Aposentar só com 78 anos?

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O futuro financeiro da maioria dos brasileiros está em perigo. Em um país onde o populismo cresce a cada dia, não há espaço para as medidas impopulares, mas extremamente necessárias, que uma reforma previdenciária necessita. Trata-se de uma bomba-relógio que nenhum governo quer desarmar, enquanto o Estado finge que ela jamais explodirá, embora já esteja em contagem regressiva. A questão é que, ainda que a Previdência não tivesse sido vítima de inúmeras fraudes (como a que desviou US$ 600 milhões, o equivalente a mais de R$ 3,3 bilhões, em 1991) – há questões que vão além da corrupção, como a mudança na composição demográfica e o aumento da expectativa de vida.

Atualmente, há menos de dois contribuintes (1,97) para cada beneficiário e, segundo estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), haverá 0,97 contribuinte para cada assegurado em 2051 e 0,86 em 2060. Ou seja, teremos mais pessoas recebendo benefícios do que custeando os gastos da Previdência, o que significa que a primeira bomba explodirá dentro de apenas 27 anos. Podemos dizer, então, que os homens que hoje têm 38 anos e as mulheres de 35 anos já não conseguirão se aposentar nos mesmos patamares de hoje caso uma reforma robusta não seja implementada. Segundo um estudo feito pelo Banco Mundial, o Brasil teria de aumentar a idade mínima para aposentadoria para 72 anos, em 2040, e para 78 anos, em 2060. Mesmo assim, essa não seria uma solução para todos os problemas, mas para manter o patamar de 2020.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) depende de uma base com muitas pessoas contribuindo para custear os gastos de poucas pessoas no topo. Porém, a taxa de natalidade brasileira vem caindo, enquanto a expectativa de vida vem aumentando. Segundo dados do IBGE, em 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais era de 22,17 milhões contra 14,09 milhões em 2010. Um crescimento de cerca de 57% em apenas 12 anos. Além disso, o percentual de pessoas economicamente ativas no Brasil não chega a 47%, enquanto a média mundial é de aproximadamente 75%. E, para piorar ainda mais o quadro, 17% da população é composta por jovens entre 14 e 24 anos (o que corresponde a 34 milhões de pessoas) dentre as quais, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, 4,6 milhões são classificadas como “nem-nem”, ou seja, nem trabalham e nem estudam. Em outras palavras, cerca de 13,5% não contribuem para o INSS nem estão se preparando para ocupar funções mais qualificadas.

Em meio a esse quadro alarmante, temos a inércia de um Estado populista e sem vontade política para implementar medidas austeras e impopulares e uma população que vive como se não houvesse amanhã: gasta mais do que ganha, consome além do necessário, acostumou-se a direcionar parte da renda para o pagamento de juros e a usar as formas de crédito mais caras (limite da conta e cartão de crédito) como se fossem parte do salário. Com isso, a porcentagem da renda que poderia ser investida para custear um plano de previdência privada se perde.

Falta visão de longo prazo para a maioria dos brasileiros, enquanto sobra memória curta e desconhecimento financeiro. O eleitor brasileiro continua votando nos políticos que prometem o que ele quer ouvir e que têm o jingle mais descolado, ainda que seus passados políticos sejam cheios de escândalos e faltos em benfeitorias. As narrativas falam mais alto do que os fatos e a ilusão pesa mais do que a realidade. Em vez de tomar decisões para garantir um futuro mais seguro, a maioria tem feito o exato oposto, rolando a dívida de ontem para amanhã e acreditando que, milagrosamente, algum salvador da pátria fará essa conta fechar. E você, diante dessa informação que custará o seu futuro, o que irá fazer no presente?

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Colaborador

Por Patrícia Lages, Jornalista