China proíbe a venda de Bíblias no país
O que pode estar por trás dessa decisão polêmica?
É possível controlar a fé de alguém a ponto de cercear tudo que tenha relação com a sua crença? O governo chinês parece acreditar e aposta veementemente nessa premissa. Para alcançar esse objetivo, no início do mês, a China proibiu a venda on-line de Bíblias. A rigidez da nova regra faz parte do plano do governo para diminuir a influência do Ocidente no país e promover religiões chinesas tradicionais, como o budismo e o taoísmo.
A Bíblia foi retirada de sites de venda on-line na China em um momento em que o regime comunista reforça o controle sobre atividades religiosas. Um livreiro que não quis se identificar declarou à agência de notícias France Press que não sabe de onde veio a proibição nem quando ela foi formulada. “A Bíblia e muitos livros foram retirados nos últimos dias”, disse. Outro livreiro afirmou que podia vender o Velho Testamento, mas não o Novo.
Edições completas do Livro Sagrado estão disponíveis na Amazon China e no site dangdang.com, mas somente em inglês. Em contrapartida, as vendas de outros livros religiosos, como o Alcorão (o livro sagrado do Islã para os muçulmanos) e o Tao Te Ching (uma das mais conhecidas e importantes obras da literatura da China), parecem não ter sido afetadas. A Bíblia vendida na China só pode ser traduzida e impressa no próprio país, produzida por poucas empresas autorizadas e em número limitado. Os chineses estão proibidos de encomendar a Bíblia pela internet.
Embora o país alegue respeitar a liberdade religiosa, essa é mais uma prova de que o ditador Xi Jinping controla cada passo dado pelos cristãos, uma espécie de perseguição silenciosa. Não é de agora que o cristianismo é tratado de forma diferente naquele país. Em 2007, um ano antes das Olimpíadas de Pequim, a Bíblia constava de uma ampla lista de itens proibidos de entrar na Vila Olímpica, da qual também faziam parte câmeras de vídeo.
Para entender o que está sendo tratado aqui é preciso olhar um pouco além da proibição recente. Oficialmente, o país calcula que existam 20 milhões de protestantes e 6 milhões de católicos. No entanto entidades de defesa dos direitos humanos contabilizam 38 milhões de frequentadores de igrejas cristãs legalizadas, fora os cerca de 40 milhões de frequentadores de igrejas cristãs ilegais. Também é preciso considerar que a obtenção de uma licença para abrir uma igreja na China é muito difícil.
Isso pode ter relação direta com uma projeção feita por especialistas, de acordo com a BBC: a de que a China poderá ter a maior população cristã do planeta até 2030. Outra informação curiosa e que contribui para refletirmos a respeito desse tema é que, em 2016, a imprensa divulgou matéria sobre a produção de Bíblias na China. A indústria chinesa que mais produzia o Livro Sagrado chegava a elaborar um exemplar por segundo. Mas, muito mais do que um produto que pode ser produzido rapidamente, talvez o grande medo da China esteja ligado à mensagem de fé e libertação que Bíblia traz. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36). Para aquele país, certamente, o Livro Sagrado pode ser uma grande ameaça ao regime político vigente, pois ela pode chegar a muita gente.