Cuidado com a castração verbal
O que um homem diz afeta o próximo mais do que ele imagina
Muitos homens não têm noção da importância das palavras que saem de suas bocas quando algo é dito à mulher amada, aos filhos, aos funcionários ou a qualquer ente querido. Uma única frase dita até mesmo sem má intenção pode afetar o futuro de alguém. Ela também pode minar um relacionamento: gerar uma frustração que colocará tudo a perder, mesmo que a longo prazo, com muito sofrimento até que chegue ao fim. Parece dramático? Mas não é.
No filme À Procura da Felicidade, de 2006, o ator norte-americano Will Smith interpreta Chris Gardner, um ex-vendedor em crise que se vê obrigado a criar sozinho seu filho de 5 anos. Em uma cena, ele e o menino (também seu filho na vida real) estão brincando em uma quadra de basquete. Quando o menino tenta um arremesso ousado, Gardner lhe diz: “isso não é para você”.
O garotinho, até então feliz por um raro momento de prazer, deixa a bola cair, completamente desanimado pelo que acabou de ouvir.
Então, o pai sente o grande peso do que acabou de dizer. Arrependido, ele diz ao menino: “nunca deixe que alguém diga que você não pode fazer algo. Nem mesmo eu. Se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas que não podem fazer alguma coisa vão dizer que você também não consegue. Se quer alguma coisa, vá e lute por ela. Ponto final.”
A cena é um clichê (bastante comum) – mas verdadeiro – quando o assunto é a castração verbal, que foi exatamente o que Gardner fez com o filho. Ele matou na criança os primeiros passos de uma iniciativa. E o que ele fez com o menino não é algo fora da realidade.
Quantas vezes um pai, um amigo, um professor ou outra figura masculina importante na sua vida também não lhe disse que algo não estava ao seu alcance e alegou que fazia isso “para o seu bem”? Pior: quantas vezes você também não fez o mesmo?
Não é raro um marido dizer à esposa que nunca conhecerão um lugar dos sonhos em uma viagem ou encher de elogios uma mulher bonita que aparece na TV mas não fazer o mesmo à sua esposa, inclusive quando ela capricha no visual.
Ficar indiferente a um colaborador no trabalho, querendo se mostrar superior, não vai dar a ele a vontade de ser o funcionário do mês ou de ultrapassar as metas. Essa é apenas uma atitude típica do chefe que tem problemas de autoestima.
Também não é raro um homem felicitar um sobrinho que voltou de um intercâmbio na América do Norte, mas dizer ao próprio filho: “isso não é para a nossa família, não é nossa realidade”. Em vez de induzir o filho ao fracasso, o pai pode inscrevê-lo em um curso de inglês ou incentivá-lo a dominar o idioma com músicas, filmes e séries para que a fome de aprender – típica nas crianças – siga seu caminho.
Outra situação: alguns jogam os defeitos na cara dos rebentos. Felizmente, alguns filhos não só atingem como superam as expectativas, mas antes disso têm de lutar com os traumas que o pai plantou em suas cabeças ainda na infância.