Como evitar que as crianças sofram nas redes sociais?

Quanto mais expostos na internet, mais os jovens estão sujeitos a haters e críticas, o que pode levar a um desequilíbrio psicológico e até ao suicídio

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Hoje em dia, muitas crianças e adolescentes têm celulares e estão conectados às redes sociais. Mais do que isso, boa parte publica conteúdos como fotos e vídeos que vão de registros da própria rotina a desafios lançados por influenciadores. E aí mora o perigo: com a publicação de conteúdos vem o risco de receber ataques, críticas maldosas e ofensivas, cujo alcance não se limita aos conhecidos do menor de idade.

Segundo uma pesquisa do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgada no fim de 2019, 37% dos jovens brasileiros entre 13 e 24 anos já foram vítimas de cyberbullying nas redes sociais, principalmente no Facebook. As redes, por sua vez, vêm implementando filtros que identificam mensagens ofensivas mandadas ou recebidas e as bloqueiam com base em algumas palavras digitadas ou faladas, assim como outras empresas têm lançado aplicativos com a mesma finalidade.

Consumo da Mente
No dia 3 de agosto, Lucas Santos, de 16 anos, filho da cantora de forró Walkyria Santos, tirou a própria vida em Natal (RN) depois que recebeu críticas a um vídeo que postou no TikTok. Sua mãe se manifestou publicamente contra o “ódio destilado na internet” e usa o episódio para alertar outras famílias.

Reações negativas assim não são “frescura”, como muitos podem pensar. “O adolescente ainda não tem estrutura emocional para lidar com essas críticas, até porque quem está nessa faixa etária já vive uma etapa difícil de adaptações e de mudanças emocionais e físicas”, diz o Pastor Walber Barboza, líder nacional da Força Teen Universal (FTU).

O Pastor explica que “a superexposição nas redes sociais traz muitos danos. Quando se publica algo, há milhões de pessoas que vão criticar, o que gera no adolescente muita insegurança e ansiedade. Se antes ele estava preocupado em agradar aos pais e à família, hoje tem que agradar a milhões de pessoas e também lidar com as críticas delas”.

As redes, segundo o líder da FTU, “roubam tempo e atenção. A criança e o adolescente passam os dias com influenciadores digitais, lendo mensagens e vendo vídeos e recebem uma visão distorcida da estrutura familiar, social e até da pessoal. Quanto mais tempo ele passa nas redes, menos investe no relacionamento real com os parentes, consigo mesmo, com os amigos e com Deus. Ele lê e medita menos na Bíblia e se envolve menos com os assuntos espirituais. O entretenimento e a diversão têm consumido a mente dos jovens”.

Justamente por isso, o Pastor faz um alerta: “para muitos adolescentes, a vida real é a da internet, sem que eles tenham uma vida pessoal de verdade. Para lutar contra isso, os pais devem fazer parte da rotina deles. É muito fácil criticá-los por passarem muito tempo nas redes sociais, mas temos que analisar quanto tempo dedicamos aos nossos filhos. Me refiro ao tempo de qualidade: quando sentamos para fazer algo em família, saímos juntos e lhes ensinamos algo”.

“Terra sem lei”
É difícil controlar os comentários maldosos e agressivos, que na maioria das vezes acontecem longe das vistas dos pais e responsáveis. O psicólogo Yuri Busin, de São Paulo, adverte que “assim como o bullying e os haters devem ser combatidos no meio real, isso também precisa ser feito no mundo virtual. Algumas pessoas acreditam que a internet é uma ‘terra sem lei’, onde elas não têm identidade e não precisam lidar com as consequências. Desde pequenos, todos devem entender que a web é uma ferramenta e não um lugar sem regras”.

Como lidar diretamente contra esse perigo? Busin lembra que muitas vezes o menor de idade não só é vítima, mas também, sem a observação dos responsáveis, podem ser os ofensores. “Ao perceber que o filho pratica ou é vítima de cyberbullying ou de discursos de ódio, ele deve ser orientado para ter empatia e quanto à importância do respeito ao próximo, além de compartilhar com ele a experiência.”

Busin faz outra advertência importante: “ser autoritário demais é ruim, mas dar liberdade demais também é. Se houver equilíbrio, o próprio menor de idade vai entender seu espaço e saber lidar com a privacidade, até que um dia tenha maturidade para administrá-la sozinho. A orientação é que os pais estabeleçam limites que julguem saudáveis. Há aplicativos que bloqueiam não só palavras de ódio que chegam, mas também questionam o usuário quando ele as escreve”.

Gentileza contra o ódio
Uma boa pesquisa na internet pode mostrar qual aplicativo ou site contra o ódio na web é o mais apropriado para ajudar seu filho. O Unicef indica o site da Safernet (new.safernet.org.br/helpline), pelo qual pais e filhos podem se informar com especialistas sobre as providências a tomar contra a agressão na rede.

Além disso, o Unicef faz um alerta em sua página oficial: “a primeira linha de defesa contra o cyberbullying pode ser você. Pense onde ele acontece na sua comunidade e nas maneiras como você pode ajudar – seja levantando sua voz, conversando com um adulto confiável ou criando consciência sobre o problema. Até mesmo o menor ato de gentileza pode gerar um
grande impacto”.

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Colaborador

Marcelo Rangel - Foto: Getty Images