Casas ou hotéis? Lares ou campos de guerra?

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Um grande problema atinge os lares brasileiros: a falta de tempo para a vida em família. Embora estejam sob o mesmo teto, quase sempre as pessoas estão alheias ao que acontece com os demais. Muitos nem sabem mais como descrever o ambiente em que vivem, como se morassem com verdadeiros estranhos.

Nesse sentido, muitos lares vêm perdendo sua principal característica: ser um porto seguro para a família. Um local de paz, alegria, confiança, acolhimento, cumplicidade, aconselhamento e descanso, onde há um forte sentimento de pertencimento que, por si só, é capaz de recarregar as energias para mais um dia de batalha.

Em vez disso, inúmeros lares têm sido reduzidos a casas que mais parecem hotéis. Onde, sempre que possível, só se vai para dormir, comer – de preferência em horários e cômodos diferentes – atacar e se defender, como em um campo de guerra. Quando a ausência de interesses ou funções vem à tona, tenta-se compensar toda e qualquer falta com mais um presente que, em pouco tempo, fará companhia a tantas outras quinquilharias que entulham os espaços que ninguém quer preencher.

Embora o art. 226 da Constituição Federal assegure que “a família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado”, não é isso que vemos. Nossas crianças estão cercadas por doutrinas que desmerecem a família, desautorizam os pais e ridicularizam quem não se molda às narrativas.

Um estilo de vida que surge travestido de liberdade e poder de escolha é, na verdade, a escravidão moderna, em que os pais se sentem cada vez mais perdidos, exaustos e estressados de tanto trabalhar apenas para pagar contas – e fazer dívidas – enquanto os filhos têm sido bombardeados por um sem-fim de estímulos que seus cérebros não são capazes de processar.

Com isso, a saúde mental de todos é amplamente afetada. Hoje é comum que crianças sejam diagnosticadas com depressão, síndrome do pânico, déficit de atenção, problemas de aprendizagem e outras mazelas que jamais deveriam atingi-las. Em consequência disso, em vez de brincarem, se desenvolverem e serem felizes, estão sofrendo sozinhas, sem terem confiança na própria família, tentando remediar suas dores sem nem ao menos terem ideia de como fazer isso.

É fácil criticar a geração “mimimi”, apontando suas fraquezas, seus medos, sua falta de iniciativa para resolver questões simples, seu sentimentalismo. Mas o que esperar de um edifício construído sem alicerces, sem fundamentos, sem uma estrutura forte que lhe dê estabilidade?

O comportamento de crianças e jovens que temos visto hoje em dia é apenas a ponta do iceberg. Teremos de aprender a conviver com pessoas emocionalmente fracas, egoístas, egocêntricas, improdutivas e dependentes. Pessoas que têm certeza de que sabem tudo, quando não sabem quase nada. Que leem, mas não entendem, que ouvem, mas não escutam, que estão de corpo presente, mas mente ausente.

A sociedade moderna, que desonra e despreza a família, está severamente doente. E suas mazelas vêm justamente da falta do que uma família estruturada oferece: a formação do caráter, o entendimento do conceito de certo e errado e a aplicação dos valores morais que acompanharão cada um de seus membros por toda a vida.

Se não trabalharmos arduamente para mudar essa situação, dentro de cada casa, reconstruindo a família, o futuro deste país está fadado ao fracasso. Famílias fracas geram pessoas fracas e pessoas fracas não constroem uma nação forte.

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Colaborador

Patricia Lages, jornalista / Foto: wildpixel/getty images