Convite de aniversário tema moto

A insatisfação com a própria imagem e com a vida ultrapassa a internet e alcança o "mundo real"

Imagem de capa - Convite de aniversário tema moto

Não é novidade que muita gente use recursos digitais de manipulação de fotos para tentar melhorar a própria imagem em mídias sociais e afins. Mas isso está ganhando contornos mais perigosos: cresceu o número de pessoas que recorrem até a cirurgias plásticas para se parecerem mais com suas selfies “filtradas”, principalmente entre os jovens.

Essa “turbinada” no visual tem saído do limite do saudável. Não há nada de errado em manter a boa aparência, se cuidar, mas de forma racional. Contudo, em alguns casos, tantas mudanças na própria “imagem virtual” mostram grande insatisfação consigo mesmo, em uma comparação constante com padrões impostos, por mais que campanhas de autoaceitação sejam realizadas. É um perigo social. Tanto que, na Noruega, uma lei recente exige que influenciadores digitais informem se e como suas fotos postadas foram editadas.

Dismorfia do Snapchat
Antigamente, a foto devia se parecer com a pessoa. Hoje, a pessoa quer se parecer com a foto. Nesses tempos de valores invertidos, aumentou muito o número de pacientes que se submetem a cirurgias plásticas para se aproximarem das imagens geradas pelos filtros digitais. Isso já é classificado como distúrbio psicológico, que os especialistas chamam de “Dismorfia do Snapchat”.

Essa prática tem crescido tanto que gerou um estudo feito pela Universidade de Boston (EUA), em que os pesquisadores consideraram que “trata-se de uma tendência alarmante, pois essas selfies com filtros, frequentemente, mostram uma aparência inatingível e estão apagando a linha entre realidade e fantasia desses pacientes”.

A Academia Americana de Cirurgia Facial Plástica e Reconstrutiva divulgou que, em 2018, 55% dos cirurgiões plásticos dos Estados Unidos atenderam pacientes pedindo procedimentos para se parecerem com suas selfies – quando nem atores e modelos profissionais costumam ser como suas fotos “produzidas”. Segundo os estudiosos de Boston, “já não são só celebridades divulgando padrões de beleza, mas também colegas e amigos”.

No Brasil os dados são ainda mais alarmantes. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o País é o líder mundial em procedimentos estéticos. E, principalmente entre os jovens, as mudanças no nariz, nas orelhas e nos seios são as mais procuradas. Não por acaso, partes do corpo que têm grande destaque nas fotos para internet.

Cura interior
Ao contrário do que muitos pensam, a insatisfação não vai diminuir quando a autoimagem se parecer mais com um filtro de aplicativo. A satisfação buscada só pode ser alcançada quando a pessoa se cura da dependência de aprovação alheia. A insatisfação que gera tanta vontade de ter a “foto perfeita” existe, justamente, porque a pessoa acredita no que a sociedade define como “perfeito”. Mas quem dá importância demais à opinião de outras pessoas se importa menos com a de Deus. Já quem está em real comunhão com Ele não se deixa levar por padrões impostos pelo mundo e sabe o que realmente importa, afinal, “criou Deus o homem à sua imagem” (Gênesis 1.27). E essa definição é bem mais profunda do que mostra o espelho ou uma foto. “Visto que foste precioso aos meus olhos, também foste honrado, e Eu te amei”, diz o Altíssimo na passagem em Isaías 43.4, mostrando que a sintonia com a Vontade dEle vale mais do que a definição de beleza que o mundo impõe.

De acordo com a concepção antropológica judaicocristã, uma pessoa é alguém que tomou posse de si mesma, que tem identidade e a reconhece, e não alguém que se deixa levar por outras, sem personalidade. Vale para ela o que vale para Deus. Esse, sim, é o verdadeiro filtro pelo qual alguém pode enxergar a si e aos outros – por mais que Ele mostre a realidade “não maquiada”. O nome disso? Amor-próprio.

O verdadeiro.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty images