Carga tributária sobe em 2024 e brasileiro trabalha 149 dias só para pagar impostos
Você já mandou alguém para “o quinto dos infernos”? Se já fez isso, certamente foi em um momento de explosão e revolta, em que gostaria que a pessoa que o chateou fosse para bem longe e o deixasse em paz, mas você sabia que essa expressão tem a ver com a cobrança de imposto?
No século 18, período do Brasil Colônia, Portugal produzia pouco e comprava praticamente tudo que consumia da Inglaterra e, assim, criou uma dívida cada vez maior com os britânicos. Para cobrir o rombo da gastança, a Coroa Portuguesa passou a cobrar um imposto de 20% – ou a quinta parte – do peso do ouro derivado do garimpo nas cidades mineradoras brasileiras.
Para evitar o “jeitinho brasileiro”, os portugueses se apossavam do quinto diretamente nas casas de fundição e, assim, desde 1750, o imposto passou a ser retido na fonte, sem a menor chance de sonegação.
Por sua vez, todo o ouro arrecadado era levado para Portugal em navios conhecidos como “naus dos quintos”. Essa pilhagem das riquezas do nosso país foi uma das causas da Inconfidência Mineira, quando a população se revoltou contra a tributação, chamando-a de “quinto dos infernos”. Porém, em 1789, Portugal conteve a revolta e, de lá para cá, as coisas só pioraram.
Se pagar um quinto da renda em tributos fez os brasileiros se revoltarem naquela época, hoje em dia a população está mansinha, muito bem controlada e bastante conformada. Aliás, existe até quem defenda a tributação pesada que o Estado impõe, como se tivéssemos retorno de tudo que pagamos. Enfim, há gosto (e imposto) para tudo!
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a carga tributária neste ano já chegou aos 40,71%. Esse percentual mostra que o brasileiro precisa trabalhar, em média, 149 dias apenas para pagar impostos. E tudo isso para sustentar a “nobreza brasileira” que nos tira mais do que o dobro do que nossos colonizadores tomavam de nós séculos atrás.
Agora, façamos alguns exercícios simples para entender o que isso significa. Se considerarmos esse período em dias corridos, o brasileiro trabalhou de 1º de janeiro a 28 de maio somente para pagar impostos, tanto sobre a renda quanto sobre tudo o que consome e sobre seu patrimônio. Isto é: pagamos impostos sobre todo dinheiro que recebemos por nosso trabalho para, depois, pagarmos mais impostos sobre tudo que compramos, vendemos, deixamos de herança ou doamos em vida.
Se tirarmos os 52 sábados e 52 domingos, além dos oito feriados que caem em dias da semana, teremos 254 dias úteis em 2024 e, sendo assim, mais da metade dos dias trabalhados neste ano serão destinados apenas para o pagamento de impostos.
A título de comparação, em 2023, foram 147 dias de trabalho para dar conta de toda taxação, mas, considerando a média dos anos anteriores, seguimos na mesma há muito tempo.
A questão é que o Brasil festeja até hoje a independência dos portugueses, mas parece não se importar nem um pouco com o fato de a nobreza brasileira nos custar muito mais caro.