Como aproveitar melhor os benefícios da internet

Será que você realmente usa todas as potencialidades que ela oferece para crescer pessoalmente?

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A internet está presente há 30 anos no Brasil. No início, ela servia apenas para conectar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) ao Fermilab (laboratório de física especializado no estudo de partículas atômicas), nos Estados Unidos. De lá para cá, muita coisa mudou: surgiram os provedores, a banda larga e se aguarda o 5G, tecnologia que trará mais velocidade e capacidade de transmissão de dados e que permitirá que mais de 1 milhão de aparelhos se conectem por metro quadrado.

E os números em relação à utilização da web crescem ano após ano. De acordo a pesquisa TIC Domicílios de 2019, são 134 milhões de usuários de internet e quase a totalidade das pessoas que têm acesso à rede usam o celular. Nosso país é o segundo que mais passa tempo na web e o terceiro que mais usa as redes sociais. Entre as atividades mais comuns, 92% correspondem ao envio de mensagens instantâneas, 76% ao uso das redes sociais, 73% às chamadas por voz ou vídeo e 41% a tarefas ou pesquisas escolares na internet. Mas será que todos estão aproveitando a internet em sua plenitude para o crescimento pessoal?

Para Daniela Costa, doutora em educação e coordenadora da pesquisa TIC Educação, no Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), “o uso do celular é uma realidade entre a população brasileira, especialmente pela disseminação cada vez maior de serviços comerciais, governamentais, culturais, educacionais, de saúde, de entretenimento, entre outros, por meio de aplicativos, plataformas e recursos digitais”.

No entanto ela ressalta que há grandes desafios para promover o acesso a quem não possui e
qualificá-lo para quem já tem, mas ainda de forma restrita. “As disparidades entre os estratos da população podem ter se intensificado ainda mais, visto que aqueles que não possuíam acesso a esses recursos podem ter ficado excluídos ou não ter participado de maneira satisfatória das interações mediadas por tecnologias. No entanto as desigualdades no acesso e no uso de tais recursos já existiam antes da pandemia”, diz.

Já para Angela Claro, professora do curso de biblioteconomia e ciência da informação da sociologia e política – Escola de Humanidades e doutora em ciência da informação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), o próprio celular limita as possibilidades de acesso. “A facilidade da mobilidade não assegura a qualidade na utilização dos recursos disponíveis on-line. Parece razoável assistir a uma videoaula rápida pelo celular e fazer comentários breves, mas como viabilizar a produção textual mais complexa que exigiria, por exemplo, o acesso a diversas fontes de informação para a construção de um argumento consistente, concomitantemente à participação numa aula ao mesmo tempo pelo celular? É inviável para o estudante”, afirma.

Por outro lado, Daniela diz que é necessário refletir sobre o que define entretenimento e educação, uma vez que é possível aprender brincando e brincar aprendendo: “há crianças e adolescentes que desenvolvem habilidades motoras, científicas, de linguagem e midiáticas enquanto interagem com dispositivos e recursos digitais, como jogos, por exemplo. É um processo semelhante ao da transformação de uma informação em conhecimento, que ocorre por meio da conversão da informação em uma habilidade, uma experiência, um conceito, uma ideia, que são apreendidos pelos indivíduos em um processo que pode ocorrer dentro ou fora da sala de aula, com livros didáticos ou literários, com jogos, brincadeiras e recursos digitais”.

Angela acredita que os profissionais da educação também podem auxiliar nessa questão, mas precisam compreender qual é seu papel na era digital. “Eles passaram a atuar como mediadores da informação mais do que como detentores de um determinado saber. No contexto da pandemia, a manutenção da aula unicamente expositiva, ministrada de quatro a cinco horas, tornou-se inviável. Não há como capturar a atenção dos estudantes apenas transpondo o modelo presencial para o remoto. Com isso, evidenciou-se a necessidade de utilização das tecnologias da informação e comunicação de forma mais estratégica e crítica e não apenas como ferramenta de comunicação”.

No que se refere ao tempo de uso da internet e sua qualidade, Angela afirma que, em se tratando de crianças e adolescentes, há necessidade de monitoramento delas pelos responsáveis. “A internet é, sobretudo, um local onde estamos expostos. E muitas vezes, com o desejo de compartilharmos nossas rotinas e hábitos, podemos fragilizar nossa segurança e a dos nossos familiares. Primar pela privacidade e pela proteção de dados é indispensável para o uso responsável e consciente da rede.”

Daniela explica que para alcançar crescimento pessoal usando a internet, assim como na vida fora dos ambientes virtuais, deve existir o respeito a si mesmo e aos outros: “a ética e a criticidade em relação às próprias atitudes, a atenção ao tempo dedicado a determinadas atividades, de forma a permitir usufruir da convivência com outras pessoas e de uma diversidade maior de estímulos cognitivos, a busca de conteúdos, experiências e atividades que levem ao aprendizado, ao desenvolvimento de habilidades e à ampliação das próprias ideias a partir de novos pontos de vista são alguns aspectos que favorecem o maior aproveitamento das tecnologias digitais”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: Getty images