Corrupção: contagiosa e perigosa

Estudos revelam que a ação antiética de um indivíduo pode levar pessoas próximas a serem desonestas

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Ao ler um jornal impresso, assistir a um programa de TV ou ao acessar matérias na internet, você notará que há sempre um assunto que ocupa o espaço noticioso: corrupção. Infelizmente, isso é algo enraizado no dia a dia do brasileiro. Prova disso é que o cidadão “comum”, que não tem envolvimento com falcatruas políticas ou fraudes financeiras, sempre acha que a ausência de ética nas atitudes diárias são normais e até perdoáveis.

Não. Elas não são. Um suborno a um fiscal de trânsito aqui e uma “caixinha extra” ao garçom acolá para não ficar na fila do restaurante parecem coisinhas pequenas, mas refletem um problema grande de falta de honestidade.

E isso não diz respeito só ao dinheiro, pois também entram nessa roda a cola na prova, aquela velha chantagem emocional para manipular o cônjuge ou o doping para tirar vantagem nas competições esportivas.

Por que a corrupção parece tão aceita pela sociedade na prática, embora, na teoria, ela seja sempre combatida por todos? Segundo pesquisas realizadas por universidades como a Ben-Gurion, de Israel, a de Nottingham, na Inglaterra, a Deakin, na Austrália, e Harvard, nos Estados Unidos, atos desonestos são contagiosos. É aquela velha questão de quem se justifica: “ah, todo mundo faz, eu também vou fazer.”

A equipe de Harvard, por exemplo, observou que, quando um membro de certo grupo trapaceia (em prol dele mesmo ou do grupo), os parceiros tendem a agir da mesma forma. Só que, ao observar um estranho ou adversário fazendo a mesma coisa, o efeito é contrário. Isso reforça o que falamos anteriormente: os corruptos são só os outros – mesmo que façamos a mesma coisa. Não adianta considerar as falhas dos outros e não reconhecer os próprios erros.

Competição

A equipe de Deakin notou que, em ambientes competitivos, as pessoas tendem a pensar em mais maneiras antiéticas de tirar vantagem. A cola na prova e o doping no esporte são alguns exemplos. Todo mundo quer um lugar alto no pódio, mas não são todos os atletas que suam e dedicam tempo e disciplina para estar nele merecidamente.

Contudo, os australianos também concluíram que não só a competitividade causa ações desse tipo. Muitas vezes, segundo eles, o indivíduo frauda só por isso ser uma opção bem atraente para quem é mau-caráter mesmo ou preguiçoso, como o aluno que não é lá muito chegado no estudo e quer nota boa.

A escolha é sua

Não é preciso ser um cientista de uma renomada universidade para concluir que, se a desonestidade parece atraente e sedutora, também não faltam bons exemplos de gente honesta, respeitadora e respeitável. Tanto de indivíduos quanto de grupos. Por que, então, isso parece não atrair tanto quanto as inspirações do mal?

Pode ser tudo uma questão de escolha, de saber de que lado você quer estar. Em práticas desonestas pequenas ou grandes, quem as escolhe é nada menos que alguém cujo caráter merece uma revisão completa. Para quem já está nessa ode de “todo mundo faz, então, eu também posso”, para agir como ladrão e prejudicar quem luta honestamente, sempre há tempo para repensar esses passos.

Há outra coisa que também pode ser “contagiosa”, mas de um modo bom: o arrependimento. Muitos que o tiveram de forma verdadeira conseguiram inspirar outras pessoas que “acordaram” da lama em que estavam se metendo.

Mantenha-se sempre consciente das suas escolhas. E não se esqueça de que a corrupção, seja ela pequena, seja grande, será sempre corrupção.

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Colaborador

Por Marcelo Rangel / Fotos: Fotolia