Há poucos dias, a DC Comics — editora norte-americana especializada em histórias em quadrinhos e mídias relacionadas — anunciou que a nova versão de um dos super-heróis mais antigos e conhecidos, o Superman, agora será bissexual. Nas novas revistas em quadrinhos, Jonathan Kent, o filho de Clark Kent e Lois Lane, que assumiu o posto do pai na história, entrará em um relacionamento com alguém do mesmo sexo.

Logo, a notícia se tornou polêmica e rendeu comentários de anônimos e famosos nas redes sociais. No Brasil, uma destas postagens ganhou grande repercussão. O jogador da seleção de vôlei Maurício Souza publicou em seu Instagram um print da notícia, com a imagem de divulgação do beijo dos personagens da história em quadrinhos, e escreveu: “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.

A partir disso passou a ser acusado de ter feito uma declaração homofóbica.

Clube rescinde contrato 

Na quarta-feira última (27), o Minas Tênis Clube, que o atleta defendia na Superliga Brasileira de Vôlei, comunicou a rescisão do contrato com Maurício. No mesmo dia, de volta ao Instagram, ele postou um vídeo com a legenda “ter opinião e defender o que se acredita não é ser homofóbico nem preconceituoso” e declarou que nunca desrespeitou um colega homossexual. Ademais, lamentou não poder colocar os “valores da família acima de tudo”.

Embora tenha sido rechaçado por uns, o atleta também recebeu apoio de muitos. Ainda quando, sob pressão dos patrocinadores, Maurício tinha sido apenas afastado da equipe e obrigado a pagar uma multa, grande parte do elenco não concordou com a decisão. Em carta enviada à diretoria do clube, o grupo defendeu o direito à “liberdade de expressão”. Ademais, o Presidente Jair Bolsonaro, ao saber desta decisão, saiu em defesa do jogador e comentou: “(…) impressionante, né. Tudo é homofobia, tudo é feminismo”.

Opinião x cancelamento

Maurício costuma expressar a sua opinião nas redes sociais como também fez ao criticar a implementação da linguagem neutra em uma novela e se posicionar contra a participação de atletas transgêneros em esportes de modalidades femininas. E, assim, acabou se tornando alvo de uma campanha de cancelamento.

Em sua coluna no R7, a jornalista Ana Carolina Cury comentou sobre o episódio.

“Não conheço Maurício e não posso afirmar se ele é ou não preconceituoso, mas essa situação escancara a necessidade de refletirmos sobre a forma como as opiniões contrárias estão sendo julgadas. Estamos vivendo uma realidade em que muitos direitos estão sendo requeridos. Ao mesmo tempo, aqueles que expressam opiniões que contrariam o pensamento público têm sofrido ataques de ódio”, disse.

Ao destacar o artigo 5º da nossa Constituição, ela ainda ressalta a garantia do livre exercício do pensamento e da liberdade de expressão que todo cidadão tem por lei.

“Cada um tem o direito de ter sua convicção e deve ser respeitado por isso. É claro que, se a discriminação for comprovada, deverá haver punição; afinal, o respeito deve sempre existir e prevalecer. Por outro lado, ninguém deveria ser massacrado apenas por pensar ou ter uma opinião. Precisamos parar de julgar como preconceituosas as opiniões diferentes. Uma pessoa tem o direito de discordar de algo sem desrespeitar”, concluiu.

Na noite desta quinta-feira (28), a Unigrejas, por meio do seu presidente, Bispo Eduardo Bravo, também, manifestou sua solidariedade ao jogador, emitindo uma nota de apoio, que você pode ler, clicando aqui.

Leia mais sobre o assunto

Esta não é a primeira vez que uma pessoa pública, no caso um esportista, ao expor a sua opinião nas redes sociais sofre com a já famigerada “cultura do cancelamento”. Tal comportamento originado na ‘vida digital’ está extrapolando as telas e alcançando cada dia mais a vida real. Atingindo não só famosos nas áreas de cultura, esporte e política, bem como anônimos.

A saber, quem pratica o “cancelamento”, na verdade, só está revelando o quanto é intolerante. E, ademais, o quanto deseja impor a sua visão de mundo sobre os demais, por meio dessa postura.

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