Cuidado com a violência gratuita

É possível evitar situações agressivas que podem ser até fatais?

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Casos de violência gratuita são cada vez mais frequentes no Brasil. Em março, no Rio de Janeiro (RJ), um policial militar baleou um entregador na perna depois que ele se recusou a subir até o seu apartamento para levar o lanche. Mais recentemente, um homem de 77 anos morreu em Santos, cidade do litoral sul de São Paulo, depois de levar uma “voadora” no peito de um motorista, que, instantes antes, quase tinha atropelado o idoso e seu neto de 11 anos. Na capital paulista, um dono de bar foi morto por um cliente com golpes de canivete ao defender uma funcionária de assédio. Em Bauru, interior de São Paulo, um motorista atirou contra um carro após uma briga de trânsito. Há razão para tanta violência? É possível se defender e evitar essas situações?

Para Danilo Suassuna, doutor em psicologia e diretor do Instituto Suassuna, em Goiânia (GO), instituição educacional de pós-graduação e que presta atendimento de baixo custo para pessoas de baixa renda para tratamentos, os casos de violência têm aumentado porque as pessoas estão mais nervosas. “Nós esquecemos que somos humanos e que temos um lado animal e, como estamos muito diante das telas hoje em dia, como TV, computador, celular, sentimos falta de um lugar para extravasar a agressividade e ficamos à flor da pele”, diz.

Segundo ele, saber colocar a agressividade para fora na hora e no local certos pode ajudar a evitar episódios de violência. “Quando eu assumo minha agressividade, por exemplo, vou à academia e coloco tudo para fora. Eu posso ficar bravo, posso subir num ringue de boxe e bater em outra pessoa e isso é legitimado pela relação estabelecida ali. O problema é que não estamos nos permitindo colocar a agressividade para fora no lugar correto.”

Muitas situações de violência gratuita acontecem no trânsito. “As pessoas estão tão estressadas com o trabalho e com a vida que estão começando a usar o estresse, a raiva e a ansiedade no trânsito descontando no carro. Você as vê entrarem no carro como se fossem competir com o vizinho e elas começam a ter comportamentos de risco e a dirigir em alta velocidade. Há casos em que há o consumo de drogas e álcool, o que potencializa a agressividade. Em busca de colocar o estresse para fora, elas colocam em risco a vida delas e a do outro”, analisa.
Contudo as situações de violência acontecem em outros contextos. “Muitas vezes, colocamos o nosso sentimento de raiva e frustração em alguma pessoa que não deveria ser o alvo. Por isso, temos muita briga familiar. Às vezes, o marido desconta na esposa ou nos filhos algo que estava sentindo em relação ao vizinho, ao trabalho ou a uma escolha errada que fez”, exemplifica.

Sem absolver ninguém, Suassuna avalia que muitos acabam perdendo o controle. “Temos uma parte do nosso cérebro que se chama sistema inibitório. Quando um pai estabelece um limite para uma criança e fala ‘não faça isso’, essa ação está trabalhando o sistema inibitório dela, responsável pela tomada de decisão e controles, como do impulso, do planejamento do que a gente vai fazer, de algo fundamental para inibir esses comportamentos que são inadequados e impulsivos. Há quem não tenha isso muito claro”, observa.

Para quem já tem histórico de envolvimento em episódios violentos, ele recomenda tratamento: “a primeira coisa é não se expor a tipos de relações que farão você explodir. E se perguntar qual é a sua válvula de escape e onde você consegue colocar esse comportamento para fora? Os primeiros passos são o autocontrole e buscar apoio em uma terapia. Eu sou muito a favor da terapia e da atividade física, pois precisamos colocar isso para fora”, reitera.

Na opinião dele, infelizmente, não somos treinados para ter uma comunicação muito eficaz quando nos vemos envolvidos em situações de violência. “Vale tentar desacelerar a situação usando uma linguagem corporal diferente e uma linguagem verbal não ameaçadora e até ficar em silêncio. Isso não significa aceitar a agressividade do outro, mas tentar desviá-la e entender que ele está num processo de ebulição interna e achou uma pessoa para descarregar uma coisa que muitas vezes não tem nada a ver com ela”, orienta.

De acordo com Suassuna, outras atitudes também precisam ser tomadas para tentar diminuir a violência gratuita. “É preciso escutar mais e falar menos. Podemos resolver mais problemas se começarmos a nos escutar. Deixe a pessoa falar até o fim, não precisa concordar nem querer mudar o outro, pois as pessoas são diferentes. Temos que passar para um momento de mais escuta do outro e aí vamos conseguir viver em uma sociedade um pouco mais harmônica”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: DjelicS/getty images e guruXOOX/getty images