Cuidado com o deepfake

Manipulação de vídeos e áudios se tornam mais comuns em épocas de eleição para confundir o eleitor

Imagem de capa - Cuidado com o deepfake

Há várias formas de fazer o tão falado deepfake. A mais conhecida é pôr o rosto de uma pessoa em outro corpo, “falsificando” a presença dela e fazendo-a dizer coisas que, na verdade, ela não disse, e simular também sua voz.

Outra é editar falas de alguém para “montar” um diálogo ou discurso completamente fora de contexto com a fala original (o chamado audiofake). A mais antiga, porém, talvez seja modificar fotos para incluir ou suprimir a presença de pessoas ou objetos.

O termo deepfake vem da junção de deep learning (aprendizado profundo, no jargão da internet) com fake (falso), ou seja, uma falsificação profunda de um vídeo com auxílio da tecnologia que ultimamente tem impressionado pela qualidade e suscitado mais e mais polêmicas.

Há quem faça o deepfake para fins pacíficos, como nos efeitos especiais em filmes ou com objetivo humorístico. Por exemplo, atores ganham uma “rejuvenescida”: seus rostos de outrora são colocados em corpos de outros atores mais jovens, como é bem comum nos filmes de super-heróis.

Manipulação política
Contudo nem sempre a intenção de quem falsifica as imagens é boa. Personalidades são colocadas em cenas pornográficas ou aparecem em vídeos fazendo ou dizendo coisas que nunca fizeram nem disseram – caso recente de um vídeo em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anuncia a rendição à Rússia.

Se antes eram necessários recursos sofisticados e caros para fazer o deepfake, o acesso cada vez mais fácil à tecnologia “democratizou” essa prática, que pode ser realizada em computadores domésticos ou com telefones celulares de última geração. Como “a culpa do crime nunca é da faca”, se o deepfake fica restrito só ao campo do humor abertamente declarado ou se é feito para prejudicar alguém, depende da vontade do realizador.

Em um vídeo recente, o cineasta e ator norte-americano Jordan Peele demonstrou como falas suas foram propositalmente colocadas em uma imagem do ex-presidente Barack Obama, com sofisticados movimentos de rosto e simulação de voz do político, para alertar o público sobre os perigos do deepfake e a necessidade de questionar o que se vê e se ouve, não aceitando e compartilhando sem senso crítico qualquer coisa a que se tenha acesso.

Em tempos de importantes eleições, como o que atravessamos agora, a atenção deve ser redobrada. Já apareceram políticos brasileiros em cenas falsas de pornografia e em um deepfake mais recente o rosto do presidente Jair Bolsonaro foi inserido em uma cena do filme Esqueceram de Mim, no corpo do ator Joe Pesci, que faz um vilão na trama. O primeiro deepfake foi feito para prejudicar uma candidatura, enquanto o segundo foi em tom de desrespeitosa crítica.

Redes sociais como o Facebook e o Twitter proíbem a publicação de deepfakes em suas plataformas desde 2020, exceto se forem em tom humorístico ou satírico e declaradamente falsos, para não confundir o usuário com menos senso crítico.

É necessário prestar muita atenção para não ser vítima de “cabos eleitorais” mal-intencionados que colocam candidatos em situações em que nunca estiveram só para confundir o eleitor. Como o deepfake está a cada dia mais sofisticado e acessível, instituições como a Universidade de Sydney, na Austrália, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, divulgaram dicas para o internauta não cair facilmente nas falsificações digitais (veja quadro). O segredo, como sempre, está nos detalhes, como falta de sombras e movimentos “robóticos”, além de falas “quebradas” e outros.

O MIT levantou que há cerca de 15 mil deepfakes circulando na internet atualmente. Já os pesquisadores de Sydney concluíram que, em uma primeira exibição e sem uma análise mais detalhada, o cérebro humano tem só 54% de capacidade de distinguir entre um deepfake e um vídeo verdadeiro.

De fato, os vídeos falsos ganham cada vez mais qualidade, o que dificulta a distinção. Em uma época tão polarizada e agressiva politicamente falando, é fundamental redobrar a atenção quanto a nova modalidade de fake news para confundir nossas opiniões e intenções de voto. O simples “ver para crer” já não vale tanto quanto antes. É necessário fazer uma análise mais cuidadosa.

Dicas para identificar um deepfake em vídeos

Evite conclusões precipitadas – Não ceda ao impulso de acreditar e compartilhar um vídeo ou áudio polêmicos sem informações adicionais ou confirmação. Espere a divulgação de outras informações na mídia sobre o tema.

Analise a fonte – Quem lhe enviou o material? Onde ele surgiu pela primeira vez? Apareceu em um site confiável? Outros sites já o veicularam ou questionaram? Nunca acredite à primeira vista.

Atenção à boca – Em um vídeo de deepfake, nem sempre os movimentos da boca coincidem com as palavras ditas, além de algumas ferramentas terem dificuldade de “desenhar” os dentes com precisão (com as linhas entre eles corretamente delimitadas, por exemplo), bem como a língua e o interior da boca, em imagens mais próximas. Veja se o tamanho e a cor dos lábios (se aparecerem sem batom) condizem com o rosto.

Desacelere o vídeo – Dessa forma, fica mais fácil ver falhas na transição de um quadro para outro, o que indica manipulação.

Atenção ao olhar – Em um deepfake, nem sempre os olhos se movimentam de maneira natural ou apresentam reflexos das luzes em volta. Em alguns deepfakes, a pessoa nem pisca ou o faz excessivamente e sem naturalidade.

Sombras – Em vídeos ou fotos manipulados, nem sempre o sombreamento da pessoa ou de objetos corresponde à incidência de luz à sua volta – ou nem existe.

Atenção ao rosto – Além dos já citados boca e olhos, outros detalhes merecem mais atenção. A testa parece muito lisa ou muito enrugada? O envelhecimento da pele condiz com outras partes do corpo exibidas ou com os cabelos? As sobrancelhas se movimentam de acordo com a expressão? Pelos faciais parecem naturais? Vale analisar detalhes como manchas da pele, pintas, verrugas, tatuagens, etc.

Reflexos – O brilho é excessivo ou totalmente ausente nas lentes? O ângulo do brilho segue o movimento da pessoa?

Fontes: MIT e Universidade de Sydney

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Redação / Fotos: getty images e reprodução