Análise: Obesidade mata mais mulheres do que feminicídio no Brasil
Número de óbitos de mulheres por excesso de peso e obesidade é 8.000% maior do que as estatísticas de feminicídio
“A mulher deve aceitar seu corpo como ele é.”
“Quem disse que gordura é feio?”
“Dieta é escravidão.”
“Não seja ‘gordofóbico’!”
“Corpo perfeito é aquele que te faz feliz.”
Frases como essas estão dentro das exigências sem pé nem cabeça do “politicamente correto” – enquanto quem diz o contrário é considerado “gordofóbico”– mas a verdade é que a obesidade mata 8.000% mais mulheres brasileiras do que o feminicídio, assassinato causado exclusivamente por aversão ao gênero.
Segundo um estudo da revista científica Preventing Chronic Disease, publicado em 2019, cerca de 168 mil mulheres morrem no Brasil todos os anos por doenças causadas ou associadas ao excesso de peso e à obesidade.
Por causa da pandemia, o estudo não foi realizado nos dois últimos anos, porém, diversas pesquisas apontam crescimento da obesidade devido ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, como macarrão instantâneo, sucos artificiais, refrigerantes, biscoitos etc. Além disso, o crescimento da ingestão de álcool – que modifica o metabolismo favorecendo o estoque de gordura – também leva ao sobrepeso e à obesidade. Sem falar no abandono dos exercícios físicos pelo fechamento de academias e até mesmo dos parques públicos.
Embora haja um movimento crescente para romantizar o excesso de peso e empurrar a ideia de que uma mulher obesa também é saudável e deve sentir-se bem dentro de seu próprio corpo, a obesidade é um risco real à saúde feminina e não pode ser tratada de forma diferente.
Nenhum padrão estético deveria ser estabelecido como regra, nem muito menos ser utilizado para escravizar as mulheres. Isso é inquestionável. Porém, não devemos tratar um assunto tão sério quanto a obesidade – que causou a morte de mais de um milhão de mulheres apenas nos últimos seis anos – como se fosse apenas uma questão de aceitação e liberdade.
A obesidade e o sobrepeso tornaram-se um dos maiores problemas de saúde pública do mundo nos últimos anos e, no Brasil, já acometem 15% das crianças e 8% dos adolescentes, segundo a Fiocruz. Questões de saúde pública precisam ser combatidas e não cultuadas.