Análise: Falsos defensores das mulheres não passarão
Lutar pela liberdade de culto religioso e defender a mulher contra a violência só quando convém a certos grupos tem nome: hipocrisia.
Já falamos em outras ocasiões sobre o feminismo seletivo, que só defende as mulheres que convêm a certos grupos, ignorando os feitos das que não fazem parte da panelinha feminista. E, nos últimos dias, aconteceu novamente.
A advogada e futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves virou piada depois de se declarar vítima de estupro. “Fui abusada dos seis aos oito anos” e “ele (o tio agressor) me convenceu de que eu era culpada, de que eu o tinha seduzido” foram algumas das frases ditas por Damares.
Mas, o fato de ter sido vítima de pedofilia foi ofuscado pela chacota seletiva de diversos meios de comunicação e de inúmeros memes que circulam internet afora. Tudo isso porque Damares — que também é pastora evangélica — disse que Jesus era seu amigo imaginário na infância e que ela o viu quando subiu em um pé de goiaba com um saquinho de veneno para se matar. Ao ter visto Jesus, conta Damares, desistiu da ideia.
Não importa que ela tenha sido estuprada dos seis aos oito anos (e que jamais possa gerar filhos em decorrência das agressões); não importa que uma criança de dez anos tenha pensado em tirar a própria vida; não importa que crianças no mundo inteiro tenham amigos imaginários e acreditem em Fada do Dente, Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, desde que entre esses personagens não esteja Jesus. Ele não.
Nada disso vem ao caso quando o assunto envolve a fé evangélica, nem mesmo o fato de Damares ter adotado uma criança indígena que seria vítima de infanticídio — prática ainda comum entre tribos do Norte quando nascem gêmeos ou crianças com defeito físico — ou de advogar de graça, há 30 anos, para mulheres vítimas de violência. Isso não pode servir de exemplo para ninguém, afinal, ela é pastora evangélica, título que, por si só, já é motivo de chacota.
Nem todo feminino é tão sagrado assim
Os grupos feministas — que se autointitulam defensores do “sagrado feminino” — não incluem as evangélicas. Prova disso é o silêncio total diante das declarações da futura ministra. Vai ver que, na visão feminista, nem todo feminino é tão sagrado assim… E os grupos de defesa da liberdade religiosa também não incluem a fé evangélica. Para justificar essa exclusão é muito simples, basta não reconhecê-la como religião e classificá-la como “seita”, “quadrilha” ou “charlatanismo”.
As tentativas de assassinato à reputação dos evangélicos são tão comuns que até o ex-prefeito petista da maior cidade do país, Fernando Haddad, pensou que chamar o líder de uma igreja — com mais de dez milhões de fiéis no mundo todo — de charlatão e faminto por dinheiro não seria passível de punição, afinal de contas, o fez em rede nacional logo depois de sair de uma missa, em 12 de outubro.
Mas, independentemente de ter ou não o apoio de defensores hipócritas, opa, quer dizer, defensores dos “mais fracos”, a fé evangélica vem se fortalecendo a cada dia. Somente nos últimos dez anos o número de evangélicos no Brasil subiu cerca de 61,5%, o que significa aproximadamente 16 milhões de novos fiéis, segundo o Censo 2010 do IBGE, que também aponta o fato de que, em 2020, o país terá maioria evangélica.
Vai ser cada vez mais difícil ignorar que os evangélicos existem, que fazem a diferença nas urnas, que movimentam a economia — pois também viajam, comem, bebem, compram carros e imóveis — que estudam, se formam, que pensam e que também têm direitos.
(*) Patricia Lages é jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e RecordTV e é facilitadora do programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.