Como amenizar o isolamento social dos idosos?

Imagem de capa - Como amenizar o isolamento social dos idosos?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais. No Brasil, mais de 28 milhões de pessoas estão incluídas nesta faixa etária – cerca de 13% da população –, segundo projeção divulgada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por causa da pandemia de Covid-19, essa população tem sentido os efeitos do distanciamento social. Entre os idosos sobram incertezas não só com relação aos cuidados com a saúde física, tendo em vista que eles pertencem ao grupo de risco da doença, mas também com a saúde mental.

E não é para menos. O médico geriatra Samuel Guimarães esclarece que “o idoso, por uma questão fisiológica, possui uma certa vulnerabilidade em relação às outras pessoas” e que, para que sua saúde seja preservada ele foi inserido em um isolamento social exaustivo que, muitas vezes, contribui para sua piora clínica e mental, seja pela impossibilidade de acesso aos serviços de saúde – ambulatoriais e hospitalares –, seja por interferência psicológica, que causa ou agrava, muitas vezes, doenças psicossomáticas, como depressão e ansiedade, e doenças prexistentes, por exemplo.

Um aspecto que desperta temor nos idosos é a solidão. Em 2017, uma pesquisa realizada pela Sociedade de Geriatria e Gerontologia de São Paulo revelou que 29% dos entrevistados acima de 55 anos temiam a solidão – não é difícil imaginar que os números atuais seriam mais elevados se a mesma pergunta lhes fosse feita hoje.

Por isso, Samuel Guimarães reforça que é importante adotar cuidados para que o distanciamento social não signifique um afastamento afetivo. “É importante intensificarmos o contato e a atenção ao idoso por meio dos meios de comunicação tecnológicos para estabelecer conversas frequentes, ouvir seus anseios e demonstrar o quanto ele é querido por seus familiares. Temos que utilizar esse novo tipo de relacionamento social como uma oportunidade para aumentarmos o laço afetivo e o acolhimento do idoso que, por vezes, acabava ficando em segundo plano na correria do dia a dia. Em grande parte, esses pequenos gestos de carinho serão suficientes para suprir a ausência de contato físico e melhorar as doenças psicossomáticas”, orienta Samuel Guimarães.

GESTOS REFORÇADOS
Para o Bispo Antônio Santana, responsável pelo Grupo Calebe Universal – projeto que presta assistência social e espiritual à melhor idade –, esse período tem dado a oportunidade aos membros do grupo de se aproximarem do que tanto precisam. “Temos visto que muitos idosos, quando chegam a uma certa idade, pensam que não há mais nada a aprender ou a mudar. Muitas vezes eles se sentem esquecidos, mas o grupo, por meio de diversas atividades, resgata esses valores e incentiva cada um a olhar e acreditar em si mesmo. Eles são incentivados a fazerem novas amizades, o que aumenta o convívio social. Na parte espiritual, são fortalecidos com reuniões e, atualmente, com meditações por meio de mensagens, para que, em diversas circunstâncias, estejam sempre na Fé”, descreve.

Neste período de pandemia, o grupo tem utilizado mais a tecnologia. Os voluntários têm dado atenção aos idosos por meio de conversas em redes sociais ou por meio de videochamadas. Quando o acesso à tecnologia não é possível, eles levam aos idosos atividades impressas, como caça-palavras, jogo dos 7 erros e meditações, entre outras. “Muitas vezes, os idosos são abordados com músicas e cartazes para que lembrem o quanto são importantes para o grupo. Eles se tornaram uma família e sempre procuramos saber como estão”, afirma o Bispo Antônio Santana. Ele reforça que a entrega dos materiais sempre é feita com o uso de máscaras e luvas.

OPORTUNIDADE
Durante a semana, o grupo Calebe também propõe aos integrantes desafios espirituais e sociais, por meio de livros e de orações. Também os incentiva a cuidarem da saúde e de aperfeiçoarem seus talentos. “Eles possuem acesso às aulas virtuais com voluntários por meio das redes sociais do grupo e podem aprender de idiomas a exercícios físicos”, comenta o Bispo Antônio, que acrescenta que os integrantes são ensinados a manejarem a internet por meio de tutoriais.

Nem os idosos que residem em casas de repouso deixam de receber atenção. “Temos chegado a eles com doações ou visitas do lado externo e adotamos todos os cuidados. Eles ficam felizes quando encontram voluntários dispostos a estarem junto deles, mesmo que seja de longe”, diz o Bispo.

“DISTRAIR A CABEÇA”
Erzina Euzébio, chamada por todos carinhosamente de Elza, (foto abaixo) de 84 anos, é membro da Universal há 30 anos e há sete anos faz parte do Grupo Calebe. Ela conta sua experiência com o isolamento social: “está sendo meio difícil porque não se pode sair de casa e porque sinto falta de todos do grupo, de parentes e de amigos que não podem me visitar em casa. Estou pintando panos de prato e acompanho as orações por meio do ‘zap’. Isso tudo ajuda a manter a Fé firme e faço as atividades para distrair a cabeça”, ressalta.

Elza menciona a atenção e o carinho dispensados pelos voluntários que ligam perguntando sobre sua saúde. Quando questionada sobre como está convivendo com a quarentena, ela declara: “sou grata a Deus por mim e por todos da minha família estarmos com saúde, mas não posso ir aonde gostaria. Gosto de sair e de ver gente”.

O médico geriatra Samuel Guimarães salienta a importância dos grupos de risco, como o de idosos, respeitarem o isolamento social e não descuidarem da saúde. Ele destaca, entre eles, “manter uma alimentação saudável e balanceada, tomar as medicações de uso diário e se exercitar dentro de casa. Se possível, é importante evitar noticiários que não agreguem valor e dar preferência a atividades de leitura, artesanato e outras formas de entretenimento que tragam prazer e que mantenham a mente sã”.

Ele ensina que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças. Neste período, principalmente, é fundamental termos Fé em Deus e acreditarmos que Ele está no comando completo de nossas vidas”, finaliza.

imagem do author
Colaborador

Flavia Francellino / Foto: Getty Images e cedida