Amar o próximo é respeitá-lo
A tolerância é bem mais do que só aturar quem pensa diferente. É analisar a raiz do problema do outro e ver com os olhos de Deus para que o respeito seja real
Por mais que um grupo de pessoas tenha em sua comunidade costumes, regras e valores parecidos, a forma de encará-los e segui-los se diferencia muito de indivíduo para indivíduo. Afinal, ninguém pensa e age exatamente igual ao outro, por mais parecidos que sejam. O mesmo vale para os integrantes de uma família que moram na mesma casa, funcionários de uma mesma empresa, amigos e colegas de uma instituição de ensino, membros de uma Igreja. Deus fez cada ser humano de forma única, com uma série de pontos comuns e também diferentes.
Ocorre que as pessoas não se incomodam quase involuntariamente com quem é igual a elas, mas, quando estão diante de alguém bem diferente delas, fazem grande força para tolerá-las. O problema é que não entender as circunstâncias que levam alguém a uma atitude divergente da nossa é deixar a emoção ditar a direção. Daí surgem outros maus sentimentos como a raiva ou a presunção de se considerar melhor do que o outro. Levando isso em conta, será que todos sabem realmente o que é tolerância?
Equilíbrio
Segundo um estudo publicado por Thomas Scanlon, professor de filosofia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a tolerância é a atitude complexa de encontrar a justa medida entre a aceitação sem reservas e a oposição cega e isso gera uma tensão interna, até que se chegue a uma conclusão que leve a esse equilíbrio.
“A tolerância requer de nós aceitarmos as pessoas e consentirmos com suas práticas mesmo quando as desaprovamos fortemente”, diz Scanlon na pesquisa. Mas, para ele, há limites para a aceitação: “existem limites para o que podemos fazer para prevenir que algumas coisas aconteçam, mas não há necessidade de que aceitemos um homicídio, por exemplo, somente como só uma expressão dos valores dos criminosos”.
De acordo com o exemplo, é claro que podemos não tolerar um crime, mas podemos acolher o criminoso que se arrepende genuinamente. Muito se fala que o Senhor Jesus aceita as pessoas como elas estão e, realmente, Ele abre as portas da Salvação a todos, mas é preciso abandonar a prática do pecado e ter uma mudança de conduta que agrade a Deus, como está escrito em João 8.31-32: “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Da mesma forma, temos que ser como Jesus. Ele vê o ser humano com os olhos de Deus e é tolerante com todos. Então, devemos respeitar nosso próximo, mesmo com seus defeitos e pecados, e ajudá-lo a vencer esses comportamentos pelos caminhos da prática da Palavra de Deus.
E a intolerância?
Se ser tolerante é acolher o próximo usando a razão que a Fé inteligente proporciona, ser intolerante é apelar unicamente para a emoção e rejeitar a pessoa por causa de suas ações. “O respeito de uns pelos outros não requer que abandonemos nossa discordância, ele certamente impõe limites na forma como esse conflito pode ser tratado”, diz Scanlon, que ainda lembra o exemplo dado anteriormente: uma pessoa não precisa concordar com um crime: ela continuará a não aproválo, mas pode ter compaixão pelo ser humano e lhe dar, como Deus, a chance de se redimir verdadeiramente.
É pela tolerância, segundo os olhos do Altíssimo, que muitos ex-criminosos, por exemplo, por meio dos voluntários do Universal nos Presídios (UNP), receberam a chance de se recuperar para serem inseridos novamente na sociedade. O olhar tolerante de quem está alinhado com Deus leva essa boa notícia aos detentos, que, se a acolherem em seus corações, entendem a verdadeira liberdade, que começa até mesmo atrás das grades.
No dia a dia
A tentação da intolerância pode envolver qualquer pessoa, não só em relação a um erro evidente, como um crime, por exemplo. Aliás, é no dia a dia que essa tentação de não respeitar o outro mais aparece. É quando surge a não aceitação por causa de diferentes gostos culturais, graus de estudo, situação financeira, cor da pele, opinião política e outros fatores que parecem pequenos, mas que afastam as pessoas umas das outras. “Caso estejamos movidos por preconceito racial ou étnico, por exemplo, a melhor solução não é simplesmente tolerar aqueles que execramos, mas deixar de execrar as pessoas só porque parecem diferentes ou provêm de uma origem diferente”, revela Scanlon.
Trocando em miúdos, não devemos apenas “fazer de conta” que queremos nos aproximar de alguém que tem características, atitudes ou pensamentos diferentes, mas realmente querer ajudálo e usar a razão da mente de Deus em nós para isso.
Por esse motivo, a intolerância não deve ser combatida só com a força humana, por melhores que sejam as intenções. Só quem já se entregou à vontade de Deus pode ver com os olhos dEle para, assim, poder ajudar as pessoas a mudarem seus defeitos. Ao sujeitar-se ao Espírito Santo, tornar-se mais tolerante será certamente uma consequência.