Crise para alguns, oportunidade para outros
A pandemia do novo coronavírus pode ter um aspecto positivo para o trabalhador?
A crise com a pandemia do novo coronavírus tem transformado drasticamente a vidas de todos. Mesmo os que não contraem a doença provocada pelo vírus também sofrem consequências deste cenário. Um dos exemplos é o mercado de trabalho. Cerca de 1,25 bilhão de pessoas, quase 38% da força de trabalho no planeta, que está empregada em áreas intensamente abaladas pela paralisação das atividades, pode perder seu emprego nos próximos meses, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Para piorar, a Oxfam, entidade da sociedade civil que atua em cerca de 90 países com programas de ajuda humanitária, afirma que a crise do novo coronavírus pode levar mais de 500 milhões de pessoas à pobreza. No Brasil, os reflexos das paralisações das atividades profissionais já são sentidos. Um levantamento realizado pelo BTG Pactual e a FSB Pesquisa, divulgado no início de abril, mostrou que 11% da população brasileira perdeu o emprego, o que equivale a 23,1 milhões de trabalhadores fora do mercado de trabalho.
Se, por um lado, a pandemia tem como efeitos o aumento do desemprego e a redução de salários de milhares de pessoas, por outro parece que também está abrindo ofertas em diversas áreas profissionais. O maior exemplo é o setor de saúde, o que mais abriu vagas durante a atual crise. Postos de trabalho surgiram em hospitais, empresas farmacêuticas e também em drogarias.
Em entrevista à BBC Brasil, Augusto Schaffer, fundador do RioVagas, site que recebe cerca de 4 milhões de visitas por mês e anuncia principalmente vagas operacionais em pequenas e médias empresas no Estado do Rio de Janeiro, disse que está surpreso com o segmento de farmácias, que tem contratado tanto farmacêuticos quanto atendentes. Para algumas vagas, houve elevação de 700% de ofertas.
Mas não foi apenas a área da saúde que cresceu. Com o aumento de pessoas que passaram a cozinhar e a comer em casa, o setor de supermercados teve ampliação em suas demandas e o resultado também foi a abertura de vagas.
Uma grande rede de supermercados, por exemplo, anunciou 5 mil postos de trabalho, com vagas para açougueiros, operadores de centros de distribuição, auxiliares de perecíveis, agentes de prevenção, recepcionistas de caixa e vendedores de eletrodomésticos, entre outros. A oferta para trabalhos via internet também cresceu. Pequenos empresários estão procurando profissionais de vendas para “market places” para poder anunciar seus produtos. As funções de vendedor, consultor de vendas e representante comercial estão entre as principais ofertas em regime de home office. Elas cresceram 387%, de forma geral, na comparação de março com janeiro.
Schaffer disse ainda que, apesar de existir muita procura por emprego nesse período, os trabalhadores não devem desanimar, já que o varejo de alimentos segue aquecido. Ele destacou também como promissoras a área de logística, com motoristas de caminhão e outras funções ligadas à movimentação de carga, e as empresas de contabilidade e do setor financeiro, que podem atuar com as demais em um contexto de recessão.