírito Santo me ajudou a anular o passado, a fortalecer meu presente e a construir meu futuro. Minha essência hoje é fazer com que as pessoas conheçam Quem Ele é. Se o Senhor Jesus me perdoou, quem sou eu para não perdoar?”, indaga.
Perdão é de Deus
O Bispo Edir Macedo esclarece em seu blog que muitos ainda sofrem por não terem a mínima ideia da importância do perdão. “Associam-no a algo corriqueiro que o tempo pode apagar. Se fosse tão simples assim, com certeza o Senhor Jesus não o colocaria como obrigatório (Mateus 6.14-15), nem que se perdoasse tantas vezes quantas fossem necessárias (Mateus 18.22). Perdão é de Deus; a mágoa ou os ressentimentos são do diabo. Perdão salva, liberta, cura, transforma, identifica algo divino; mágoas ou ressentimentos alimentam o ódio, a ira, a contenda e, finalmente, matam.”
Portanto, se você precisa perdoar alguém, tome essa decisão. Reconheça também seus erros e busque o perdão de Deus. “Antes de orar, Deus manda que se humilhe. (…) Confesse para Ele quem você realmente é. Porque quando uma pessoa se humilha, certamente, ela é atendida”, afirma o Bispo Macedo.
*Colaborou: Núbia Onara